Musk testa limites da governança ao ter filhos com assessora

Shivon Zilis, executiva da Neuralink, teria se submetido a um processo de fertilização in vitro

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Rachael Levy
Washington | Reuters

A decisão de Elon Musk de ter filhos com uma de suas principais executivas na Neuralink ultrapassou os limites das normas de governança corporativa, segundo nove especialistas em governança corporativa que deram interpretações divergentes do código de conduta da empresa para os funcionários.

Mais conhecido por sua fábrica de carros elétricos Tesla e pela construtora de foguetes SpaceX, Musk também é o executivo-chefe da Neuralink, empresa com cerca de 300 funcionários que busca desenvolver chips para conectar o cérebro humano diretamente a máquinas.

Musk e Shivon Zilis, uma de suas subordinadas diretas na empresa, tiveram bebês gêmeos em novembro passado, informou o Insider em 6 de julho, citando um processo judicial confidencial.

Homem branco, de camiseta preta, põe uma das mãos na cabeça
O bilionário sul-africano Elon Musk, 51 anos. - Adrees Latif/REUTERS

Zilis, 36, disse desde então a alguns de seus colegas que não estava envolvida romanticamente com Musk, 51, e concebeu os filhos com ele por meio de fertilização in vitro (FIV), segundo cinco pessoas informadas sobre o caso. A Reuters não conseguiu estabelecer a exatidão do relato de Zilis.

Zilis e porta-vozes de Musk e da Neuralink não responderam a pedidos de comentários.

As relações entre supervisores e subordinados são desaprovadas nas empresas e já custaram os empregos de alguns CEOs, pois violam a maioria das políticas corporativas e levantam preocupações sobre conflitos de interesses, disseram especialistas em governança corporativa.

O manual dos funcionários da Neuralink, de 62 páginas, cuja cópia foi vista pela Reuters, proíbe namoros, "relacionamentos pessoais" e "amizades pessoais íntimas" entre funcionários que tenham uma relação direta de supervisão, para evitar conflitos de interesses.

Mas os fatos apresentados pelo relacionamento de Musk e Zilis são tão incomuns que os especialistas em governança corporativa que revisaram a política para a Reuters expressaram opiniões divergentes sobre se o empresário violou as regras ao ter filhos por fertilização in vitro com sua subordinada.

"Seja qual for o advogado que escreveu esse texto não contemplou essa situação", disse Nell Minow, vice-presidente da consultoria de governança corporativa ValueEdge Advisors, referindo-se ao código de conduta da Neuralink.

Ela acrescentou que a situação parecia "ficar entre as brechas" da intenção do manual de evitar conflitos de interesses em relacionamentos entre funcionários.

O código de conduta da Neuralink exige que os relacionamentos que possam criar um conflito de interesses sejam divulgados ao "gerente de operações de pessoal" da empresa para que este decida se deve tomar medidas para eliminar qualquer conflito.

A Reuters não conseguiu saber se Musk ou Zilis haviam divulgado o relacionamento para Kristy Hilands, a gerente de operações de pessoal. Hilands não respondeu a pedidos de comentários.

A Neuralink aceitou a descrição de Zilis de um relacionamento não romântico, e ela continua em seu papel como diretora de operações e projetos especiais, disse uma fonte familiarizada com a condução do assunto pela empresa. Nas semanas desde a divulgação de seus filhos, Musk e Zilis também continuaram trabalhando juntos, liderando reuniões internas e externas da empresa, segundo duas pessoas com conhecimento direto do assunto.

Por exemplo, depois de saber nas últimas semanas que a concorrente Synchron havia derrotado a Neuralink em um teste em humanos nos Estados Unidos, Musk enviou Zilis para abordar o CEO da empresa, Thomas Oxley, e marcar uma reunião, segundo três fontes familiarizadas com o assunto. Zilis e Musk conversaram com Oxley pouco depois sobre um possível investimento de Musk na Synchron, disseram as fontes.

Aberto a interpretação

Quatro dos especialistas em governança corporativa disseram acreditar que Zilis ter filhos com Musk por meio de fertilização in vitro deve ser interpretado como um "relacionamento pessoal" ou "amizade íntima" sob o código de conduta da Neuralink. O código define um relacionamento pessoal como um em que os indivíduos têm um "relacionamento contínuo de natureza romântica ou íntima e que não são casados entre si". Não define uma amizade íntima.

"Você está colocando laços familiares íntimos sobre relacionamentos profissionais", disse Gabriel Rauterberg, professor de direito corporativo da Universidade de Michigan. "Sempre há a preocupação de que alguém com maior poder use seu poder profissional de maneiras inadequadas."

Os outros cinco especialistas em governança corporativa entrevistados pela Reuters não acharam que o acordo de Musk e Zilis fosse uma violação da política da Neuralink, ou não conseguiram chegar a uma conclusão definitiva.

Usha Rodrigues, professora da faculdade de direito da Universidade da Geórgia, disse que a situação de Musk e Zilis "pode se enquadrar em 'amizade íntima' se houver um relacionamento contínuo do tipo coparentalidade, mas isso está sujeito a interpretação".

A extensão do envolvimento de Musk na vida de seus filhos com Zilis não pôde ser apurada pela Reuters. O processo judicial publicado pela Insider mostra que, em abril, eles pediram que as crianças adotassem o sobrenome Musk. Musk e Zilis também listaram o mesmo endereço no Texas.

Joan Heminway, professora de administração da faculdade de direito da Universidade do Tennessee, disse que não é fácil provar que Musk e Zilis sejam próximos pessoalmente, mesmo que tenham feito fertilização in vitro juntos. "Esse é o detalhe aqui", disse ela.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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