Petroleiro critica grife North Face por 'sinalização de virtudes'

A North Face não quer ser associada ao setor; petroleiro lembra que os casacos são feitos de derivativos de petróleo

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Washington | Financial Times

O ritual de empresas darem brindes de Natal aos seus empregados em geral não causa disputas. Mas, quando o presidente-executivo de uma empresa americana de prospecção de petróleo foi informado pela The North Face, que fabrica roupas, de que não podia mandar bordar o logotipo da companhia em casacos da grife, ele tornou a briga pública numa carta aberta em defesa do seu setor.

A North Face recusou pedido da Innovex Downhole Solutions, empresa de serviços petroleiros de Houston, que queria 400 casacos da North Face com o logotipo da companhia, para distribuir como brindes ao seu pessoal.

Jaqueta verde e preta da marca The North Face
Jaqueta da marca The North Face - Reprodução

Adam Anderson, presidente-executivo da Innovex, foi informado pela North Face de que o pedido comprometeria a imagem da empresa, o que fez dela a mais recente marca a buscar se distanciar do setor de combustíveis fósseis.

"Eles disseram que não atendemos aos seus critérios de marca", disse Anderson. A North Face não quer ser associada a determinados setores, e mencionou "álcool, tabaco e pornografia", completou.

Indignado, ele escreveu carta aberta de quatro páginas, com notas explicativas e ilustrações, expondo argumentos positivos a favor dos combustíveis fósseis, e a enviou ao presidente da VF Corporation, que controla a The North Face. A carta, que já circula entre defensores de combustíveis fósseis, diz que a decisão é "sinalização de virtudes contraproducente" e que o petróleo e o gás natural permitiram "qualidade de vida que seria inimaginável um século atrás".

O setor tem enfrentado reações públicas adversas devido a preocupações sobre o clima e a sustentabilidade ambiental.

A North Face —que proíbe que indústrias como a de armas de fogo e a de tabaco acrescentem logotipos empresariais às roupas que ela fabrica— não menciona companhias de petróleo ou gás natural. Mas diz que a promoção da energia renovável é parte de sua missão empresarial e apoia o Acordo de Paris.

A grife se recusou a responder aos argumentos da Innovex, mas afirmou que "investiga rigorosamente os pedidos de produtos para garantir que se alinhem com nossos objetivos e nossos compromissos em termos de sustentabilidade e proteção ambiental".

Outros fabricantes de roupas também fizeram o mesmo. No ano passado, a Patagonia deixou de permitir que empresas financeiras e do Vale do Silício, entre outras, insiram logotipos em roupas que ela fabrica. Os produtos do setor se tornaram tão populares entre os trabalhadores financeiros e da tecnologia que resultaram em memes que zombam do estilo "finance bro".

A Innovex classificou a decisão da North Face como "irônica", já que os casacos são feitos de derivativos de petróleo, e as atividades e estilo de vida promovidos pela The North Face e outras marcas dependem —ao menos por enquanto— de combustíveis fósseis.

"Não seria possível esquiar, praticar canoagem ou viajar de avião a diversos lugares a que as pessoas gostam para curtir a natureza sem os hidrocarbonetos", disse Anderson.

A North Face disse que "nosso objetivo final é usar materiais sintéticos reciclados".

A Eddie Bauer, outra fabricante de roupas, aceitou a encomenda, disse Anderson, e os casacos da Innovex devem estar prontos para o Natal.

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