Descrição de chapéu Pix

Com entrada do Pix, maquininhas veem espaço para cartão de plástico manter crescimento

Apesar de novo sistema incentivar o uso do pagamento pelo celular, modalidades via plástico vão permanecer

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São Paulo

A chegada do Pix, novo sistema de pagamentos instantâneos do Banco Central, vai competir com o débito como é conhecido hoje. A expectativa é que ocorra uma redução nessa modalidade de transação, dizem empresas do setor de pagamentos, com ascensão nas transações pelo celular.

O segmento afirma, no entanto, que o desuso dos meios mais tradicionais, como o cartão de plástico,
não vai acontecer da noite para o dia.

“É provável que haja um ou outro pequeno rebalanceamento com relação ao débito, onde o Pix mais concorre, mas as boas experiências e as boas propostas de valor têm o seu espaço. As coisas não são ser descontinuadas de uma hora para outra, e tudo é uma evolução que vem com o tempo”,
afirma o diretor da Rede, Rodrigo Carneiro.

QR code para pagamentos; Pix aumenta concorrência e pode diminuir o uso do débito entre consumidores
QR code para pagamentos; Pix aumenta concorrência e pode diminuir o uso do débito entre consumidores - Tássia Kastner - 13.out.2019/Folhapress

Atualmente, os pagamentos com a opção débito são os que mais crescem, de acordo com dados da
Abecs (Associação Brasileira de Empresas de Cartões de Crédito e Serviços).

Enquanto o gasto total com cartões de crédito atingiu R$ 540,4 bilhões no primeiro semestre deste ano, um aumento de apenas 0,8% em relação ao registrado em igual período de 2019, as despesas com o débito alcançaram R$ 325,2 bilhões, uma alta de 6,3% na mesma base de comparação.

Para o presidente da Mastercard Brasil, João Pedro Paro Neto, apesar de o Pix competir com o “mercado presente” (pagamentos mais imediatos), as demais modalidades de pagamento dentro do universo dos cartões continuam competitivas.

“São várias formas de pagar e o novo sistema não cobre diversas dessas funcionalidades. Para quem quer pagar antes, por exemplo, tem o cartão pré-pago. Para pagar no dia tem o cartão de débito, e é aqui que o Pix entra. Por fim, quem quer pagar depois, no final do mês, usa o crédito. As outras opções vão continuar com força entre os consumidores”, afirma Neto.

O novo sistema de pagamentos do BC funcionará 24h por dia, sete dias por semana. Inicialmente, o programa será gratuito para pessoas físicas e microempreendedores individuais —com exceção de possíveis tarifas, permitidas quando o cidadão receber recursos como pagamento de venda de produto e serviço prestado, ou quando ele usa os canais presenciais ou de telefonia para fazer uma transação.

Apesar de o BC ter permitido que as instituições financeiras e de pagamento cobrem a transação do Pix, bem como outras tarifas de prestação de serviço do cliente pessoa jurídica tanto da parte pagadora quanto da recebedora, a expectativa é que o custo para essas empresas ainda seja menor do que os valores pagos atualmente no mercado.

Hoje a indústria de meios de pagamento é complexa. Uma única transação de cartão de crédito, por exemplo, envolve uma bandeira (como Visa ou Mastercard), uma maquininha e o emissor de cartão (os bancos). Todos ganham dinheiro nesse processo, o que acaba embutindo um custo para o lojista.

Além de reduzir o custo, o Pix também anteciparia para o vendedor o recebimento dos pagamentos de compras —que hoje, mesmo quando realizadas no débito, ainda demoram, em média, dois dias para cair na conta do comerciante.

Segundo o presidente da Getnet, Pedro Coutinho, no entanto, a escolha de usar ou não o plástico ainda está nas mãos do consumidor.

“Não vejo nenhuma mudança drástica no que temos hoje. Atualmente, 65% do que é transacionado com meios de pagamentos digitais é crédito, sendo que metade disso é o parcelado sem juros. Outra coisa importante é a oportunidade de pagar a conta só em 30 ou 40 dias, quando a fatura chegar. É o consumidor que vai decidir o que for melhor para ele”, disse.

O mercado de serviços financeiros também tende a aproveitar a chegada do Pix para trazer novos produtos e soluções ou mesmo melhorar a experiência dos métodos já existentes para competir pela preferência dos clientes.

Há a expectativa de ampliar as possibilidades para o pagamento por aproximação (ou NFC), por exemplo, e criar soluções mais personalizadas para os lojistas. A evolução do mercado, nesse sentido, é vista como mais um passo proporcionado pela digitalização dos processos financeiros.

“Já existem, do ponto de vista do consumidor, diversos benefícios incorporados no uso dos meios mais tradicionais, como promoções, descontos, cashback, milhas, pontos e várias outras vantagens”, afirma o presidente da Visa Brasil, Fernando Teles.

Para o executivo, o papel das credenciais de pagamento continua importante, seja pela conveniência, pelos serviços agregados ou pela quantidade de informações que pode ser processada para atender aos clientes.

“O Pix será apenas mais uma opção disponível no mercado”, afirma Teles.

O segmento que engloba os meios de pagamentos no Brasil também começa a se espelhar em outros países que já implementaram sistemas semelhantes ao Pix há mais tempo.
Dois dos mais citados por especialistas são a Índia e o Reino Unido.

O modelo indiano chama a atenção pela capacidade de incluir uma enorme população sem conta em banco. Já o padrão adotado pelo Reino Unido é considerado um sucesso de adesão, com grande volume de transações.

Ao redor do mundo são contabilizados cerca de 50 países que têm ou planejam ter esse tipo de serviços. O número de adesões, no entanto, ainda é impreciso. Na Índia, por exemplo, o UPI (versão indiana do Pix) foi introduzido no mercado, da forma que é hoje, em 2016, As primeiras tentativas datam de 2011. Mas só conseguiu ultrapassar o uso dos cartões de crédito e débito no início de 2019.

Para o presidente da Cielo, Paulo Caffarelli, o mercado brasileiro tem potencial para seguir os mesmos passos da Índia.

“O Brasil tem ainda um volume de economia informal extremamente grande, com questões culturais, educacionais e mesmo de educação financeira. E, na medida que vamos trazendo novas formas de pagamentos e incluindo pessoas, mais o mercado cresce. Além disso, muita coisa muda com o tempo. Muitas formas de pagar acabaram ganhando espaço na pandemia, por exemplo. Tudo é uma questão de perspectiva”, afirma.​

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