O trabalho presencial nos escritórios vai voltar no pós-pandemia, mas precisará ser diferente. Longas fileiras de mesas em baias fixas deverão ser substituídas por estações de trabalho móveis e maior distanciamento entre cada uma delas. A frequência também deverá ser outra, um reflexo do ano em home office.
Nos setores que ocupam o topo da pirâmide do mundo corporativo, como bancos, gestores de investimentos, empresas de tecnologia, auditoria, farmacêuticas, grandes escritórios de advocacia e multinacionais, a ida ao escritório precisará oferecer mais do que um espaço para o trabalho.
Martín Andrés Jaco, diretor-presidente da BR Properties, diz que o mercado passa agora a olhar para além das especificações técnicas que garantem aos edifícios a classificação AAA (os "triple A").
É necessário que o prédio ofereça uma gama de serviços que o torne interessante e atraente para quem for chamado para trabalhar ali.
"Não se dava tanta ênfase a outras questões, como acesso ao transporte, serviços no prédio e no entorno. É necessário que haja academia, lavanderia, áreas verdes. Isso tudo passa a ter um valor muito grande", afirma. "Esses serviços precisam funcionar em tempo integral. O modelo de trabalho mudou, e é necessário atender. Isso era uma tendência, mas agora foi acelerada."
Na avaliação do executivo, os edifícios de escritórios de alto padrão precisam estar atualizados e ter condições de atender essas novas demandas –do contrário, ficarão para trás. Para ele, esse será o diferencial para garantir a ocupação do novo estoque de prédios AAA que deverá ser entregue em São Paulo neste ano.
"As empresas precisam ter uma sede. Talvez elas precisem de escritórios menores, mas mais bem localizados. Nesse sentido, há carência de projetos de qualidade", afirma. A BR Properties é dona de duas torres no Parque Cidade, complexo de prédios de escritórios na Chucri Zaidan, e já está com 41% do espaço com pré-locação, ou seja, reservado para firmas que pretendem ocupar lajes no local.
"Havia anos não tínhamos pré-locação na marginal. Isso acontece porque você tem uma série de serviços no entorno, como shopping e metrô."
Para Mariana Hanania, diretora de pesquisa e inteligência de mercado da Newmark, ainda é cedo para fazer apostas no modelo dos escritórios do pós-pandemia.
Os serviços de concierge, segundo ela, já eram uma demanda de empresas em regiões com alta concentração de escritórios, como a avenida Faria Lima, na zona sul da capital paulista.
"São muitos funcionários com um certo perfil, na faixa de 30 anos e que moram sozinhos. Eles querem resolver várias necessidades enquanto trabalham, desde deixar um roupa no tintureiro a ir à academia após o expediente."
Ela concorda com a percepção de que o trabalho 100% em casa já é uma possibilidade descartada. Tampouco a rotina voltará a ser como era no início de 2020, de cinco a seis dias no escritório. "Não estamos vendo mais a intenção de ter um home office radical. Mesmo quem adiou o retorno para 2022 vai manter esse espaço físico", diz.
A JLL aposta em uma reabilitação dos escritórios flexíveis, os coworking. Com a pandemia, o volume de locações nesses espaços chegou a cair 92% no ano passado, na comparação com o ano anterior. Enquanto a recomendação é o distanciamento,3 dividir o espaço com diversas pessoas e empresas ficou arriscado.
O cenário de incertezas com o futuro, diz a consultoria, em relatório, poderá beneficiar as empresas que já trabalham com o modelo, que poderão ser vistas como uma alternativa mais flexível aos contratos de longa duração nas lajes corporativas.
Para quem começa a planejar a volta aos escritórios, a consultoria Cushman & Wakefield recomenda que as empresas considerem 10 m² de área para cada funcionário, permitindo mais distanciamento entre eles. A média, no Brasil, é de 9 m² por trabalhador.
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