Mesmo com os preços em alta, os paulistas estão indo às compras nesta Páscoa. A corrida às lojas é para garantir o almoço e a troca de ovos no domingo. Os preços salgados são motivo de reclamação, mas não espantam a clientela.
Lojistas comemoram. No Mercado Municipal, região central da capital paulista, os donos das bancas de pescados estimam vendas entre 5% e 10% maiores em 2023 na comparação com 2022, apesar do quilo do bacalhau não sair a menos de R$ 100.
Na rede Chama Supermercados, que atende a zona leste de São Paulo e cidades da Grande SP, a expectativa é de vendas 20% maiores. Na Cacau Show, onde ovos esgotaram, a aposta é vender 40% mais.
Isso ocorre apesar de os produtos mais tradicionais da data registrarem uma alta média de 12% em comparação ao ano passado. O índice é mais que o dobro da inflação, que está acumulada em 4,81% entre abril de 2022 e março de 2023 de acordo com o IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor).
O ovo (aumento de 27,31%) e a cebola (22,67%) são os grandes vilões do período. Os peixes, usualmente consumidos na Sexta-feira Santa e no domingo de Páscoa, também superam a casa dos 10%: atum (12,97%), sardinha em conserva (11,46%) e bacalhau (10,91%).
A reportagem da Folha percorreu supermercados e lojas de chocolate nas zonas leste, central e norte da capital paulista, além do Mercado Municipal, nesta quinta-feira (6). Promoções e variedades são o principal meio de atrair os clientes. O alto movimento tende a se intensificar ainda mais até domingo.
A três dias da Páscoa, o Mercado Municipal de São Paulo registrou movimento intenso da busca pelo bacalhau para a ceia do feriado. A maioria dos comerciantes do local consideram que as vendas deste ano serão maiores do que as do ano passado.
O aumento do preço não afetou as vendas do peixe, segundo proprietários e funcionários da bancas. Além do tradicional bacalhau gadus morhua, cujo quilo não sai por menos de R$ 100, os boxes oferecem outras opções de peixe salgado, que podem ser mais baratas, encontrados por valores a partir de R$ 89,90 no caso do peixe desfiado.
As barracas do Mercadão que oferecem o produto nunca estão vazias e os funcionários não param, atendendo a mais de um cliente por vez. Apesar do otimismo dos consumidores, a maior reclamação de comerciantes e clientes é o preço do peixe.
"A gente tem recebido reclamações por conta dos preços, principalmente por ser uma clientela que frequenta aqui há bastante tempo, então eles acabam notando e reclamando", diz Kauan Alex, responsável por uma das bancas que vendem o produto.
Como forma de contornar esse aumento, a estratégia de muitos é oferecer variedades de tipos de bacalhau, indo de cortes mais nobres para clientes exigentes até os mais simples para quem faz questão apenas de ter um peixe que lembre o bacalhau na ceia.
Entre os clientes ouvidos pela Folha, muitos dizem que pesquisaram antes de realizar a compra para celebrar o feriado. "Estou comprando o bacalhau desfiado, porque acho um absurdo o preço desses outros. Está bem fora mesmo, acho que é uma exploração, mas, para não deixar a Páscoa passar em branco, estamos levando um que está mais em conta", afirma Helena Moraes, 50.
O palpite dos comerciantes é que a busca pelo bacalhau dessalgado aumente para quem deixou a compra para última hora.
Busca por chocolate tem fila em lojas e falta de ovos
Nas lojas da Cacau Show, além da fila para entrar em várias unidades, alguns ovos estão esgotados. Não é mais possível encontrar as opções com brindes de personagens como Harry Potter e Ursinhos Carinhosos, de futebol ou mesmo os tradicionais, como de pistache e mil folhas.
As apostas são altas, de vendas 40% maiores do que as de 2022, o que está em consonância com o movimento de compras dos clientes, diz Daniel Roque, vice-presidente de marketing e vendas da rede. "Nesses últimos dias que antecedem o domingo Páscoa, as vendas têm crescido bastante; percebemos que os consumidores deixaram para realizar suas compras essa semana."
Sobre a procura, diz que os ovos que fizeram mais sucesso estão realmente esgotados na maioria das lojas pelo país. "Para essa Páscoa, ainda é possível encontrar diversos outros produtos da linha infantil, que acompanham brindes colecionáveis", afirma.
As filas também tomaram conta de uma unidade das Americanas na região central, chegando a dobrar nos corredores. Com araras de ovos vazias, os consumidores ouvidos pela reportagem diziam não ter feito pesquisa de preço antes de ir ao local.
A cesta de compra variava. Muitos optaram por ovos de Páscoa, mas alguns davam preferência a caixas de bombom e barras de chocolate. Mesmo com alguns ovos em oferta, eles afirmam que o custo-benefício não compensa.
"A Páscoa é a verdadeira 'Black Friday do chocolate' da Americanas", afirma Aleksandro Pereira, diretor comercial da rede, lembrando que a estratégia foi oferecer todos os tipos de produtos, os mais simples aos premium.
Em 12 meses até janeiro, os preços do chocolate em barra e do bombom acumularam alta de 13,61% no Brasil, segundo o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
Trata-se da maior variação desde fevereiro de 2017. À época, os produtos haviam subido 17,23% em 12 meses, de acordo com os dados pesquisados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Pagamento de salário alavanca vendas, diz gerente de supermercado
Para Alessandro Rodrigues Correa, gerente de uma das lojas do Chama Supermercados, o aumento nas vendas está relacionado a dois fatores: a superação da pandemia, e a data em que a Páscoa deste ano será comemorada, logo depois do dia 5, quando ocorrem os pagamentos de salários.
"Está melhor do que em anos anteriores. Até 2022, ainda tinha restrições e muitos receios com a pandemia. O que está ajudando também é a questão que a Páscoa caiu em data de pagamento. O pessoal faz as compras de abastecimento do mês e já leva os bombons", diz.
Ele afirma que as vendas têm respondido a promoções feitas pela rede, que terá esquema especial de funcionamento no feriado e espera vender 20% neste ano. A estratégia levou em consideração o aumento de vendas de 8,49% de janeiro a março deste ano, já descontada a inflação.
"Aderimos a todo mix das marcas principais e também negociamos uma marca com preço mais acessível para atender nosso público com menor poder aquisitivo. A estratégia mais assertiva foi antecipar as compras e montagem das parreiras em todas as lojas", diz a rede.
Clientes desenvolvem as próprias estratégias para comemorar a data
Dentre os consumidores, há quem tenha desenvolvido as próprias estratégias para garantir a compra do chocolate, mesmo com o preço em alta. Este é o caso da fisioterapeuta Mônica Pantaleão, 38, que preferiu se antecipar nas compras neste ano para não estourar o orçamento. A estratégia foi pesquisar.
Com duas filhas, Alice, 13, e Sofia, 4, a maior preocupação era não deixar nenhuma delas sem o ovo de Páscoa escolhido. "Já comprei de todo mundo antecipado. Das meninas, um dos ovos eu comprei no supermercado e o outro em uma loja para garantir o que elas queriam. Os preços na loja estavam muito bons, mas, no supermercado, estou achando mais salgados."
A enfermeira Mara Ferreira, 43, diz que optou por comprar caixas de bombons para não deixar os filhos sem chocolate, porque achou os ovos caros. Negociou com os adolescentes de 15 e 17 anos e vai dar dinheiro como presente. "Eles estão grandes, então vou dar um dinheiro para comprar o chocolate que eles querem."
Para economizar com os pescados, ela e as irmãs vão dividir os custos do almoço no domingo de Páscoa, a ser feito pela mãe. "Ela compra as coisas e a gente divide em três, entre eu e minhas irmãs. Não sei os preços dos peixes, mas vi que está bem caro o bacalhau. Para caber tudo no orçamento, levo menos", afirma.
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