Diversidade de raça e gênero é tema pouco desenvolvido em empresas que adotaram indicadores sociais

Melhores práticas ambientais, sociais e de governança, medidas pelo ESG, ainda estão em evolução no Brasil

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São Paulo

Os temas voltados para diversidade e para questões de raça e gênero ainda são pouco incorporados pelas empresas que adotam o ESG (ou ASG, sigla para as melhores práticas ambientais, sociais e de governança), de acordo com especialistas.

O assunto, apesar de antigo, só recentemente virou parte do cotidiano no ambiente corporativo e de investimentos no Brasil. O ESG é abrangente e se refere à avaliação de como companhias e investimentos impactam o ambiente e a sociedade e sobre como esse impacto pode conduzir a riscos de negócio ou de investimentos.

A discussão sobre o tema ganhou força nos últimos meses, com diversas empresas —de capital aberto e fechado— já tendo adotado posicionamento firme sobre o assunto e anunciando práticas sustentáveis.

Mulher, jovem, negra segurando um computador
Diversidade de raça e de gênero ainda é tema pouco desenvolvido em empresas que adotaram indicadores sociais - Adobe Stock

Segundo dados da B3, 78 companhias se inscreveram para participar do processo seletivo do ISE (índice de sustentabilidade empresarial) neste ano. O número é quase 70% maior que o registrado em 2019.
Para especialistas, no entanto, o Brasil está atrasado na discussão sobre o tema quando comparado a outros países.

"Enquanto algumas companhias já começaram, de fato, a migrar o pensamento para um modelo de negócio mais adequado ao ESG, ainda existe uma parcela das empresas que estão apenas no começo dessa jornada e outras que ainda confundem e resumem a sigla a práticas ambientais", afirmou Marina Procknor, sócia da área de ESG da Mattos Filho.

Ainda segundo os dados da B3, todas as 39 companhias que compõem o ISE de 2021 afirmam utilizar a Agenda 2030 (medidas para o desenvolvimento sustentável) e os ODS (objetivos de desenvolvimento sustentável) da ONU (Organização das Nações Unidas) como referências para identificar e integrar aspectos relevantes de sustentabilidade em seus negócios.

Os números voltados para raça e gênero, porém, são mais baixos: 58% das companhias do índice de 2021 promovem discussões com a alta liderança sobre a promoção da equidade quanto à licença parental entre homens e mulheres, incluindo o benefício para casais homoafetivos e famílias monoparentais.

Essa porcentagem era de 37% no índice formado para 2020.

Além disso, das companhias que compõem o índice 2021, 77% delas têm mulheres em seus conselhos de administração, mesma porcentagem do ISE 2020, segundo informaram as empresas.

Os negros estão presentes em apenas 5% dos conselhos— a porcentagem era de 3% no ISE anterior.

Segundo Ana Buchaim, diretora de pessoas, marketing, comunicação e sustentabilidade da B3, a agenda de ESG ainda está sendo construída e tem espaço para aprimoramento e evolução, mas já existe uma maior conscientização das empresas ao fato de que o tema não é apenas uma questão de boa responsabilidade social e corporativa.

"Ter uma equipe muito homogênea é como tentar aprender um assunto lendo um único livro ou um único autor. Ou seja, apesar de ser um conhecimento rápido, ainda é muito restrito. Por outro lado, em uma equipe heterogênea, com pluralidade e diversidade, você tem uma visão muito mais ampla", disse.

"É como se você pudesse aprender com uma biblioteca inteira. Isso faz com que a empresa consiga alcançar um público muito maior e diverso."

Para Fabio Alpereowitch, co-fundador e gerente de portfólio da Fama Investimentos e conselheiro da WWF Brasil e do GRI (sigla para Global Reporting Initiative), é preciso cuidado para que o ESG não seja apenas sobre temas comumente tratados, como a emissão de carbono e o empoderamento feminino.

"São temas muito importantes, mas não são únicos e, com certeza, não são suficientes. As questões de ESG são muito complexas, e há um problema grande no mercado, pois empresas e investidores ainda estão cegos para a legitimidade do tema de diversidade. Esses pontos não são apenas para aguardar investidor ou para sair bonito na foto", disse.

O executivo afirma, ainda, que os temas sobre raça e gênero precisam ser pensados de forma mais abrangente.

"No Brasil, mais da metade da população é negra, o que sinaliza que a preocupação sobre questões de equidade racial deveria ser superimportante no país. Além disso, também precisamos pensar em outros recortes. Onde está a discussão sobre a inserção de pessoas transgênero, LGBTs ou mesmo de pessoas com deficiência? O debate não ganha escala", disse Alperowitch.

Ainda segundo os dados da B3, entre as companhias que compõem o ISE 2021, 72% afirmam promover práticas para encorajar representantes do grupo LGBTQIA+ a utilizar os recursos disponibilizados pela companhia para sua integração aos demais funcionários --a porcentagem era de 48% no ISE 2020.

Todas as 39 companhias do índice também afirmaram estabelecer medidas disciplinares em caso de violação de direitos relacionados a orientação sexual e identidade de gênero (contra 93% em 2020).

Ao todo, são mais de 430 empresas listadas na B3.


O que é ESG?
A sigla descreve as melhores práticas ambientais, sociais e de governança. Também é conhecida como ASG

Para que serve? 
Avaliar como companhias e investimentos impactam o ambiente e a sociedade e sobre como esse impacto pode conduzir a riscos de negócio ou de investimentos

O que é o ISE B3? 
O Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 é uma ferramenta para análise com-parativa da performance de empresas listadas em Bolsa sob o aspecto da sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa

Também amplia o entendimento sobre empresas e grupos comprometidos com a sustentabilidade, diferenciando-os em termos de qualidade, nível de compro-misso com o desenvolvimento sustentável, equidade, trans-parência e prestação de contas, natureza do produto, além do desempenho empresarial nas dimensões econômico-financeira, social, ambiental e mudança do clima

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