Lula quer empresário na Indústria, mas enfrenta barreiras, e Alckmin passa a ser cotado

Industriais convidados apontaram travas legais e escolha de ministro fica restrita; vice-presidente eleito é um dos cotados

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Brasília

Com a recusa de industriais consultados para assumir o comando do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio), o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se vê diante de uma encruzilhada. Quer um empresário para chefiar a pasta, mas acaba considerando a possibilidade de delegar essa missão para seu vice, Geraldo Alckmin (PSB-SP).

Assessores de Lula afirmam que barreiras legais impedem grandes empresários de aceitar o cargo: eles não podem ser acionistas de uma empresa que atua na mesma área do ministério.

Esse foi o principal motivo que levou Josué Gomes da Silva, da Coteminas, e Pedro Wongtschowski, do grupo Ultra, a declinar do convite. Se aceitassem, também haveria restrições para que retornassem às empresas após deixarem o cargo devido à exigência de quarentena (seis meses).

A ideia de Lula em torno de um empresário à frente da pasta se deve a uma de suas promessas feitas durante a campanha de conduzir um projeto de reindustrialização no país.

O presidente Lula (PT) e o vice, Geraldo Alckmin (PSB), em encontro com empresários na Fiesp durante a campanha. - Marlene Bergamo -9.ago.2022/Folhapress

Para isso, Lula quer um nome que transite bem entre o empresariado e, ao mesmo tempo, construa pontes com o Congresso para a definição de novas políticas para o setor.

Sem alguém do setor produtivo disposto a liderar esse processo no governo até o momento, Lula agora se inclina para opções mais políticas.

O nome de Alckmin (PSB-SP) é citado como uma opção com boas chances de chefiar o ministério. Ele teve o apoio do setor industrial quando disputou a Presidência em 2018.

Nesta terça, Alckmin se reuniu com o representante do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) no Brasil, Morgan Doyle, no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil), local escolhido como sede da transição de governo.

Segundo aliados, a visita de "cortesia" após a eleição do brasileiro Ilan Goldfajn à presidência do BID abre um canal de diálogo sobre financiamentos já contratados e o desenvolvimento de novas parcerias.

O ex-senador Armando Monteiro —que chefiou o Mdic no governo Dilma Rousseff— é outro nome citado.

Consultado, Monteiro negou ter recebido o convite e disse que sua possível indicação é "balão de ensaio".

Entretanto, seu nome é bem-visto por petistas do núcleo presidencial e empresários ligados à CNI (Confederação Nacional da Indústria) —todos afirmaram que Monteiro está em alta na bolsa de apostas.

Para conduzir a missão dada por Lula de reindustrializar o país, o futuro ministro contará em sua pasta com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e com a Apex, agência de promoção das exportações.

Sob Jair Bolsonaro (PL), o setor sofreu com a redução de tarifas de importação em um momento de fragilidade advinda com a pandemia.

Muitos setores perderam mercado interno para importados. Na indústria petroquímica, por exemplo, o déficit na balança comercial deve passar de US$ 60 bilhões neste ano —mais que o dobro do que foi há quatro anos.

Até a semana passada, havia incertezas sobre os rumos do Mdic. Muitos partidos demonstravam desinteresse na pasta, que, até aquele momento, ficaria sem o BNDES, a Apex e a Camex (Câmara de Comércio Exterior), hoje vinculados ao Ministério da Economia.

No entanto, somente a Camex ficará com a Fazenda, segundo relatos. BNDES e Apex serão deslocados para o Mdic, que, com essa configuração, voltou a se tornar atrativo.

Uma das restrições apontadas pelos empresários a Lula foi, justamente, o desconforto de —como possível ministro— definir políticas que seriam executadas pela Fazenda por meio do BNDES e da Camex.

Um banqueiro no BNDES

Para a retomada, o BNDES terá papel fundamental. Sua tarefa será definir ferramentas financeiras (não somente linhas de crédito) que abram espaço para o investimento em parques industriais no país.

Diante desse desafio, o futuro presidente do banco, Aloizio Mercadante, chamou Alexandre Abreu para fazer parte da diretoria da instituição.

O executivo, que já aceitou o convite, foi presidente do Banco do Brasil e, mais recentemente, dirigiu o Banco Original. Atuou na Febraban (Federação Brasileira de Bancos) nos últimos sete anos como representante dessas instituições.

Seu trânsito no mercado financeiro levou Mercadante a convidá-lo. Uma das metas é aproximar o BNDES das instituições financeiras.

Em conversa recente com o presidente da Febraban, Isaac Sidney, Mercadante apresentou as principais diretrizes que pretende imprimir no comando da instituição de fomento.

Disse que não há mais espaço fiscal para a política de subsídios e que o BNDES não dará crédito para exportações nos mesmos moldes do passado.

Segundo Sidney, a saída será por meio de funding privado (captação com instituições do mercado) e via Fundo Garantidor (que concederá aval para lastrear empréstimos). Ambas as ferramentas deverão mitigar risco de crédito.

Esses serão os pilares para a retomada da indústria e também para o fomento da descarbonização (políticas de redução de emissões de poluentes) e da transição energética e ecológica da economia.

Na Febraban, a avaliação é que Abreu dificilmente aceitaria um cargo que não fizesse sentido com sua trajetória —construída totalmente na indústria bancária e com desempenho exitoso.

Abreu dividirá a diretoria do banco com Nelson Barbosa, ex-ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, e com a ex-ministra do Desenvolvimento Social Tereza Campello.

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