Use quatro índices para medir a saúde financeira da empresa

Controle do fluxo de caixa é cuidado mais importante para pequenos

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Valdir Ribeiro Jr.
São Paulo

Organizar as finanças de seus negócios é uma tarefa mais simples do que parece: monitorando apenas quatro dados é possível medir a saúde financeira de uma empresa, afirmam especialistas.

Segundo Danilo Pacheco, consultor do Sebrae, a maioria dos pequenos empreendedores conhece bem os detalhes operacionais do negócio, mas só se preocupa com a capacitação financeira quando a situação já não está boa.

“Isso é um problema sério, porque o empreendedor acaba tomando decisões importantes sem nenhuma base estratégica. É preciso acompanhar um mínimo de métricas financeiras para ter mais segurança na gestão”, afirma.

Eger Boehm, em sua loja Empório 73, na zona sul de São Paulo
Eger Boehm, em sua loja Empório 73, na zona sul de São Paulo - Lucas Seixas/Folhapress
 

A primeira informação que se deve ter é o ponto de equilíbrio do negócio. “Quanto o empreendedor precisa faturar para pagar todas as suas contas, fixas e variáveis? Encontrar o ponto de equilíbrio ajuda a descobrir o mínimo que a empresa precisa vender para continuar funcionando”, diz.

Só com essa informação já é possível ter uma ideia de como o negócio está indo. O segundo passo é calcular o quão lucrativa está a empresa, para que seja possível estabelecer as primeiras metas. Isso é feito a partir da relação entre as despesas e o faturamento. 

O consultor destaca que o empresário deve buscar um custo de operação total que não ultrapasse 30% do seu faturamento mensal. Caso contrário, ele provavelmente terá que repassar as despesas para o preço do produto para ter boa margem de lucro.

O terceiro dado é a rentabilidade. O empreendedor deve projetar, a partir do lucro que sua empresa tem, quanto tempo irá demorar para restituir os investimentos que fez e pretende fazer.

Esse prazo de retorno deve ser recalculado constantemente, pois é a partir dele que se consegue planejar novos investimentos. “Ele é um termômetro que ajuda a medir se a empresa tem uma boa operação. Se for maior do que outras opções de investimento de menor risco, é um indicativo de que mudanças são necessárias”, diz Pacheco.

Por último, há o fluxo de caixa: o registro de todo dinheiro que entra e sai. 

“Parece simples, mas muitos empreendedores não fazem esse controle mensalmente, e misturam o caixa da empresa com despesas pessoais”, afirma Pacheco.

Com essas informações em mãos, Eger Boehm, dono do Empório 73, na zona sul de São Paulo, conseguiu definir suas metas e manter a empresa saudável enquanto o ponto de equilíbrio não é alcançado.

“Toda empresa precisa de gordura para queimar no começo. Eu fiz um empréstimo de R$ 50 mil e um investimento pessoal de R$ 100 mil. Pelas minhas projeções, acredito que em fevereiro do ano que vem atinjo meu ponto de equilíbrio”, diz ele. “Em 36 meses tenho o retorno de todo o investimento, mas é preciso seguir atualizando as projeções.”

Conhecendo as métricas financeiras, ele viu que precisaria aumentar a rentabilidade e buscou saídas. 

O empório vendia mel, cachaça, vinhos e queijos, e Eger decidiu acrescentar ao cardápio refeições saudáveis, mirando o público que frequenta as academias da região.

Segundo Antônio Guimarães, especialista em finanças da G6 Consultoria, há indicadores mais sofisticados, mas esses são os básicos para o pequeno empresário.

“O mais importante para ele é cuidar do caixa. O ideal é um controle mensal, mas a gente sabe que para os pequenos isso pode ser muito trabalhoso. Se for possível fazer um levantamento a cada dois meses, ou até mesmo a cada três meses, já ajuda bastante”, diz.

É dessa maneira que tem trabalhado Frederico Diniz Farah, dono da distribuidora de alimentos artesanais D’Farm. A empresa, que fornece produtos para 250 lojas no Brasil, tem 12 funcionários.

Segundo o empresário, mesmo reconhecendo a importância do fechamento mensal, o fluxo de trabalho do negócio tem permitido que ele faça apenas um controle trimestral das finanças. “O desafio é a falta de tempo. Nós não temos ainda como colocar uma pessoa específica para o financeiro, então ainda sou eu quem faz o controle.”

Só esse monitoramento já solucionou alguns problemas na sua operação. Identificou, por exemplo, a diferença na margem de contribuição —parte do lucro da empresa que cada cliente representa— de seus compradores.

Com os dados financeiros em mãos, o empreendedor percebeu que alguns clientes que compravam em grandes volumes também exigiam uma série de custos variáveis que diminuíam sua margem de lucro: pediam, por exemplo, para degustar vários produtos ou faziam mais trocas, o que elevava os gastos da empresa com logística.

Isso fez com que ele buscasse expandir sua operação, aumentando a atenção para outros clientes que tinham um volume menor de compras, mas que apresentavam uma venda mais saudável.

“Para uma distribuidora como a nossa, é muito importante tomar cuidado para o faturamento não estar abusivamente concentrado em um produto ou em um cliente. Isso reduz a sustentabilidade do negócio, e foi um risco que percebemos quando organizamos as finanças”, diz.

Glossário financeiro


Ponto de equilíbrio  Condição em que as receitas e as despesas da empresa se igualam. Nessa situação, a empresa opera sem prejuízo e sem lucro

Prazo de retorno  Período a partir do qual uma empresa que apresenta lucro receberá de volta o dinheiro investido pelo empreendedor

Rentabilidade  Porcentagem que se tem de lucro sobre um valor investido, com base em um período determinado. É calculada a partir do lucro da empresa e do prazo de retorno estimado para os investimentos, e serve de termômetro da saúde da empresa

Fluxo de caixa  Controle do dinheiro que entra e sai do caixa da empresa. Além de servir para identificar o faturamento e as despesas da empresa, é usado como base para projeções financeiras

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