Brasil pode perder chance de aproveitar juro baixo nos EUA por mais tempo

BC americano sinalizou que taxa ficará próxima de zero até pelo menos 2023

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São Paulo

A decisão do Fed (banco central dos Estados Unidos) desta quarta-feira (16) de manter a taxa de juros perto de zero e sinalizar que ela não subirá até 2023 é um dos fatores que contribuem para um ambiente relativamente mais favorável para economias emergentes.

No caso brasileiro, no entanto, há risco de que problemas internos façam com que o país não possa desfrutar plenamente desse cenário positivo.

Novas estimativas dos membros do comitê de política monetária do banco (Fomc, na sigla em inglês) mostraram que a inflação nos EUA não vai superar 2% nos próximos três anos. O Fed disse também que não subirá os juros até que a inflação esteja a caminho de "superar moderadamente" essa meta "por algum tempo".

Com isso, as estimativas do mercado são que a taxa norte-americana só comece a subir em 2024 ou 2025.

No comunicado da sua decisão de manter em 2% ao ano a taxa básica de juros brasileira, o Copom (Comitê de Política Monetária) afirmou ver um “ambiente relativamente mais favorável para economias emergentes”, embora haja bastante incerteza sobre a evolução desse cenário, frente a uma possível redução dos estímulos governamentais e à própria evolução da pandemia.

“É isso que o Copom pontuou, que, apesar da incerteza da pandemia e do rumo da economia global, o cenário está mais favorável para os emergentes. O problema é que, aqui no Brasil, sempre que o cenário lá fora fica favorável, cria-se a tentação de fazer bobagem”, afirma Carlos Kawall, diretor do Asa Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional.

“Em vez de a gente aproveitar o cenário internacional favorável, o juro baixo, a liquidez para ir pelo caminho certo, começa a vir a tentação do populismo, de mexer com o arcabouço fiscal. Às vezes esse tipo de benesse acaba atrapalhando”, avalia.

Segundo Kawall, se houvesse uma situação externa desfavorável, o país não estaria discutindo uma ruptura do teto de gastos, por exemplo.

“Isso tudo é um pouco subproduto desse ambiente de extraordinária liquidez e juro baixo. Infelizmente o Brasil não aprende”, afirma.

Em seu comunicado, o Copom afirma que “políticas fiscais de resposta à pandemia que piorem a trajetória fiscal do país de forma prolongada, ou frustrações em relação à continuidade das reformas, podem elevar os prêmios de risco”.

Incertezas em relação ao rumo das contas públicas têm sido apontadas como os principais fatores que mantém o real como uma das moedas emergentes mais desvalorizadas neste ano e que têm puxado para cima as taxas de juros em prazos mais longos.

No Brasil, as estimativas são de que os juros voltarão a subir em 2021 para 2,5%, chegando a 4,5% em 2022 e 5,5% em 2023, segundo o boletim Focus do Banco Central. Nesse período, o juro americano deverá ficar inalterado.

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