Startups oferecem cursos para enfrentar apagão de mão de obra

Iniciativas também têm como meta ampliar diversidade

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São Paulo

Diante de centenas de vagas em aberto e dificuldades para encontrar profissionais para preenchê-las, startups vêm criando cursos ou fazendo parcerias com escolas de programação para formar seus futuros funcionários.

As ações também visam atrair e preparar pessoas de grupos pouco representados no setor de tecnologia, como mulheres, negros e pessoas com deficiência.

A fintech Lendico, por exemplo, prevê ir de 200 funcionários para 400 até meados de novembro.

Para apoiar o crescimento, a companhia começa a colocar no ar nesta semana vagas nas quais interessados podem fazer gratuitamente um curso da plataforma de educação Alura e realizar atividades junto com profissionais da fintech antes da seleção. Os candidatos passam por avaliação de perfil e têm acesso à formação que leva de dois a três meses.

Jesiele Gomes, que passou a trabalhar na QuintoAndar depois de participar de um curso de formação para mulheres em tecnologia - Marlene Bergamo/Folhapress

Rode Ziembick, diretora de recursos humanos da Lendico, diz que o objetivo é fomentar o mercado, que vem sendo prejudicado por uma estratégia generalizada das empresas de tentar contratar quem está na concorrência, inflacionando os salários.

A Take Blip, que conta com mil funcionários, lança nesta semana 10 mil bolsas para formar desenvolvedores em parceria com a plataforma de aprendizado de tecnologia Digital Innovation One. Serão 90 horas de atividades online e mentorias com profissionais da empresa, a serem realizadas em até 75 dias.

Os participantes receberão certificado e terão prioridade em processos seletivos, diz a empresa. É a segunda edição do programa —a empresa prevê lançar ainda mais 10 mil bolsas.

Daniel Costa, diretor de gente e gestão da startup, diz que a iniciativa é uma forma de realizar ação ESG (sigla para boas práticas ambientais, sociais e de governança) que traga também benefícios à companhia. "Queremos capacitar pessoas de um modo que beneficie, além da gente, todo o ecossistema", afirma.

A startup Pareto, de automatização de processos de marketing e vendas com inteligência artificial,
começa a associar suas vagas a programas de formação para os candidatos a partir de outubro.

Segundo Rica Barros, presidente da startup, a plataforma, que se chamará Comunidade Pareto, vai unir uma curadoria de conteúdo gratuito disponível em plataformas como YouTube e Vimeo, material desenvolvido pela própria startup e testes. Há planos para que clientes da Pareto também possam pagar para colocar vagas ali, financiando o aprimoramento do conteúdo, diz o empresário.

Barros diz que a plataforma vai incentivar que os candidatos sejam escolhidos por seu engajamento na formação, reduzindo a importância do currículo e favorecendo a diversidade. "Quando você abre oportunidades para todos, as chances de encontrar pessoas incríveis aumentam muito."

A startup tem 130 funcionários e espera contratar 150 em um ano.

Na Buser, de viagens rodoviárias, foram realizadas duas edições do projeto Buser-Camp, capacitando 19 pessoas —13 foram contratadas. Os participantes receberam auxílio mensal de R$ 3.500 durante o período de estudos e realização de projetos na empresa.

A Buser conta com 250 funcionários. Tony Lâmpada, diretor de tecnologia da startup, diz que há intenção de expandir o programa no próximo ano.

A estratégia é parecida com a adotada pela Beep Saúde, app para agendar vacinação em casa. No último dia 20, 16 futuros desenvolvedores passaram a fazer parte do Beep Code, novo programa de 12 semanas para formar futuros profissionais da startup.

Luiz Costa, diretor de tecnologia da startup, diz que a opção por trazer profissionasi em treinamento para dentro da empresa, em vez de fechar parceria com uma escola de programação, permite acelerar o desenvolvimento dos funcionários, colocando eles em contato com a linguagem e os projetos da empresa rapidamente.

Deborah Abisaber, head de diversidade e inclusão no Nubank, diz que os investimentos em formação da empresa estão atrelados a metas para ampliar a participação de grupos subrepresentados em sua equipe. "Vivemos em um país que ainda precisa investir em formação de pessoas. Se as empresas querem continuar crescendo, elas precisam desenvolver o mercado de talentos."

A companhia tem 700 vagas abertas, a maior parte na área de tecnologia.

Entre as iniciativas da fintech estão parceria com a empresa Alicerce Educação, para formar 400 pessoas negras em situação de vulnerabilidade em São Paulo. Também tem iniciativa para formar desenvolvedores em Salvador e está na terceira edição do Yes, She Codes, para atrair engenheiras de software.

Segundo Abisaber, ampliar a diversidade é importante para melhorar o serviço da fintech para seus clientes. "Precisamos entender os problemas de uma pessoa trans na hora de abrir uma conta, saber se uma pessoa com deficiência pode ter dificuldade para acessar nosso app."

Na QuintoAndar, startup do mercado imobiliário, já foi realizado projeto para formar mulheres, em 2019. A empresa concluiu em agosto a primeira turma de 50 participantes do Código Preto, programa de cinco meses para dar formação em tecnologia para pessoas negras.

Os participantes interessados em seguir na companhia estão passando por processo de seleção neste mês, diz Quésia Rodrigues, coordenadora de employer branding.

Segundo a executiva, oferecer a formação acelera a busca por ampliar a diversidade na empresa e a integração dos profissionais. "Em vez de trabalhar de um em um, conseguimos fazer um processo escalável", afirma. A startup tem mais de 2.000 funcionários e 200 vagas abertas.

A engenheira de software Jesiele Gomes, 23, foi uma das contratadas pelo QuintoAndar após participar do Acelera Dev, para mulheres.

Ela conta já ter trabalhado em uma empresa de tecnologia antes, mas se sentia desconfortável e com pouca perspectiva de crescimento por ser uma das poucas mulheres ali e não ver nenhuma na liderança. "Entrei em um processo de depressão, burn out. Associei isso à tecnologia, achava que não era boa o suficiente", diz.

Segundo ela, o programa de formação permitiu reconquistar a confiança após mais de um ano afastada da área.

"Foi incrível a sensação de chegar em uma sala e ter só mulheres muito diversas. Não me senti mais sozinha e redescobri que gostava daquilo", afirma.

Gomes agora apoia a empresa na organização do projeto Código Preto. "Um dos projetos da minha vida é, depois que eu consegui subir profissionalmente, trazer mais gente comigo."

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