Menos poluente, petróleo do pré-sal chega a ser vendido mais caro que Brent

Novas regras para reduzir emissões no transporte marítimo valorizam matéria-prima brasileira

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Rio de Janeiro

Novas regras para reduzir as emissões de enxofre no transporte marítimo vêm impulsionando o valor do petróleo brasileiro no mercado internacional, que já é vendido praticamente sem desconto em relação ao Brent, referência mundial.

A valorização do petróleo do pré-sal é apontada pela Petrobras como um dos fatores que contribuíram para o lucro recorde de R$ 40,1 bilhões em 2019. O resultado teve forte impacto também da venda de ativos, como gasodutos e ações da BR Distribuidora.

O óleo do pré-sal tem baixo teor de enxofre, o que o torna adequado para produzir combustível de navegação dentro das novas especificações contra a poluição da IMO (sigla em inglês para Organização Marítima Internacional).

As novas restrições entraram em vigor este ano, mas a Petrobras já vem sentido os efeitos desde o quarto trimestre, quando vendeu sua produção, em média a US$ 63 por barril, só US$ 0,25 abaixo da cotação média do Brent.

No primeiro trimestre, a diferença era de US$ 4,15 por barril. Durante os últimos meses de 2019, a Petrobras chegou a vender cargas do petróleo de Lula, o maior campo do pré-sal, com prêmio de US$ 4 acima do Brent.

“A comercialização do petróleo do pré-sal tem sido beneficiada pela demanda por petróleo de baixo teor de enxofre”, disse a diretora de Refino e Gás da estatal, Anelise Lara, em entrevista para comentar o balanço nesta quinta.

O campo de Lula é responsável hoje por um terço da produção nacional. Com o crescimento dos volumes produzidos, a Petrobras ampliou em 25% suas exportações de petróleo em 2019, para 536 mil barris por dia. A China ficou com 71% desse volume.

Em setembro, a consultoria Argus lançou um indicador de cotações para o petróleo de Lula, com base nos contratos de entrega no porto de Shandong, por onde entra cerca de um terço das importações chinesas de petróleo.

Na brochura de lançamento do produto, a Argus via o petróleo Lula com prêmio superior a US$ 4 por barril em junho de 2018. O cálculo de prêmio da Petrobras, porém, considera também o custo do frete, que esteve em torno de US$ 3 por barril em 2019.

A Petrobras diz que os riscos de contaminação da economia mundial pelo coronavírus reduziram os preços dos combustíveis marítimos e, consequentemente, a demanda pelo petróleo com menos enxofre.

Mas a empresa tem também produzido mais combustível marítimo no Brasil. Em 2019, disse Lara, chegou a “degradar” óleo diesel, um produto mais nobre, porque os preços do combustível de navegação estavam melhores.

Com isso, ampliou o nível de utilização de suas refinarias de 76%, na média de 2019, para 80% em janeiro. Nesta quinta (20), ela defendeu a política de manter altos níveis de ociosidade nas refinarias.

A estratégia é criticada por sindicatos ligados à empresa. Segundo eles, a Petrobras abre espaço para importações de produtos refinados para exportar petróleo cru. Em 2019, produtos importados abasteceram 17% do mercado de gasolina e 25% do de diesel.

A diretora da Petrobras diz que a operação do parque de refino é definida com base nas condições de demanda e na cesta de produtos que as refinarias da empresa conseguem produzir.

“Não adianta ter fator de utilização de 95% e produzir derivados que são mais baratos do que o petróleo cru”, afirmou. A capacidade, porém, foi ampliada no quarto trimestre para atender à maior demanda do transporte marítimo.

O presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco, argumentou que o ano de maior utilização de refinarias no Brasil, 2013, foi também o ano de maior prejuízo da área de refino da estatal.

“A empresa jogou fora US$ 40 bilhões e teve que aumentar seu endividamento”, disse. “Em vez de dar remuneração ao acionista, e o maior acionista é o estado brasileiro, ficou dando dinheiro a banqueiro.”

O lucro recorde, com redução do endividamento, foi bem recebido pelo mercado financeiro. “Foi um ano robusto, com números fortes na área de exploração e produção”, disse o analista do BB Investimentos Daniel Cobucci.

Sindicatos dos empregados da companhia, por outro lado, criticaram o resultado, por ter sido impulsionado pela venda de ativos da estatal.

Ligado à FUP, o Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis Zé Eduardo Dutra) criticou a estratégia de concentrar esforços na exploração e produção e reduzir presença no refino e distribuição. “Esse movimento corre um risco mais grave de tornar as receitas mais suscetíveis às oscilações internacionais do petróleo”, disse o coordenador do Ineep, Rodrigo Leão.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.