Descrição de chapéu Previdência inss

Previdência do Brasil é a 65ª pior em lista com 75 países; veja ranking

Mesmo após reforma do INSS em 2019, país piorou sua posição no ranking do Grupo Allianz

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São Paulo

Mesmo após a reforma da Previdência de 2019 o Brasil não conseguiu avançar em um ranking de Previdência global preparado pelo Grupo Allianz. O país ocupa a 65ª pior colocação entre 75 países.

O sistema previdenciário brasileiro obteve 4,3 pontos no Relatório Global de Previdência —API (Allianz Pension Index)—, pontuação pior do que os 4 pontos recebidos em 2020, último ano em que o ranking foi publicado. Para o Allianz, o país precisa de mais reformas.

A pontuação dos países varia de 1, que significa muito bom, a 7, indicando situação muito ruim. São analisados 40 parâmetros, dentro de três pilares básicos, que incluem análise das condições demográficas e fiscais, determinação da sustentabilidade (por exemplo, financiamento e períodos de contribuição) e adequação do sistema previdenciário (por exemplo, grau de difusão e nível de previdência).

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Agência da Previdência Social na capital paulista; ranking coloca país na 65ª pior colocação em lista com 75 nações - Rivaldo Gomes - 23.mar.22/Folhapress

Veja o ranking de Previdência em 75 países

País API 2023 Condições básicas Sustentabilidade Adequação
Dinamarca 2,2 3 2,5 1,4
Países Baixos 2,6 2,9 3,4 1,7
Suécia 2,6 3,1 2,9 2,1
Nova Zelândia 2,8 3,1 3,4 2,1
Estados Unidos 2,9 3,5 2,8 2,6
Tailândia 2,9 4 2,8 2,4
Israel 2,9 2,8 3,5 2,5
Bélgica 3 3,9 3 2,4
Austrália 3 3,1 3 3
Coreia 3,1 4 2,8 3
Luxemburgo 3,1 3,2 4,1 2,1
Suíça 3,1 3,2 3,9 2,4
Reino Unido 3,1 3,5 3,7 2,4
Portugal 3,2 4,8 2,7 2,8
Alemanha 3,2 3,9 3,3 2,8
Japão 3,2 4 3,8 2,3
China 3,2 4,8 2,9 2,8
Itália 3,3 4,7 3,1 2,7
Noruega 3,3 3 4 2,7
Canadá 3,3 3,1 3,9 2,8
Finlândia 3,3 3,8 3,5 2,9
Estônia 3,4 3,7 3,1 3,4
Irlanda 3,4 3,2 3,8 3
França 3,4 3,9 3,7 2,8
Bulgária 3,4 4,7 2,9 3,3
Áustria 3,4 4,2 3,9 2,6
Letônia 3,4 4 3,7 2,8
Malta 3,4 3,8 4,6 2,1
Grécia 3,4 5 3 3
Lituânia 3,4 4,2 3,2 3,3
Indonésia 3,4 4 2,1 4,5
Hong Kong 3,4 3,2 3,9 3,1
México 3,5 4,3 2,8 3,8
Casaquistão 3,5 3,5 3,6 3,3
Espanha 3,5 4,6 3,7 2,7
Egito 3,5 4,4 2,3 4,2
Rússia 3,6 4,2 3,6 3,2
Filipinas 3,6 4,1 3,1 3,8
Peru 3,6 3,5 3 4,4
Eslováquia 3,7 4,4 4 2,9
Singapura 3,7 3,6 4,1 3,2
Croácia 3,7 4,5 3,5 3,5
República Tcheca 3,7 3,7 3,8 3,6
Ilhas Maurício 3,7 4,8 3,6 3,3
Eslovênia 3,7 4,4 4,3 2,8
Hungria 3,7 4,2 3,8 3,4
Chile 3,8 4 3,7 3,7
Colômbia 3,8 4,1 3,8 3,6
Tailândia 3,8 4,4 3,5 3,9
Chipre 3,9 4,1 4,3 3,3
Uruguai 3,9 3,8 4,2 3,6
Polônia 4 4,5 3,7 3,9
Paquistão 4 4 2,9 5
Catar 4 3,1 4,2 4,2
Vietnã 4 4,4 3,6 4,3
Argentina 4,1 3,9 4,4 3,8
Bahrein 4,1 4 4,6 3,8
África do Sul 4,2 3,9 3,9 4,5
Turquia 4,2 4,1 4,7 3,7
Quênia 4,2 4,2 3,5 5
Cambodja 4,2 4,2 3,5 5
Kuwait 4,2 4 4,6 4
Nigéria 4,3 3,7 4,3 4,4
Malásia 4,3 4,3 4,6 3,9
Brasil 4,3 4,7 4,7 3,6
Romênia 4,3 4,4 4,5 4
Tunísia 4,3 4,5 4,5 4
Emirados Árabes Unidos 4,4 3,2 5,1 4,3
Índia 4,4 4,3 4,9 4
Laos 4,4 4,4 3,6 5,3
Usbequistão 4,5 4,4 3,6 5,3
Arábia Saudita 4,5 3,9 4,9 4,4
Marrocos 4,6 4,4 4,7 4,6
Líbano 4,7 4,7 4,3 5,1
Sri Lanka 4,7 4,4 5,3 4,3

Embora o Brasil fique acima de países em expansão econômica como Índia, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, perde para nações como China, Argentina e Grécia, e fica bem atrás de localidades com economias e sistemas previdenciários bem consolidados, como Noruega, Suécia e Dinamarca.

Segundo o estudo, embora o país tenha elevado a idade mínima da aposentadoria com a reforma de 2019, o que pode ajudar a melhorar a sustentabilidade do sistema, a pontuação obtida no ranking indica necessidade de reformas adicionais.

"Dada a limitada margem de manobra financeira e a combinação de taxas de contribuição já elevadas e uma parcela alta de gastos públicos com os idosos –mesmo o Brasil tendo uma população ainda relativamente jovem– a sustentabilidade do sistema previdenciário, a longo prazo, é questionável", diz o relatório.

"Ao mesmo tempo, o Brasil ainda possui um dos sistemas previdenciários mais generosos do mundo, pelo menos em termos do nível de benefício bruto. No entanto, níveis baixos de cobertura e demanda atrasada em termos de acesso a serviços financeiros impedem uma pontuação acima da média no subíndice de adequação, que é 3,6", completa a análise.

Os dados mostram ainda que, com a mudança do panorama demográfico do Brasil, conforme dados do último censo, que apontam queda no número de filhos por mulheres e avanço da população idosa, até 2050, a taxa de dependência dos idosos deverá mais do que duplicar para 34,7%."

Para a advogada Adriane Bramante, presidente do IBDP (Instituto Brasileiro de Direito Previdenciário), a reforma da Previdência é muito recente e, como ainda o país vive o período de transição das mudanças, não é possível ter ideia da dimensão total dos efeitos das mudanças.

"A reforma brasileira é recente e entendo que ainda não é possível medir suas consequências, pois estamos na fase de transição. Já temos uma mudança importante na forma de contribuição atual com o aumento da terceirização e dos MEIs (microempreendedores individuais), que receberão no futuro apenas um salário mínimo", afirma.

Atualmente, quase 70% dos benefícios da Previdência Social são no valor de um salário mínimo, hoje em R$ 1.320. O valor médio pago de aposentadoria no país está em torno de R$ 1.700. Quando se consideram apenas as aposentadorias da área urbana, essa média sobe para R$ 1.900, o que dificulta o dia a dia de quem depende apenas do benefício para sobreviver, observam os especialistas. Os dados mostram ainda que, em três anos, a reforma economizou mais do que o esperado com benefícios.

"Não adianta reformar para tirar direitos, como foi o que ocorreu em 2019. O modelo de contratação de pessoas mudou e a reforma previdenciária não cuidou disso. Precisamos investir mais em educação previdenciária. A reforma desestimulou a contribuição dos jovens e colocou em descrédito a Previdência brasileira. Falta mostrar a importância da Previdência na idade avançada e o quanto ela pode proteger uma família", diz.

Assim como Adriane, Tonia Galetti, coordenadora do departamento jurídico do Sindnapi (Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), também acredita que investir em educação —especialmente a tecnológica— é o caminho que o Brasil precisa trilhar para melhorar no ranking e garantir a sustentabilidade do sistema e a qualidade de vida dos idosos no futuro.

"Parece clichê dizer, mas é preciso investir na educação, na ciência e na industrialização do país. Não vejo outro caminho. Se não tirarmos o país desse patamar de Brasil pobre com uma economia toda baseada em serviços e endividamento populacional nós nunca concretizaremos a promessa de um país em desenvolvimento", afirma.

Tanto Tonia quanto Adriane defendem uma forma ampla de pensar a Previdência, não apenas do aspecto de endurecimento de regras, mas com um custeio que envolva toda a sociedade. A presidente do IBDP preocupa-se com a regulamentação da Reforma Tributária no que diz respeito aos impostos que custeiam a seguridade social.

"A reforma tributária está excluindo PIS e Cofins, que são impostos que custeiam a seguridade social. Os tributos que os substituirão irão suprir esta mudança? A seguridade social é financiada por toda a sociedade de forma direta e indireta. A demografia é importante, sem dúvida, mas não é a única base de financiamento. Precisamos olhar de forma panorâmica e fazer uma reforma pensada tecnicamente e não politicamente", diz.

Tonia reforça a necessidade de se pensar estratégias mais amplas de custeio à Previdência. "Precisamos mudar a forma de custear a Previdência. Baseada na folha de pagamento como é hoje é realmente é um problema. Temos altos índices de desemprego e uma revolução tecnológica que vai solapar empregos. Então, sem dúvidas é preciso olhar com cuidado, não com foco em reduzir ou dificultar a proteção previdenciária, mas sim para preparar jovens e adultos para os trabalhos que existem e os que serão criados."

Desafio é global, mas com focos diferentes, diz estudo

Segundo o relatório do Grupo Allianz, o desafio de reformar sistemas previdenciários é global, mas o foco de cada reforma é diferente. "Os formuladores de políticas em países industrializados estão mais preocupados com a sustentabilidade, enquanto aqueles em muitos mercados emergentes enfrentam a importante tarefa de ampliar a cobertura do sistema previdenciário em primeiro lugar", diz o estudo.

A edição atual do Relatório Global de Previdência é baseada nos últimos dados disponíveis em março de 2023. O primeiro subíndice do ranking avalia o ritmo da mudança demográfica dos países, endividamento público e padrão de vida geral. Este quesito é mais favorável em Israel, Holanda e Noruega.

Em países como Grécia, China, Portugal e Itália, os resultados indicam a necessidade de novas reformas em meio ao rápido envelhecimento da população e margem financeira limitada para custear um sistema social de aposentadorias.

No subíndice de sustentabilidade, que avalia o quanto o sistema previdenciário está preparado para lidar com o ritmo acelerado das mudanças demográficas, os melhores desempenhos são observados em países como Egito e Indonésia, que elevaram a idade da aposentadoria e modificaram o sistema de financiamento das pensões.

O terceiro subíndice avalia a adequação dos sistemas previdenciários, questionando se eles fornecem um padrão de vida adequado na terceira idade. Isso inclui benefícios, pagamento de aposentadorias, acesso a serviços financeiros e integração de trabalhadores mais velhos no mercado de trabalho. Neste quesito, Dinamarca e Holanda lideram.

A conclusão do estudo é de que, em muitos países, as reformas da Previdência devem começar com reformas no mercado de trabalho. "Sem aumentar a participação da população economicamente ativa nos países em desenvolvimento e promover a integração de trabalhadores mais velhos nos países industrializados, até mesmo reformas de pensões bem intencionadas produzirão resultados escassos", diz o documento.

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