Descrição de chapéu Rio

Cláudio Castro culpa União por dívida contraída por Copa e Olimpíada e provoca Haddad

Governador do RJ afirma em ação no STF que dívida para grandes eventos representa quase metade de todo o estoque

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Rio de Janeiro

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), atribuiu especial responsabilidade à realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016 o acúmulo da dívida classificada como "impagável" na ação proposta para sua revisão no STF (Supremo Tribunal Federal).

De acordo com a petição apresentada nesta sexta-feira (26), empréstimos obtidos entre 2009 e 2016 representam R$ 62,6 bilhões, o que representa cerca de 40% do estoque da dívida do estado com a União, que soma R$ 156,8 bilhões.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, durante evento de entrega de unidades habitacionais do Minha Casa, Minha Vida, na cidade de Magé, interior do estado do Rio - Eduardo Anizelli - 6.fev.24/Folhapress

Castro afirma na ação que a Secretaria de Tesouro Nacional aprovou as operações de crédito "apesar de saber que o estado não tinha capacidade de pagar". As contas estaduais à época, segundo a ação, apresentaram classificação C e D, o que deveria impedir a concessão de garantia da União.

"A exclusivo critério do Ministro da Fazenda, as operações poderiam ser consideradas elegíveis, em caráter excepcional, desde que ‘os recursos correspondentes sejam destinados a projeto considerado relevante para o governo federal'", afirma a ação assinada por Castro.

"A maioria destas operações de crédito então realizadas visavam financiar melhorias na infraestrutura da cidade do Rio de Janeiro para a realização de eventos esportivos de grande porte, como as Olimpíadas, os Jogos Paralímpicos e a Copa do Mundo, acordados pelo governo federal com o COI e a Fifa. [...] Não se pode tolerar que todo o ônus de uma política decidida no nível nacional seja suportado, exclusivamente, pelo estado do Rio de Janeiro."

Delegação brasileira comemora escolha do Rio de Janeiro como sede da Olimpíada de 2016; da esq. para a dir., Carlos Arthur Nuzman (de braços erguidos na primeira fileira), presidente do COB, o escritor Paulo Coelho (na fileira de trás), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governador Sérgio Cabral, o prefeito Eduardo Paes - Olivier Morin - 2.out.09/AFP

O argumento faz parte da ação apresentada por Castro ao STF em que pede a revisão do cálculo sobre o estoque da dívida do estado com a União. O governador pediu uma liminar para suspender o pagamento até a repactuação do débito —atualmente de cerca de R$ 800 milhões por mês.

O documento protocolado afirma que o objetivo da ação "é permitir que cheguem ao fim os desmandos e a conduta abusiva da União em relação à cobrança da dívida pública do estado". O ministro Dias Toffoli foi definido como relator, por ter atuado na ação em que o estado discutia as regras do Regime de Recuperação Fiscal.

A tese principal do governador é de que, por não ser uma instituição financeira, o governo federal não poderia cobrar juros, mas apenas a atualização financeira do passivo até o limite da inflação. Castro declarou ter recebido o aval de cinco ministros do STF sobre o entendimento.

Na ação, o Governo do Rio de Janeiro sugere que a União adote para o cálculo para correção do estoque da dívida o crescimento da arrecadação dos estados. Segundo o documento, se adotado o crescimento anual do ICMS como métrica retroativa, o passivo do estado cairia de R$ 156,8 bilhões para R$ 44 bilhões, em valores de dezembro de 2023.

A ação faz um histórico das renegociações das dívidas feitas entre estado e União desde 1997. Castro critica, além dos grandes eventos, desde o modelo de privatização do Banerj, em 1997, até as regras do Regime de Recuperação Fiscal, cuja segunda versão foi assinada em 2022.

Assim como já havia feito publicamente, Castro criticou o corte forçado nas alíquotas de ICMS sobre combustíveis e energia elétrica no último ano do governo Jair Bolsonaro (PL), seu aliado. A desoneração, que gerou um desfalque bilionário, foi atribuída na ação assinada pelo governador ao "momento político-eleitoral".

Castro classifica as regras da primeira versão do Regime de Recuperação Fiscal de "draconianas". Afirma que o estado foi obrigado a abrir mão das ações judiciais para questionar a dívida para aderir ao programa.

"As renúncias [às ações judiciais] se deram sob grave e irresistível coação, pois, caso não ocorressem, o Estado do Rio de Janeiro simplesmente quebraria", diz o governador fluminense.

"O Estado do Rio foi o único a aderir ao primeiro 'regime de recuperação fiscal', pois os demais, embora asfixiados pela dívidas pública, não aceitaram as draconianas imposições do Tesouro Nacional, optando por seguirem se valendo de decisões judiciais protetivas."

A petição tem ainda uma provocação ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad , em menção a sua atuação sobre o tema quando era prefeito de São Paulo.

"O então prefeito do município de São Paulo, hoje eminente ministro da Fazenda, Fernando Haddad, liderou movimento nacional para reduzir os juros da dívida com a União, tendo sido parcialmente vitorioso em sua pretensão ao obter a redução dos encargos municipais para IPCA+4%, o que equacionar a dívida municipal", afirma a ação.

Castro anunciou a intenção de protocolar a ação no fim do ano passado. Contudo, adiou a judicialização em busca de um acordo junto com outros governadores com o ministro da Fazenda.

No final do mês passado, o Ministério da Fazenda apresentou a governos estaduais proposta para reduzir os juros das dívidas dos estados com a União, exigindo em contrapartida a criação e ampliação de matrículas em educação profissional técnica

O programa também prevê juros mais baixos para governos regionais que amortizarem antecipadamente parte de seus débitos com o governo federal. Há duas semanas, Castro criticou a proposta.

"A proposta de trocar os juros por ciência e tecnologia é muito boa desde que tenha o recurso para investir. Mas quando você não tem o recurso, por mais que se tenha boa intenção, a operacionalidade disse é muito ruim", disse Castro a jornalistas no Fórum Brasileiro de Líderes em Energia.

"Você não consegue investir R$ 5 ou 6 bilhões para tirar da parcela [da dívida], isso não é razoável. Tem que ter uma outra ideia, de primeiro ter o desconto para depois usar o dinheiro [em ciência e tecnologia]", afirmou.

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