Estrangeiros impulsionam Bolsa para 2ª maior alta mensal de 2022

Mercado doméstico avança 6% em agosto e resiste à queda do exterior

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São Paulo

A Bolsa de Valores brasileira encerrou agosto com o segundo melhor resultado deste ano. Investidores estrangeiros buscaram as ações domésticas neste mês ao perceberem que medidas para combater a inflação em curso nos Estados Unidos e na Europa podem durar mais tempo do que o esperado, criando ameaças prolongadas ao crescimento desses mercados.

Monitor mostra informações sobre índices de ações acima do logo da B3, a Bolsa de Valores brasileira, em São Paulo
Monitor mostra informações sobre índices de ações acima do logo da B3, a Bolsa de Valores brasileira, em São Paulo - Leo Barrilari -17.mar.2020/Xinhua

O Ibovespa, índice de referência da Bolsa, avançou 6,16% no mês. O resultado ficou abaixo da alta de 6,98% de janeiro, melhor mês do mercado acionário local desde dezembro de 2020, quando o indicador subiu 9,30%.

No fechamento diário desta quarta-feira (31), porém, o Ibovespa não resistiu à pressão negativa do exterior e terminou a sessão em queda de 0,82%, aos 109.522 pontos.

Estrangeiros representam pouco mais da metade dos investidores da B3, a Bolsa do Brasil. Eles trouxeram para o mercado acionário local neste mês cerca de R$ 18 bilhões, contra R$ 1,8 bilhão de julho, considerando ainda o saldo parcial de agosto levantado pelo TradeMap.

Agosto teve o melhor resultado do segundo semestre quanto ao fluxo de investimento vindo do exterior para a Bolsa, mas ainda ficou atrás dos saldos mensais médios de R$ 23 bilhões do primeiro trimestre.

Na comparação com as principais Bolsas internacionais, o saldo é amplamente favorável ao Brasil.

Em Nova York, o indicador parâmetro S&P 500 terminou agosto com perda de 4,24%. Na Europa, a Bolsa de Londres caiu 1,88%. Paris e Frankfurt tombaram 5,02% e 4,81%, respectivamente, no mesmo período.

Alguns fatores colocam o Brasil em vantagem momentânea em relação ao exterior, entre os quais está o possível fim do ciclo de aumento da taxa básica de juros, enquanto outros países ainda discutem o quanto o custo do crédito precisará subir até que a inflação esteja sob controle.

"A justificativa para essa performance vem do começo do mês, quando o Copom [Comitê de Política Monetária] do Banco Central brasileiro decidiu sinalizar que a alta dos juros acabou", comentou Ubirajara Silva, gestor da Galapagos Capital.

Destacando que o Brasil é o mercado preferido de sua equipe na América Latina, Nur Cristiani, chefe de estratégia para a região no JP Morgan Private Bank, disse à agência Reuters que os recentes números sobre a queda da inflação e as declarações do Banco Central sobre o provável fim do ciclo de alta de juros indicam "uma oportunidade que não pode ser desperdiçada", afirmou.

Na semana passada, o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano) jogou um balde de água fria na parcela do mercado que esperava por um fim próximo no aperto monetário nos Estados Unidos.

Jerome Powell afirmou que os americanos estão caminhando para um período doloroso de crescimento econômico lento e possivelmente aumento do desemprego, já que o banco central dos EUA deve manter a política de elevação agressiva da sua taxa de juros em uma tentativa de equilibrar oferta e demanda.

Temores de forte desaceleração da economia foram reforçados nesta semana por novos dados sobre a geração de vagas de trabalho nos Estados Unidos.

Relatório da consultoria ADP mostrou que a abertura de empregos no setor privado dos Estados Unidos totalizou 132 mil vagas em agosto, abaixo da expectativa de 288 mil em pesquisa da Reuters.

Em meio à forte alta dos preços na Europa, potencializada pela invasão russa à Ucrânia, o mercado considera a possibilidade de um aumento mais agressivo dos juros na região.

O BCE (Banco Central Europeu) deveria incluir um aumento da taxa de juros de 0,75 ponto percentual entre suas opções para a reunião de política monetária de setembro, dada a inflação excepcionalmente alta, disse na terça-feira (30) o membro do conselho do BCE e presidente do banco central da Estônia, Madis Muller.

Também é apontado como motivo para a valorização da Bolsa brasileira a presença de ações de produtores de matérias-primas que podem ganhar valor com as secas na China e na Europa ou com o agravamento da Guerra da Ucrânia.

Dólar sobe pressionado por juros e Ptax

No mercado de câmbio brasileiro, o dólar comercial apresentou forte valorização frente ao real nesta quarta-feira (31), também pressionado pela expectativa de elevação dos juros nas principais economias globais.

A moeda americana negociada à vista fechou em alta de 1,76%, cotada a R$ 5,2010 na venda. No acumulado de agosto, houve elevação de 0,54%.

O fechamento mensal da Ptax também pode ter influenciado no valor da moeda americana nesta quarta.

A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar.

Em dia de pagar dividendos, Petrobras resiste ao tombo do petróleo

No mercado local, as ações mais negociadas da Petrobras subiram 2,47% nesta quarta, após registrarem forte queda na véspera, na esteira do recuo nos preços do petróleo no mercado internacional.

A matéria-prima aprofundou o mergulho nesta quarta diante da preocupação de que o aperto monetário para o combate à inflação possa abrandar a demanda por combustível.

No final da tarde, o barril do Brent marcava desvalorização de 2,84%, cotado a US$ 96,49 (R$ 499,66).

A Petrobras pagou nesta quarta aos seus acionistas a primeira parcela dos dividendos referentes ao segundo trimestre de 2022, que somam um valor total de R$ 87,8 bilhões, ou cerca de R$ 6,73 por ação.

O pagamento é dividido em duas parcelas de R$ 43,9 bilhões, correspondente a R$ 3,36 por ação ordinária e preferencial, com a segunda parcela prevista para ser paga em 20 de setembro.

Terão direito ao pagamento aqueles acionistas que tinham ações da empresa na data de 11 de agosto.

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