Mesmo com medidas do governo, empréstimos às empresas caem pelo terceiro mês seguido

Bancos emprestaram R$ 322 bilhões em junho, alta de 2,5% em relação a maio; para pessoas jurídicas, no entanto, houve redução de 2,4%

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Brasília

Os bancos emprestaram R$ 322 bilhões em junho, alta de 2,5% em relação a maio. Para empresas, no entanto, houve redução de 2,4% nos novos créditos, apesar das medidas do Banco Central e do governo para destravar crédito para pessoas jurídicas.

Segundo dados do Banco Central divulgados nesta quarta-feira (29), a alta foi puxada pelos empréstimos às famílias, com aumento de 10,4%.

É o terceiro mês consecutivo com redução do fluxo de novos empréstimos às empresas.

Cédulas de real
Bancos emprestaram R$ 322 bilhões em junho, alta de 2,5% em relação a maio. Para empresas, no entanto, houve redução de 2,4% nos novos créditos, apesar das medidas de incentivo do Banco Central e do governo - Gabriel Cabral/Folhapress

A variação foi registrada na série com ajuste sazonal, que retira peculiaridades do período, como número de dias úteis a mais ou a menos, para facilitar a comparação.

"Em março, no início da crise, muitas empresas tomaram empréstimos para fazerem frente às dificuldades, então a base cresceu e influenciou a média do primeiro semestre", justificou o chefe do departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha.

A liberação de linhas que foram mais procuradas no início da crise despencaram no mês, como capital de giro de curto prazo (-25,2%). Financiamento de exportações também teve queda drástica, de 63,7%.

Já modalidades que foram mais afetadas com as medidas de isolamento social, implementadas por conta da pandemia do novo coronavírus, como antecipação de recebíveis e desconto de duplicatas, aumentaram em 34,6% e 21,1%, respectivamente.

O aumento reflete a abertura dos comércios em algumas cidades. Essas modalidades dependem de vendas para gerar garantia e com os empreendimentos fechados, a concessão dessas linhas despencou entre março e maio.

Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, os aumentos em concessões de linhas ligadas ao varejo pode não indicar retomada.

"Muitos estabelecimentos fazem desconto de duplicata futura, o que pode não refletir ainda um processo de retorno, mas que as empresas estão esgotando os meios de sustentação para garantir o funcionamento corrente, o que é natural", ponderou.

No crédito livre (a taxas de mercado), a queda foi para empresas 0,7% em junho e de 17,9% no trimestre. Mesmo no direcionado (com subsídio do governo), houve redução de 10,5%, embora tenha crescido mais de 40% no trimestre.

Para as famílias, modalidades ligadas ao consumo também aumentaram. O total concedido em cartão de crédito à vista —quando o valor total da fatura é pago— subiu 13,8%.

No mês, os brasileiros usaram 10,1% a mais o cheque especial em relação a maio. A contratação de crédito pessoal também aumentou em 13,3%. O consignado (com desconto em folha de pagamento) saltou 12,5%.

O estoque de crédito fechou o mês R$ 3,6 trilhões, 0,8% maior que em maio.

A taxa média de juros em junho alcançou 19,3% ao ano, queda de 1,2 ponto percentual no mês. O spread —diferença entre a taxa que os bancos pagam para captar recursos e a taxa cobrada em empréstimos— caiu 0,9 ponto.

Para as famílias, a taxa média de juros ficou em 40,7% ao ano, declínio de 2,2 pontos no mês.

Modalidades mais caras puxaram essa queda. Cartão de crédito parcelado teve redução de 19,7 pontos, rotativo regular (quando o cliente paga algum valor entre o mínimo e o total da fatura), de 6,9 pontos e cheque especial de 5,9 pontos.

"Observamos nas taxas de juros uma queda de fato. Ou seja, os bancos cortaram juros. No cartão de crédito de pessoa física, especificamente, observamos essa redução também por efeito composição, com o aumento no volume do à vista", explicou Rocha.

Efeito composição é quando uma taxa sofre variação porque há maior volume em uma determinada modalidade ou perfil, o que puxa a média para baixo ou para cima, não porque houve corte ou aumento de fato.

Nas linhas para empresas, a taxa média de juros diminuiu 1,2 ponto percentual em junho, para 13% ao ano.

A inadimplência caiu 0,3 ponto percentual e retornou ao patamar de junho do ano passado, de 2,9%.

Entre as famílias, a inadimplência ficou em 3,6% (-0,4 p.p.) em composição de dívidas (quando há renegociação) recuou 2,1 pontos percentuais no mês.

O movimento pode ser explicado pela prorrogação de parcelas de empréstimos, realizada por algumas instituições financeiras, durante a pandemia.

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