Descrição de chapéu mudança climática

Equipe de transição em energia tem perfil técnico, mas mercado espera ministro político

Necessidade de fazer alianças pode colocar no comando da pasta nome de um partido de centro-direita

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O grupo da transição de governo para tratar de energia e mineração veio reforçado por uma equipe com muitos técnicos, o que foi interpretado como uma disposição do governo eleito em preparar terreno para enfrentar os novos debates que marcam essas áreas, como transição energética e eficiência ambiental.

A composição também reforçou a percepção no setor de que a terceira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reserva uma vaga política para o comando do MME (Ministério de Minas e Energia).

O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin
O vice-presidente eleito Geraldo Alckmin - Pedro Ladeira - 16.nov.22/Folhapress

O nome mais destacado no grupo é o de Mauricio Tolmasquim, que foi secretário-executivo do MME e presidente da EPE (Empresa de Planejamento Energético). A avaliação é que ele tem uma visão ampla, robusta e moderna sobre as demandas do setor, especialmente no segmento de energia elétrica. A maioria acredita que ele estará em algum posto no próximo mandato.

Outros indicados reconhecidos por seu conhecimento nessa área em particular são Nelson Hubner, que foi diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e Giles Azevedo, apontado como um dos maiores especialistas em mineração do PT.

A presença de Robson Formica foi recebida como um detalhe peculiar. Integrante do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), ele seria uma voz de cunho mais social no que poderia ser a retomada do debate sobre como encaminhar a construção de novas hidrelétricas.

Há apenas um integrante com experiência mais consolidada no setor privado, Guto Quintela, que foi diretor global da Vale e sócio do BTG Pactual.

A preponderância de profissionais com atuação nas áreas sindical, de gestão pública e acadêmica não deixou dúvidas: o sinal é de mudança na gestão dessa área, de pró-setor privado para pró-Estado.

Isso também reforçou a expectativa em relação a uma possível reversão na privatização da Eletrobras. Apesar de onerosa e complexa, ela é defendida por alguns integrantes da coalizão que apoia Lula e tem inspirado preocupação da atual direção da ex-estatal.

Nessa nova ótica, existe uma expectativa em relação ao tratamento que será dado a questões hoje polêmicas, como a velocidade de abertura do mercado de energia elétrica, que foi colocada em discussão pelo atual governo, e o destino dos subsídios que recaem sobre a conta de luz, crescentes e onerosos para o custo da energia tanto em residências como empresas.

Os nomes também sinalizam a preocupação em ter um setor mais alinhado com renováveis. O ex-deputado Fernando Ferro é um exemplo. O parlamentar há mais de uma década olha para fontes renováveis, em Pernambuco.

A escolha dos integrantes com currículo consolidado na área de óleo e gás também agradou pela experiência e visão moderna, mas igualmente reforçou a ideia de mudança no foco na área, especialmente na gestão da Petrobras.

A estatal reduziu investimentos, faz privatizações, ampliou o pagamento de dividendos a acionistas e ainda não apresentou um plano mais amplo para atuar na transição energética, como foi feito pelas demais grandes petroleiras do mundo.

Há grande expectativa em relação a política de preços dos combustíveis na nova gestão Lula, bem como será conduzido o novo ciclo de investimentos da estatal, que nos últimos anos focou na exploração do pré-sal.

O próprio Lula, no entanto, questiona o que chama de dolarização do preço dos combustíveis e também anunciou a intenção de retomar a expansão das refinarias, ainda que o setor de óleo e gás tenda a perder espaço na transição energética.

Entre os integrantes do grupo estão especialistas com uma visão moderna, caso do senador pelo PT Jean Paul Prates. Apesar da longa trajetória em óleo e gás, ele se estabeleceu como um legislador em favor das renováveis. Neste momento, está na COP 27, acompanhando os debates das mudanças climáticas e as falas de Lula.

Prates tem sido nome recorrente para ocupar algum cargo no próximo governo. Já foi citado para comandar o ministério ou a Petrobras.

Outra integrante do grupo de transição que também foi cogitada é Magda Chambriend. Ela já comandou a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) e o setor receberia bem a indicação de uma mulher para o posto, que costuma ser reservado à presença masculina.

Entre os especialistas em energia, ninguém entendeu muito bem a presença de Anderson Adauto, ministro dos Transportes de 2003 a 2004, no distante primeiro mandato de Lula. A leitura foi que sua indicação busca equilibrar a balança política.

Adauto atualmente é do PCdoB, que integra a coalizão de apoiou Lula, mas olhando pelo aspecto partidário, a maior parte dos indicados para esse grupo de transição é alinhada ao PT, com destaque para profissionais que atuaram com Dilma Rousseff, tanto quando ela esteve no ministério quanto na Presidência.

Ampliando essa leitura política, a percepção no mercado é que o ministro não está no grupo da transição.

Essa pasta foi, em inúmeros casos, ocupada por um político amparado por técnicos qualificados. Diante da necessidade de fazer alianças partidárias para ampliar a interlocução com Câmara e Senado, a leitura geral é que Lula vai colocar na cadeira do MME alguma indicado por partidos mais de centro-direita, como MDB e PSD, ou mesmo algum integrantes da base do Centrão.

Um dos nomes que circularam mais recentemente foi o do ex-governador de Alagoas, Renan Calheiros Filho (MDB). Seu pai, o senador Renan Calheiros (MDB-AL) apoia Lula, mas há certa insatisfação na família em ver Lula buscando aliança com um de seus desafetos, o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). Um ministério poderia aplacar o descontentamento e fortalecer laços políticos.

Também circularam no mercado nomes como o do senador Eduardo Braga (MDB).

A leitura, no entanto, é que Lula ainda não bateu o martelo, pois precisa resolver o quebra-cabeça político antes. A Folha consultou representantes de todos os segmentos do setor, que preferiram não ter os nomes citados nessa primeira fase da transição.

QUEM É QUEM NO GRUPO DE TRANSIÇÃO DE MINAS E ENERGIA

  • Anderson Adauto, ministro dos Transportes de 2003 a 2004, durante o primeiro mandato de Lula, prefeito de Uberaba, por dois mandatos de 2005 a 2012, e deputado estadual em Minas por 16 anos, de 1987 a 2003, já passou por vários partidos, como MDB, PL e Republicanos, mas atualmente está no PCdoB
  • David Barcelar, petroleiro graduado em Administração, com especializações em gestão de pessoas, coordenador-geral da Fup (Federação Única dos Petroleiros), também foi representante dos trabalhadores no conselho de administração da Petrobras (2015-2016)
  • Fernando Ferro, engenheiro especializado em sistemas elétricos e ex-deputado federal por Pernambuco (PT)
  • Giles Azevedo, geólogo e ex-chefe de gabinete do Ministério de Minas e Energia, foi assessor especial da presidente Dilma Rousseff
  • Guto Quintela, agrônomo de formação, empresário do agronegócio, é membro do conselho diretor do Centro de Empreendedorismo da Amazônia. Foi diretor global da Vale e sócio do BTG Pactual
  • Ikaro Chaves, engenheiro eletricista da Eletronorte e diretor da Associação dos Engenheiros e Técnicos do Sistema Eletrobras
  • Jean Paul Prates, advogado e economista, senador do PT pelo Rio Grande do Norte e presidente do Sindicato das Empresas do Setor Energético do RN
  • Magda Chambriard, mestre em Engenharia Química pela Coppe/UFRJ e Engenheira Civil pela UFRJ, é coordenadora de pesquisa na FGV Energia. Foi diretora- geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis)
  • Mauricio Tolmasquim, engenheiro de produção, é professor titular da Coppe/UFRJ. Foi secretário-executivo e ministro interino do MME (Ministério de Minas e Energia) no governo Lula e presidente da EPE (Empresa de Planejamento Energético)
  • Nelson Hubner, engenheiro, atua na área de energia. Foi secretário executivo e ministro interino do MME. Foi, também, diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) e presidente do conselho de administração da Light
  • Robson Sebastian Formica, especialista em Energia e Sociedade, que integra a coordenação nacional do MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens)
  • William Nozaki, professor de Economia em São Paulo e diretor do Ineep (Instituto de Estudos estratégicos de petróleo, gás e biocombustíveis)
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.