Novos espaços de coworking se especializam na área de saúde

Escritórios compartilhados fornecem consultórios e cuidam da gestão do negócio de médicos em SP

Valdir Ribeiro Jr.
São Paulo

Os custos para manter uma clínica de saúde podem chegar a R$ 270 mil por ano, segundo estudo do Sebrae. Para diminuir esses gastos, que envolvem insumos médicos, equipamentos, aluguel e assessoria contábil, empresas têm criado espaços de coworking específicos para profissionais de saúde.

Esses locais são baseados em um modelo no qual o profissional paga uma taxa fixa por mês para utilizar salas de atendimento compartilhadas. As formas de pagamento variam conforme o coworking, mas, em todos eles, o médico tem como vantagem não precisar cuidar da administração do negócio.

“Acreditamos que o profissional de saúde tem que estar focado em atender seus pacientes e se atualizar na medicina, e não em ter que se preocupar com a gestão”, diz Claudio Mifano, um dos três empreendedores que comandam a Livance, empresa que oferece dois espaços de coworking médico em São Paulo.

A Livance nasceu em 2016, quando Mifano conheceu Fábio Soccol e Gustavo Machado. Juntos, entrevistaram 150 médicos para entender os problemas que enfrentam quando decidem abrir uma clínica. 
“O médico sai da faculdade formado em medicina, não em administração, marketing e finanças, então nós percebemos que existia um espaço no mercado para atender esse público”, diz.

Claudio Mifano e Fabio Soccol em pé atrás de uma pessoa onde trabalha um home com notebook
Claudio Mifano (à esq.) e Fabio Soccol, em unidade do coworking de qual são sócios em SP - Zanone Fraissat/Folhapress

A Livance cobra de seus clientes uma assinatura de R$ 236 por mês, que garante ao médico um consultório, um site com atendimento online, uma linha de telefone individual, atendida por secretária, cartões de visita e um espaço para estudos. O profissional também desembolsa R$ 1 por minuto de uso das salas de atendimento.

“No dia seguinte em que o profissional se torna um cliente nosso, ele já tem tudo funcionando. Basicamente, o médico abre seu consultório em 24 horas, sem nenhuma burocracia, e só paga pelo tempo que usar o espaço para atender seus pacientes”, diz.

Abrir um coworking para profissionais da saúde tem suas particularidades. Diferentemente de um espaço compartilhado tradicional, apresentam mais regulações.

“Os banheiros precisam ser adaptados e todas as salas de atendimento devem ter pias, então a parte hidráulica é mais complicada de estruturar”, conta Mifano.
Além disso, é preciso comprar equipamentos específicos, como macas e balanças. Materiais de uso diário, como luvas, aventais e gases, precisam ser repostos sempre e armazenados adequadamente.

Uma das maiores dificuldades enfrentadas pelos sócios foi o desenvolvimento da plataforma online que faz a gestão do espaço. Era preciso ter uma ferramenta para agilizar, principalmente, o controle de fluxo das salas.

A plataforma, que levou um ano para ser desenvolvida, sincroniza as agendas de todos os médicos, ajuda no controle dos estoques e emite alertas para as camareiras limparem as salas sempre que um médico termina seu atendimento. “Sem esse controle automatizado, não teríamos a eficiência necessária para o espaço funcionar direito.”

Atualmente, a Livance conta com quase 300 médicos, de 37 especialidades diferentes em duas unidades de São Paulo. Desde a criação da empresa, os sócios investiram cerca de R$ 5 milhões. Eles não divulgam o faturamento, mas afirmam que têm crescido por volta de 15% ao mês, e que neste ano devem chegar a 10 mil consultas realizadas.

Há também opções de coworkings no mercado voltadas para os demais profissionais de saúde, como fisioterapeutas, dentistas, psicólogos, nutricionistas e profissionais de terapias holísticas. 

É o caso do Espaço Conectar. Também criado em 2016, o coworking para profissionais de saúde pode ser contratado por horas, dias da semana ou por mês.

“Se o profissional já tem uma carteira grande de clientes, pode fazer a locação mensal. Agora, se estiver começando a carreira, pode fazer a locação por períodos”, afirma André Nogueira, um dos empreendedores responsáveis pelo espaço.

A empresa conta com três unidades em São Paulo, todas próximas a estações de metrô. Nogueira conta que a maior dificuldade enfrentada pelos empreendedores foi a reforma dos imóveis para montar as salas. 

“Como a nossa ideia era dividir o espaço em vários ambientes, foi preciso redesenhar o espaço e construir paredes de drywall”, afirma. 
“Só que, como em toda grande reforma, no meio do caminho a gente descobriu problemas na parte hidráulica, na parte elétrica e, no fim, foi um imprevisto que tivemos que enfrentar”, diz. Com seus dois outros sócios, já investiu mais de R$ 500 mil na empresa. 

“Hoje temos 30 salas ativas, com todo o material necessário para cada profissional, como divãs, para psicólogos, colchonetes, para instrutores de yoga e meditação, e bolas para exercícios, usadas por fisioterapeutas”, diz. 

Trabalham nas salas compartilhadas do Espaço Conectar aproximadamente 200 profissionais que somam 31 especialidades.

Os empreendedores não informam o faturamento, mas afirmam estar em crescimento. “Já atingimos o equilíbrio financeiro no terceiro mês de operação da segunda unidade, e acredito que devemos atingir o retorno de todo investimento já feito em um ano e meio”, diz Nogueira.

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