Para diminuir perdas relacionadas à má gestão de estoque e armazenamento, pequenas empresas têm seguido os passos das grandes e investido em tecnologia.
Em negócios desse porte, diz o consultor do Sebrae-SP Davi Jerônimo, é comum deixar que o prejuízo atinja o capital de giro, além do lucro. “É nesse momento que muitos declaram falência.”
No ano passado, o varejo perdeu 1,38% de seu faturamento líquido (R$ 21,4 bilhões) por problemas de estoque. Foi uma alta de 7% em relação a 2017, de acordo com pesquisa da Abrappe (Associação Brasileira de Prevenção de Perdas) realizada com a consultoria EY.
Para diminuir prejuízos relacionados ao armazenamento, ferramentas como etiquetas inteligentes, RFID (identificação por radiofrequência) e chips que informam temperatura e umidade na loja e no estoque têm ganhado espaço.
Tecnologias muito novas ainda são caras, sobretudo para microempresários, afirma Jerônimo.
Mas a popularização das novidades ajudará a baratear serviços sofisticados no médio prazo, diz Priscila Miguel, coordenadora do Centro de Excelência em Logística e Supply Chain da Fundação Getulio Vargas (FGVcelog).
“À medida que os pequenos contratam as novas tecnologias e veem os benefícios, as fornecedoras começam a ganhar escala, e o preço cai”, afirma Miguel.
Para a empresária Nena Aldin, 60, dona da Confraria, loja de roupas na zona leste São Paulo, embora o investimento em etiquetas inteligentes com rastreador tenha sido alto, a ferramenta lhe deu informações sobre seu estoque que não conseguiria colher sozinha.
“A concorrência é acirrada e temos que praticar preços muito baixos. Não posso ter prejuízo, porque se perco, diminui o meu lucro”, diz.
Nena começou a utilizar as etiquetas neste ano, em eventos itinerantes, por sugestão da filha, estilista da marca.
Agora, está colocando-as em todas as peças que saem de sua fábrica para ter um levantamento de tudo que deixa o estoque.
Além de diminuir o número de peças perdidas ou furtadas, Nena diz que espera simplificar o inventário anual e identificar melhor itens com maior procura e sua sazonalidade.
Enquanto as etiquetas ajudam a rastrear produtos e evitar perda de peças, outras ferramentas auxiliam o empresário a gerenciar melhor o estoque e fazer os pedidos de forma mais eficiente.
A Tevec, que vende sistemas de inteligência artificial para cadeias logísticas, agora mira o mercado dos pequenos.
A solução para esses empreendedores, desenvolvida ao longo de quatro anos, prevê qual será a demanda por cada produto na loja, levando em conta a época do ano, a chegada de novos lançamentos, a localização e público-alvo de cada ponto de venda.
O sistema é abastecido com números de vendas passadas e metas para os próximos meses, e faz previsões do comportamento do cliente.
“A maioria dos empresários ainda usa modelos matemáticos muito simples na hora de escolher os produtos que venderá naquela loja”, afirma o fundador da empresa, Bento Ribeiro, 41.
“Vimos que o pequeno varejista está desabastecido de plataformas que ajudem a ganhar essa eficiência no dia a dia.”
O preço do serviço é calculado com base no número de itens no inventário da empresa. Bento, que atende grandes franqueadoras e gigantes dos setores de moda, cosméticos e alimentos, adaptou o modelo usado nos seus clientes de maior porte.
“O que os gigantes implementam hoje em breve chegará ao alcance dos pequenos. Não é preciso ir nas feiras em Nova York para observar as tendências e entender o que poderá ajudar o negócio em um futuro próximo”, afirma Bento.
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