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Empresas americanas apontam inflação 'brutal' por problemas na cadeia produtiva

Com preços subindo por interrupções, gastos do consumidor e ganhos corporativos estão em risco

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Nova York e Chicago | Financial Times

A falta de produtos nas cadeias de abastecimento das quais o setor corporativo dos Estados Unidos depende está causando pressão inflacionária generalizada, revelaram nesta semana diversas empresas americanas, interrompendo suas operações e forçando-as a aumentar os preços para os consumidores.

Na sexta-feira (22), a fabricante de eletrodomésticos Whirlpool culpou "ineficiências em toda a cadeia de suprimentos" pelos aumentos "brutais" nos preços de aço, resina e outros materiais, dizendo que isso acrescentaria quase US$ 1 bilhão (R$ 5,7 bilhões) aos custos de seus produtos neste ano.

"Todos os dias há alguma coisa em falta no estoque das lojas", disse Vivek Sankaran, presidente-executivo da Albertsons, comparando os esforços da rede de supermercados para responder aos constantes desafios a um jogo de esconder.

Questionado nesta semana sobre quais ingredientes e suprimentos a Chipotle teve dificuldade para obter, Jack Hartung, diretor financeiro da rede de restaurantes, respondeu: "Todos".

O congestionado Porto de Los Angeles, na Califórnia, EUA - Mike Blake - 29.set.2021/Reuters

A pressão em todos os elos da cadeia de abastecimento, desde o fechamento de fábricas desencadeado por surtos da Covid-19 até a dificuldade para encontrar trabalhadores para descarregar caminhões, está se espalhando entre os setores, intensificando as questões sobre a ameaça que a inflação representa para os gastos dos consumidores e recuperação dos ganhos corporativos.

​Nos últimos dias, as maiores companhias aéreas dos Estados Unidos reclamaram do aumento dos custos do combustível de aviação, a fabricante de brinquedos Mattel expôs o desafio dos preços mais altos da resina e a Danaher se juntou à lista de fabricantes com dificuldades para adquirir componentes eletrônicos.

Na quarta-feira (20), o resumo das condições econômicas no Livro Bege do Federal Reserve (relatório periódico do banco central) relatou que os gargalos na cadeia de suprimentos e a escassez de mão de obra desaceleraram o ritmo do crescimento econômico em grande parte do país. "A maioria dos distritos relatou preços significativamente elevados, alimentados pela crescente demanda por bens e matérias-primas", observou.

Portos sobrecarregados, escassez de caminhoneiros e taxas recorde de vacância em armazéns se chocaram com a forte demanda de consumidores e clientes corporativos para criar "um caos silencioso", disse Ethan Karp, CEO da Magnet, consultoria sem fins lucrativos que trabalha com fabricantes.

"Eles estão mais ocupados do que nunca, mas não conseguem encontrar pessoal para despachar o que já produziram", disse ele. As empresas estão sofrendo atrasos imprevisíveis e pagando caro pelos suprimentos encontrados no mercado secundário, acrescentou ele, mas "está muito obscuro e piorando porque... os portos estão entupidos e os pedidos continuam chegando".

A maioria das empresas disse que estava conseguindo compensar esses custos mais altos aumentando seus próprios preços ou encontrando eficiência em outro lugar.

A Procter & Gamble, fabricante de detergente e papel higiênico, entre vários produtos, disse nesta semana que iniciará mais uma rodada de aumentos de preços, após alertar que os custos da cadeia de suprimentos seriam mais altos do que os previstos anteriormente. Andre Schulten, diretor financeiro da P&G, disse que anunciou aumentos de preços para nove de suas dez categorias de produtos nos Estados Unidos, com reajustes médios de um dígito na maior parte da carteira.

No início deste mês, a PepsiCo disse que seus aumentos de preços poderão continuar no primeiro trimestre do próximo ano, enquanto a Tesla informou que também está ajustando preços para compensar o aumento dos custos de matérias-primas e mão de obra.

Os executivos preveem que as pressões dos custos continuarão elevadas até 2022, mas temem aumentar muito os preços se a inflação se mostrar passageira. "Não creio que a inflação desapareça nos próximos um, dois ou três trimestres", disse Hartung, acrescentando que a inflação salarial provavelmente não será transitória, mesmo que os preços das commodities caiam.

"Sabemos que temos poder de precificação", disse ele, mas acrescentou: "Para algumas ofertas, haverá um limite de quanto os clientes se dispõem a pagar", disse ele.

Matt Puckett, diretor financeiro da VF Corp, disse que a empresa refreou os descontos em seus tênis Vans e jaquetas North Face para expandir as margens, apesar do fechamento de fábricas na Ásia e do congestionamento dos portos nos Estados Unidos.

"Com o tempo, acho que [a inflação] começará a se moderar um pouco, mas estamos planejando como se fosse continuar havendo aumentos significativos no frete daqui para a frente", disse ele.

O diretor comercial da United Airlines, Andrew Nocella, ecoou a mensagem na quarta-feira, dizendo que devido ao congestionamento nos portos dos EUA ele está "transportando coisas em aviões que tradicionalmente não transportamos", situação que a empresa prevê que dure até 2022.

Andrew Edgecliffe-Johnson, Matthew Rocco, Obey Manayiti e Claire Bushey

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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