Bolsa reage ao coronavírus e cai 7%, na pior queda em pontos da história

Ibovespa se ajusta a mercado externo após feriado, e dólar vai a R$ 4,45, novo recorde nominal

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A Bolsa brasileira teve um dia de forte queda após o feriado de Carnaval. Terminou a quarta-feira de Cinzas (26) com queda de 7%, a 105.718 pontos, menor patamar desde outubro.

Em pontos, a desvalorização de 7.963 pontos foi a pior da história, superando o chamado Joesley Day, em 18 maio de 2017. Na ocasião, a Bolsa caiu 8,8% e perdeu 5.943 pontos após divulgação de uma gravação comprometedora entre o então presidente Michel Temer (MDB) e o empresário Joesley Batista.

A desvalorização histórica reflete as fortes quedas dos mercados globais nos últimos dias, devido ao aumento de casos do coronavírus fora da China, especialmente na região mais industrializada da Itália.

Operador da Bolsa de Nova York analisa painel
Bolsa cai 7% em volta de feriado - Xinhua/Guo Peiran

Com o avanço da doença em importantes polos industriais e financeiros, aumenta a percepção de que o crescimento da economia global pode ser menor que o esperado. 

Em reflexo, a cotação do dólar fechou em alta de 1,3%, a R$ 4,45, novo recorde nominal (sem considerar a inflação). A pressão foi contida pelo BC (Banco Central). Na sessão, o real foi a moeda que mais se desvalorizou dentre as principais divisas.

Meia hora após a abertura das negociações, o Ibovespa registrava retração era de 5% com R$ 3,3 bilhões negociados nos 30 primeiros minutos do pregão, volume acima da média. Ao final do dia, o giro financeiro foi de R$ 33 bilhões, R$ 8 bilhões a mais que a média diária para o ano.

A queda nesta quarta refletiu a retração, registrada entre segunda (24) e terça (25), de 6,4% do fundo de índice que replica o Ibovespa em dólar (iShares MSCI Brazil) na Bolsa de Nova York. As negociações brasileiras permaneceram paralisadas pelo feriado de Carnaval nesses dois dias. 

As operações com ADRs (recibos de ações nos EUA) também foram afetadas no feriado. Os ADRs de Petrobras e Vale negociados em Nova York caíram 8,8% e 10%, respectivamente. Os da Gerdau acumularam queda de 8,6%, e os do Bradesco, de 5%. Nesta quarta, os ADRs da Petrobras caíram mais 2% e os da Vale, 1,3%. O iShares MSCI Brazil caiu 1,4%. 

Na Bolsa brasileira, as ações preferenciais da Petrobras (mais negociadas) despencaram 10%, a R$ 26,21. As ordinárias (com direito ao voto) recuaram 9,95%, a R$ 27,78.

Vale caiu 9,5%, a R$ 45,35 e Gerdau, 10,5%, a R$ 17,10. Ações ordinárias do Bradesco caíram 7,3%, a R$ 27,22. 

As maiores quedas são de companhias aéreas, que estão entre os setores mais afetados. Para evitar o contágio, pessoas adiam ou cancelam viagens. As ações da Gol despencaram 14,3%, a R$ 28,98. As da Azul, 13,3%, a R$ 48,25.

Na terça (25), foi confirmado ainda o primeiro caso de contágio pelo coronavírus no Brasil. "O problema chegou mais perto da gente, o que deixa todo mundo mais alarmado. O primeiro trimestre da China está comprometido e certamente vai haver um impacto do coronavírus na economia brasileira, mas ele ainda é difícil de mensurar", afirma Eduardo Cavalheiro, gestor na Rio Verde Investimentos.

Cavalheiro, porém, não fez mudanças no fundo da gestora (Rio Verde Small Caps FIA). 

"Não tendemos a agir logo no primeiro momento. Não dá para saber o quanto as coisas vão piorar. Precisamos esperar para poder analisar melhor, nosso fundo olha o longo prazo. De três a cinco anos."

Betina Roxo, analista da XP, também afirma que o coronavírus não muda os fundamentos de boas empresas a médio e longo prazo. "Ainda estamos em um momento de incerteza sobre quais serão os impactos. Pode ser que o mercado continue volátil no curto prazo, mas, no longo prazo, o cenário para a Bolsa é favorável".

Para conter a alta do dólar, o Banco Central (BC) anunciou leilão extraordinário de 10 mil contratos de swap cambial nesta quarta, que totalizam US$ 500 milhões. Na quinta (26) serão ofertados 20 mil contratos das 9h30 às 9h40, que equivalem a US$ 1 bilhão.

A operação promove alta na oferta da moeda, já que o BC oferece contratos que remuneram o investidor pela variação cambial, o que ajuda a reduzir o preço do dólar.

No exterior, após dois dias de quedas, as Bolsas tiveram movimentos mais amenos. Nos Estados Unidos, Dow Jones caiu 0,46% e S&P 500, 0,4%. Nasdaq teve alta de 0,2%. O índice Stoxx 50, que reúne as maiores empresas da Europa, fechou em leve alta de 0,14%.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.