O conselho de administração da Caixa Econômica Federal decidiu nesta quinta-feira (30) contratar uma auditoria externa para apurar as denúncias de assédio sexual contra Pedro Guimarães, agora ex-presidente do banco, e rastrear outros membros da cúpula que acobertaram a situação.
A decisão de contratar uma empresa terceirizada para conduzir a apuração foi tomada após os relatos das mulheres vítimas de assédio indicarem que os episódios eram conhecidos por ao menos parte da diretoria e dos vice-presidentes da Caixa.
A avaliação do colegiado é que deixar a investigação nas mãos das instâncias internas de controle não é a melhor saída para obter um diagnóstico independente, dada a suspeita de envolvimento de outros integrantes da cúpula da instituição.
As definições se deram em reunião extraordinária do conselho de administração na tarde desta quinta, convocada em resposta à gravidade das acusações. A conduta do ex-presidente do banco também será alvo das apurações, a despeito de ele já ter se afastado do cargo.
O colegiado também nomeou a vice-presidente Henriete Bernabé (Habitação) como presidente interina, até que a nova indicada ao cargo, Daniella Marques, esteja apta a tomar posse. Nomeada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), Marques aguarda a análise de sua documentação pelo comitê de elegibilidade do banco.
A expectativa é que a nova presidente seja empossada na semana que vem. Assim que assumir, Marques também quer criar um comitê de crise para apurar os episódios narrados pelas vítimas e identificar outros possíveis envolvidos.
Os dois movimentos são independentes, mas vão na mesma direção de traçar um amplo diagnóstico da situação dentro do banco, identificando falhas que permitiram a continuidade dos assédios. Outro objetivo é buscar o fortalecimento dos mecanismos de prevenção e combate ao assédio.
A avaliação preliminar é que, diante dos relatos, apenas a renúncia de Guimarães não basta. O temor é que tenha se instaurado no banco uma cultura organizacional que não pode ser tolerada.
As acusações de assédio sexual contra Guimarães foram reveladas na terça-feira (28) pelo portal Metrópoles, que relatou também a existência de uma investigação no Ministério Público Federal.
As mulheres narraram episódios como toques íntimos sem consentimento, convites incompatíveis com o ambiente profissional e outras condutas inapropriadas.
No relato das funcionárias da Caixa também surgiram acusações de que outros membros da diretoria e do gabinete de Guimarães acobertaram a situação.
Segundo o portal Metrópoles, uma das denunciantes disse que o caso de uma colega, após informado à corregedoria, chegou às mãos de auxiliares do então presidente, violando o sigilo que cabe a esse tipo de acusação.
Uma funcionária da Caixa disse em depoimento à Folha que também foi assediada por Guimarães, presidente da instituição. Ela afirmou ter sido puxada pelo pescoço e ter ficado em choque após o episódio. A mulher pediu para ter sua identidade preservada por receio de sofrer retaliação do comando do banco.
Guimarães pediu demissão nesta quarta-feira (29), um dia após a divulgação das denúncias. Em uma carta aberta publicada em suas redes sociais, ele negou as acusações e disse ser alvo de "rancor político em um ano eleitoral".
Após a saída de Guimarães, a Caixa Econômica Federal informou que uma investigação interna sobre assédio foi instaurada em maio deste ano e ainda está em andamento.
De acordo com o comunicado, a apuração corre em sigilo, no âmbito da corregedoria, e por isso não era de conhecimento de outras áreas do banco. A nota disse que os relatos foram recebidos por meio de seu canal de denúncias.
Segundo fontes ouvidas pela Folha, o presidente do conselho de administração da Caixa, Rogerio Rodrigues Bimbi, se reuniu de forma reservada com representantes do comitê de auditoria e da corregedoria na quarta-feira (29), horas antes de Guimarães renunciar efetivamente à presidência do banco.
O objetivo do encontro era saber detalhes das denúncias recebidas internamente e discutir os próximos passos do banco.
Segundo relatos colhidos pela reportagem, a identidade de quem fez a denúncia foi mantido sob sigilo, e os participantes da reunião reservada só tiveram acesso aos acontecimentos narrados.
O caso passou a ser investigado após relato recebido por meio do canal de denúncias, que é administrado por uma empresa especializada contratada pela Caixa. O procedimento existe para evitar que qualquer instância interna do banco tenha acesso ao nome do autor das denúncias.
Na reunião reservada, foi exposto que a empresa repassou a informação, sem a identificação da denunciante, para a corregedoria interna do banco, que pediu mais informações.
A empresa que gerencia o canal de denúncias entrou em contato com a autora da denúncia e manteve conversas para obter mais detalhes dos episódios narrados, o que teria ocorrido de fato nesta semana.
Segundo os relatos da reunião reservada, a corregedoria decidiu, diante da gravidade das acusações, instaurar o processo de investigação contra Pedro Guimarães, mantendo a apuração sob sigilo justamente por envolver o comando do banco.
A existência do processo seria comunicada reservadamente ao comitê de auditoria e ao conselho de administração nas próximas reuniões ordinárias, previstas para o mês de julho, mas a divulgação da reportagem antecipou as medidas.
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