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Morre Jim Simons, gênio da matemática que conquistou Wall Street, aos 86 anos

Investidor passou de professor do MIT a multibilionário

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Jonathan Kandell
Nova York | The New York Times

Morreu nesta sexta-feira (10) em Nova York o matemático Jim Simons, aos 86 anos. Premiado, ele abandonou a carreira acadêmica e mergulhou no mundo dos negócios —um mundo sobre o qual ele não sabia nada— e se tornou um dos investidores de Wall Street mais bem-sucedidos da história.

Sua morte foi confirmada por seu porta-voz, Jonathan Gasthalter, que não especificou a causa.

Depois de publicar estudos inovadores sobre reconhecimento de padrões, teoria das cordas e uma dissertação que combinava geometria e topologia com teoria quântica de campos, Simons decidiu aplicar seus conhecimentos a um assunto diferente —ganhar o máximo de dinheiro possível em um curto período de tempo.

O matemático Jim Simons, fundador da Renaissance Technologies
O matemático Jim Simons, fundador da Renaissance Technologies - Fred R. Conrad - 12.dez.2011/The New York Times

Aos 40 anos, ele abriu um escritório em um shopping center de Long Island e começou a provar que a negociação de commodities, moedas, ações e títulos poderia ser quase tão previsível quanto cálculo e equações diferenciais parciais.

Ignorando analistas financeiros e economistas, ele contratou matemáticos e cientistas com mentalidade semelhante.

Simons equipou seus colegas com computadores avançados para processar grandes quantidades de dados filtrados por modelos matemáticos e transformou quatro fundos de investimento de sua empresa, Renaissance Technologies, em máquinas virtuais de impressão de dinheiro.

O Medallion, o maior desses fundos, lucrou mais de US$ 100 bilhões com negociações nos 30 anos seguintes à sua criação, em 1988. Ele gerou um retorno médio anual de 66% durante esse período.

O desempenho de longo prazo foi melhor do que o que alguns investidores famosos alcançaram, como Warren Buffett e George Soros.

"Ninguém no mundo dos investimentos chega perto", escreveu Gregory Zuckerman, um dos poucos jornalistas a entrevistar Simons e autor de sua biografia, "O Homem que Decifrou o Mercado".

Até 2020, a abordagem de mercado do matemático —conhecida como investimento quantitativo, ou quant— representava quase um terço das operações de negociação de Wall Street.

Até empresas de investimento tradicionais que dependiam de pesquisa corporativa, instinto e contatos pessoais sentiram-se compelidas a adotar parte da metodologia de Simons.

Durante grande parte de sua existência, os fundos da Renaissance eram os maiores fundos quantitativos de Wall Street, e seu estilo de investimento provocou uma mudança radical na forma como os fundos de hedge (proteção) negociavam e geravam lucros para seus investidores ricos e fundos de pensão.

Quando se aposentou como presidente-executivo do negócio em 2010, o patrimônio de Simons era de US$ 11 bilhões (quase US$ 16 bilhões nos valores atuais), e uma década depois sua fortuna havia dobrado.

Enquanto continuava a supervisionar seus fundos como presidente da Renaissance, o professor dedicava cada vez mais seu tempo e riqueza à filantropia.

A Fundação Simons se tornou uma das maiores financiadoras privadas de pesquisa científica básica. E seu Instituto Flatiron usava técnicas analíticas da Renaissance para pesquisas em biologia, astronomia e física quântica.

Em 2011, sua fundação doou US$ 150 milhões para a Stony Brook University, com a maior parte do dinheiro destinada à pesquisa em ciências médicas. Foi a maior doação já feita na história da State University of New York, e na época foi considerada a sexta maior doação já feita a uma universidade pública americana.

James Harris Simons nasceu em 25 de abril de 1938, em Brookline, Massachusetts, nos Estados Unidos. Filho único de Matthew Simons, proprietário de uma fábrica de calçados, e Marcia Kantor, dona de casa. Um prodígio em matemática, ele fez sua graduação no MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, na sigla em inglês) e tinha apenas 23 anos quando recebeu seu doutorado pela Universidade da Califórnia.

A partir de 1964, Simons lecionou no MIT e em Harvard, enquanto trabalhava simultaneamente quebrando códigos soviéticos no Institute for Defense Analyses, um grupo sem fins lucrativos financiado pelo governo federal.

Mas ele foi demitido do instituto em 1968 por expressar publicamente fortes opiniões contra a Guerra do Vietnã.

Durante a década 1970, ele lecionou matemática na Stony Brook University em Long Island e se tornou diretor do departamento de matemática. Enquanto dirigia o departamento, ele ganhou o maior prêmio nacional em geometria em 1975.

Em 1978, ele abandonou sua carreira acadêmica e fundou a Monemetrics, uma empresa de investimentos com escritórios em um pequeno shopping em Setauket, a leste de Stony Brook, na costa norte de Long Island. Ele nunca havia feito um curso de finanças ou demonstrado mais do que um interesse passageiro nos mercados.

Simons estava convencido de que ele e sua pequena equipe de matemáticos, físicos e estatísticos —principalmente ex-colegas universitários— poderiam analisar dados financeiros, identificar tendências de mercado e fazer negociações lucrativas.

Após quatro anos de altos e baixis, Monemetrics foi renomeada para Renaissance Technologies.

O professor e sua crescente equipe de ex-acadêmicos inicialmente se concentraram em moedas e commodities.

Todos os tipos concebíveis de dados —relatórios de notícias sobre agitação política na África, estatísticas bancárias de pequenas nações asiáticas, o aumento do preço das batatas no Peru— foram alimentados em computadores avançados para extrair padrões que permitiram à Renaissance obter consistentemente retornos anuais enormes.

Mas o verdadeiro retorno veio quando a Renaissance mergulhou em ações, um mercado muito maior do que moedas e commodities.

Eles inicialmente zombaram dos nerds da matemática na Renaissance e seus métodos quantitativos.
Algumas vezes, a metodologia de Simon levou a erros custosos. Sua empresa usou um programa de computador para comprar tantos futuros de batata do Maine que quase controlava o mercado.

Isso encontrou oposição da Commodity Futures Trading Commission, a agência do governo americano responsável pelo comércio de futuros. Como resultado, Simons teve que vender seus investimentos e perder um grande lucro potencial.

Mas muito mais frequentemente ele foi tão bem-sucedido que seu maior problema era esconder suas negociações e técnicas de pesquisa de concorrentes.

"Visibilidade convida competição e, com todo o respeito aos princípios da livre empresa —quanto menos, melhor", escreveu em uma carta aos clientes.

À medida que envelhecia e enriquecia, Simons desfrutava de um estilo de vida luxuoso. Ele comprou um iate de 67 metros por US$ 100 milhões, gastou US$ 50 milhões em um apartamento na Quinta Avenida, em Manhattan, e tinha uma propriedade de 56,6 mil metros quadrados em East Setauket, com vista para o Long Island Sound.

Fumante inveterado, ele se recusava a apagar seus cigarros em escritórios ou em conferências e pagava multas de bom grado.

Seu primeiro casamento, com Barbara Bluestein, uma cientista da computação, com quem teve três filhos —Elizabeth, Nathaniel e Paul— terminou em divórcio. Ele então se casou com Marilyn Hawrys, uma economista e ex-aluna de graduação de Stony Brook que concluiu seu doutorado lá. Eles tiveram dois filhos, Nicholas e Audrey.

Paul Simons morreu em um acidente de bicicleta em 1996, aos 34 anos, e Nicholas Simons morreu afogado em Bali, Indonésia, em 2003, aos 24. Ele deixa esposa, seus outros filhos, cinco netos e um bisneto.

Simons lamentou a um amigo sobre as mortes de seus filhos, de acordo com seu biógrafo, dizendo: "Minha vida é ou ás ou dois".

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