O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou dezembro com alta de 1,35% e encerrou o ano de 2020 em 4,52%, acima do centro da meta da inflação para o ano, de 4%.
Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), foi a maior alta desde 2016, quando o índice registrou crescimento de 6,29%. O indicador de dezembro, por sua vez, teve o maior crescimento desde fevereiro de 2013, quando registrou aumento de 1,57%.
Apesar das altas, o resultado de 2020 ficou dentro do intervalo de tolerância. O índice poderia oscilar entre 3,5% e 5,5%, com o centro estipulado em 4%, sem que a meta seja descumprida.
Os resultados ficaram acima das expectativas em pesquisa da Reuters com analistas de alta de 1,21% em dezembro, acumulando em 12 meses avanço de 4,38%.
Os dados foram divulgados nesta terça (12).
A meta da inflação é fixada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional). O Banco Central reduz ou eleva a Selic, a taxa básica de juros da economia, para alcançá-la.
O grupo que mais pesou na inflação em 2020 foi o de alimentos e bebidas, cujos preços subiram 14,09% no acumulado do ano.
A alta decorre principalmente dos efeitos da pandemia, que impulsionou a demanda por esses produtos, mas também pela alta do dólar, que encarece importações, e pela disparada no preço de commodities no mercado internacional.
Entre os alimentos que mais aumentaram de preço no ano, estão óleo de soja (103,79%), arroz (76,01%), leite longa vida (26,93%), frutas (25,40%), carnes (17,97%), batata-inglesa (67,27%) e tomate (52,76%).
A alta do preço dos alimentos foi fator de preocupação para o governo ao longo do ano, em meio a um aumento das exportações devido ao real desvalorizado e demanda internacional aquecida.
No início de setembro, foi zerado o imposto de importação para 400 mil toneladas de arroz, numa tentativa de conter a carestia do cereal. Antes disso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) pediu “patriotismo” aos donos de supermercado para evitar uma alta de preços maior de itens da cesta básica.
De acordo com o IBGE, a inflação de 2020 também foi puxada pelo grupo habitação, que subiu 5,25% no ano passado, influenciada pela alta de 9,14% na energia elétrica.
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa investimentos, afirmou que a energia elétrica foi completamente impactada pela tarifa imposta no fim do ano.
"A bandeira tarifária vermelha 2 devastou o índice, com um avanço de quase 10%, muito grande para um item que tem tanta representatividade", afirmou Étore.
Com a entrada em vigor da bandeira vermelha patamar 2 em dezembro, o preço voltou a subir, após dez meses consecutivos na bandeira verde.Alguns locais também sofreram reajustes tarifários, como Rio Branco (11,05%) e Porto Alegre (11,55%).
Outro item do grupo habitação que enfrentou reajuste foi a taxa de água e esgoto. Em Belo Horizonte, a alta foi de 3,04%. Em Vitória, ficou em 2,95%.
O economista da Ativa Investimentos se mostrou preocupado com o comportamento da inflação, mas projeta um índice de 3,3% para 2021.
"Ficamos preocupados com os sinais dados pelo processo de inflação, mas os núcleos [desconsiderando itens com preços voláteis, como alimentos] ainda estão deprimidos. Não é nada que a gente possa concluir que temos reflação na economia", afirmou Étore.
Consideramos em conjunto, os grupos alimentação e bebidas, habitação e artigos para residência (eletrodomésticos, equipamentos e artigos de TV, som e informática) foram responsáveis por quase 84% da inflação de 2020.
No grupo dos transportes, o segundo com maior peso na composição do indicador de inflação, a alta no ano foi de 1,03%. Segundo Pedro Kislanov, gerente da pesquisa, a variação se deve ao comportamento do preço dos combustíveis.
“Tivemos quedas fortes, em abril e maio, por conta do preço da gasolina, que fechou o ano em queda (-0,19%), apesar das seis altas consecutivas de junho e dezembro. As passagens aéreas tiveram uma queda de 17,15% no acumulado ano, ajudando a puxar o resultado para baixo”, disse Kislanov.
Paulo Levy, pesquisador do Ipea, apontou que o resultado da inflação de 2020 foi influenciado pelos choques de preços causados pelos comportamento de oferta e demanda da pandemia, razão pelo qual não há motivo para se preocupar em 2021.
"Também tivemos choque de alimentos de preços de carnes no final de 2019 que pressionaram a inflação daquele ano, de 4,31%, mas uma vez passado aquele choque a inflação voltou para baixo em 2020", analisou o pesquisador.
Altas no mês
O grupo de alimentos para consumo no domicílio ficou 2,21% mais caro em dezembro. Alimentação fora do domícilio também registrou alta de 0,77% no mês, com destaque para refeição (0,74%) e lanche (0,89%).
O preço dos artigos para residência, por sua vez, subiu 1,76%, a segunda maior alta entre os nove grupos pesquisados. Os artigos de TV, som e informática subiram 2,52%, móveis, 2,92%, e eletrodomésticos e equipamentos, 1%.
No grupo Educação, a alta foi de 0,48% em dezembro. O maior impacto veio dos cursos regulares (0,55%). A educação de jovens e adultos sofreu a maior variação (3,83%).
João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos, creditou a alta no grupo educação a reajustes nas mensalidades que não ocorreram no meio de 2020 por causa da pandemia.
"Não houve no meio do ano e se trouxe para o fim do ano. Mesmo ainda com as escolas voltando de forma devagar pela Covid, começamos a observar essa recomposição nos preços. Isso deve permanecer, mas sendo gradual, bastante relacionado ao processo de reabertura econômica", afirmou o economista.
Segundo ele, o mesmo comportamento vem sendo observado no setor de saúde - alta de 0,40% em dezembro - e deve permanecer em 2021, ganhando força ao longo do ano.
"Isso vem também pelo começo dos reajustes bloqueados ao longo do ano passado, pela pandemia. Alguns serviços de saúde começaram a ajustar esses preços. Deve ter um impacto maior no começo do ano, a ANS determinou que os reajustes serão escalonados", afirmou.
Todas as regiões pesquisadas tiveram alta em dezembro. Aracaju (0,91%) apresentou o menor índice, impulsionado pela queda nas mensalidades dos cursos regulares e nos preços de produtos alimentícios como o queijo e o tomate.
Já a alta nas carnes fez São Luís ter o maior resultado (2,18%).
(Com Reuters)
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