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Luiz Carlos Trabuco Cappi

Aloysio Faria deixa legado de confiança no Brasil, escreve Trabuco, do Bradesco

Criador do banco Real morreu nesta terça (15), aos 99 anos

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Luiz Carlos Trabuco Cappi

Presidente do Conselho de Administração do Bradesco

Um empreendedor de múltiplos talentos, cuja face mais conhecida é a de modernizador do sistema financeiro nacional, nos deixa com o falecimento de Aloysio de Andrade Faria. O “banqueiro invisível”, como o definiu o ex-ministro Delfim Netto, cumpriu uma trajetória de quase cem anos, que seria completada em novembro, com extrema discrição na vida pessoal e impressionante presença no ambiente empresarial brasileiro. Um homem singular –e admirado por sua retidão, seriedade e confiança no Brasil.

A partir do Banco da Lavoura, fundado por sua família, construiu a partir da década de 1950 o Banco Real, acelerador da transformação do sistema financeiro nacional. Nele, introduziu métodos inéditos de gestão de pessoas por meio do estímulo à formação das carreiras. Fez a diferença, para o grande público, com a criação de produtos financeiros inovadores, como o cheque especial sem cobrança de juros durante parte do mês.

Homem de visão global, levou o Real a ser a primeira instituição financeira brasileira a ter sede em Nova York, na 5ª Avenida. Anos depois, criou o Banco Alfa, ao qual se dedicou até o último dia de sua vida.

O banqueiro Aloysio de Andrade Faria, fundador do Banco Real
O banqueiro Aloysio de Andrade Faria, fundador do Banco Real - Paulo Giandalia/Folhapress

Aloysio Faria criou um dístico, multiplicado na forma de um permanente incentivo a seus colaboradores, que nos faz refletir positivamente: “Ordem sem progresso é inútil, progresso sem ordem é falso”.

Uma frase que resume o ímpeto empreendedor, da busca permanente pelo crescimento econômico a partir de ideias inovadoras. Nunca a acomodação. Sempre a iniciativa.

Essa filosofia de vida lhe gerou riquezas, resultou em milhares de empregos e oportunidades profissionais ao longo dos anos e converteu-se em legado na forma de empresas sólidas, lucrativas e que permanecerão como fontes de investimentos e crescimento econômico para o Brasil.

Sobressai, a partir de agora, sua crença de que este é um país que abre oportunidades a todos que desejam trabalhar, investir ou correr atrás do seu sonho. Em sua trajetória, provou estar certo neste voto de confiança.

Além de banqueiro sofisticado, foi também um pioneiro em diferentes campos da atividade econômica.

Criou o primeiro resort do Brasil, o Transamérica na Ilha de Comandatuba, na Bahia, base para o desenvolvimento da rede de hotéis Transamérica. Estabeleceu entre outras marcas a casa de materiais de construção C&C, a fabricante de água mineral Águas da Prata, a produtora de óleo de palma Agropalma e, porque gostava muito de sorvetes, a rede de sorveterias La Basque. Amante das artes, colaborou com os museus de arte moderna de São Paulo e Belo Horizonte, sua cidade natal.

Nos anos 1970, tive o privilégio de conhecer de perto o talento de Aloysio Faria em transformar, para melhor, tudo aquilo em que se envolvia. Como diretor da Pecplan, empresa dedicada à melhoria da genética animal, pude vê-lo persistir até que conseguisse aprimorar a reprodução de seu rebanho de gado holandês, raça que desenvolveu no Brasil. Na década de 1960, já havia trazido para o nosso campo o cavalo árabe, cuja característica mais reconhecida é a de melhorar todas as demais raças.

Aloysio Faria não buscou cultuar a própria personalidade, certo de que sua obra empresarial falaria por ele. Um feito que, de modo extraordinário, ele realizou com todos os méritos. Pelo seu exemplo, muitos outros podem se guiar por um caminho de desenvolvimento pessoal e empresarial que continua aberto para ser percorrido.

Ele ensinou que com coragem e confiança se vai ao longe.

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