Produtos regionais da serra capixaba ampliam alcance com lojas virtuais

Cresce o faturamento das famílias que vendem comidas típicas graças à adesão ao ecommerce

 
 
Anna Rangel
Venda Nova do Imigrante (ES)

Pequenos produtores da região serrana do Espírito Santo, de forte herança cultural italiana e alemã, querem expandir o alcance de seus produtos. Antes restritos aos turistas, chegam agora a todo o país, vendidos em lojas virtuais e com entregas combinadas via aplicativos de mensagem.

Com a adesão ao ecommerce, combinado ao agroturismo, os 250 negócios familiares das montanhas capixabas vêm crescendo: desde 2008, tiveram aumento médio de 215% no faturamento, segundo o Sebrae-ES.

Homem mexe em cesto de café em meio a plantação
Plantação de café da Fazenda Carnielli, em Venda Nova do Imigrante, Espírito Santo - Divulgação

No Sítio dos Palmitos, em Domingos Martins, a 51 quilômetros de Vitória, dá para encomendar o alimento produzido pela família Magnago via aplicativo de mensagens.

A maioria dos pedidos vem de turistas que já conhecem o local e querem uma remessa de conservas, aperitivos e talharim de palmito, campeão de pedidos no restaurante do sítio, aberto neste ano e comandado por Cássia, 57.

O talharim é feito com a base da planta, considerada dura, cujo quilo era vendido a R$ 2. “Hoje, vendemos essa parte a R$ 75 o quilo. Era carne de segunda, virou nosso filé mignon. As pessoas experimentam o talharim no almoço e já levam um pouco para casa”, conta o sócio Maurício Magnago, 63. O faturamento cresceu 10% nos primeiros meses de vida do restaurante.

No Apiário Florin, também em Domingos Martins, abrir uma loja virtual com entrega para todo o país foi a estratégia adotada pelos sócios Arno Wieringa, 52, e Neuza Vicente, 43, para popularizar seus produtos —o ecommerce já responde por 40% da receita.

Os sócios vendem itens como o mel com lavanda, manjericão ou macadâmia e a bebida hidromel, receita de Arno.

“Com a loja, consolidamos nosso nome fora do estado e criamos uma vitrine para que o cliente venha nos conhecer pessoalmente”, conta Neuza.

É um negócio que se retroalimenta: o turismo ajuda as pessoas a conhecerem os produtos locais e comprarem dos ecommerces, e as lojas virtuais ajudam a apresentar a região como um destino turístico de projeção nacional, inspirado em Gramado (RS) ou Monte Verde (MG).

Dá para dobrar o faturamento mensal em épocas de muitos turistas, como na Festa da Polenta, em outubro, quando Venda Nova do Imigrante (a 113 quilômetros de Vitória) recebe cerca de 25 mil pessoas, o equivalente à sua população.

Para conquistar mais público, a herança cultural deve ser utilizada como estratégia de marketing, diz Rodrigo Belcavello, consultor do Sebrae estadual. “Valorizar a história diferencia esses produtos regionais dos milhares de itens artesanais no mercado.”

Em junho, o Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual) concedeu o registro de indicação geográfica ao embutido capixaba socol, receita dos imigrantes italianos que lembra uma copa. Agora, para ganhar esse nome, só se for venda-novense.

No sítio Lorenção, a preparação é igual desde 1910, quando a família de Cacilda Lorenção, 82, chegou da Itália. “Com uma receita do meu avô, tirei meus filhos da enxada”, diz.

Depois do ecommerce, o próximo passo para a expansão é a abertura de lojas físicas pelo país. O empresário Leandro Carnielli, 62, dono da Fazenda Carnielli, quer somar à sua operação virtual uma série de estabelecimentos no modelo de franquias. Por enquanto, tem três unidades, em Venda Nova e em Vitória, mas quer crescer.

Nas lojas, são vendidos café, os queijos morbier, resteya e fromage blanc e o socol. Pelo site, são vendidos também produtos de outras famílias, como a Lorenção, que fabrica licor de limão siciliano, patês, geleias e o socol. “Passei 20 anos amadurecendo o negócio”, diz Leandro. “Agora, quero criar uma marca sólida.”
 

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