Experiência pesa mais que juventude no sucesso de startups, diz pesquisa

Negócios que mais crescem têm fundadores com 45 anos na média, mostra estudo americano

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São Paulo

Para abrir uma startup com boas chances de sucesso, é preciso ter ousadia, um bom modelo de negócio e a idade certa: 45 anos, em média, segundo um estudo recente do MIT (Massachusetts Institute of Technology).

“Associar startups a pessoas muito jovens é a visão prevalente, sobretudo no segmento de tecnologia. Nossa pesquisa mostrou o contrário: a faixa etária dos empreendedores nessa área está acima dos 40, e, nas empresas que mais cresceram, a idade média é de 45 anos”, afirma o pesquisador Daniel Kim, do MIT.
 

Danny Kabilijo, 41, e José Guerreiro, 56, aparecem sentados em sofá na sede da FullFace
Danny Kabilijo, 41, e José Guerreiro, 56, na sede da FullFace, startup de biometria facial, na Vila Olímpia, em São Paulo - Lucas Seixas/Folhapress

Publicado em abril, o estudo foi realizado em parceria com o Departamento de Censo dos Estados Unidos e com o NBER (Bureau Nacional de Pesquisa Econômica, na sigla em inglês). Liderados pelo professor Pierre Azoulay, os pesquisadores usaram big data para analisar dados de 2,7 milhões de fundadores de empresas nos EUA de 2007 a 2014.

O principal elo entre idade e sucesso é o acúmulo de experiência, diz Kim. “Nossa pergunta foi: se é verdade que o melhor desempenho está ligado aos muito jovens, por que a experiência, tão valorizada em outras áreas do mercado, não vale para as startups?”

As constatações da pesquisa parecem quebrar um paradigma, mas não são surpresa para Amure Pinho, 39, presidente da Abstartups (Associação Brasileira de Startups).

Ele é investidor-anjo desde 2011 e diz usar dois critérios para identificar empreendedores com alto potencial de crescimento: saber se a pessoa já passou por outras experiências de trabalho e se tem filhos —o que dá a ela mais foco, segundo Pinho. “Com isso, a linha de corte da idade fica mais alta”, afirma.

Para ele, acumular experiência é especialmente importante no Brasil, porque aqui as grandes startups são do tipo B2B (bussiness to bussiness), que oferecem produtos e serviços para outros negócios. 

“Quem já tem tempo de trabalho em outras empresas conhece as necessidades do mercado e pode oferecer melhores soluções”, completa.

Quando o engenheiro civil Danny Kabilijo, 41, e o engenheiro de sistemas José Guerreiro, 56, lançaram a FullFace, há quatro anos, já vinham de uma longa trajetória em grandes empresas. 
Kabilijo trabalhou em hipermercados e franquias de estética. Guerreiro passou pela área de tecnologia nas indústrias automotiva e química. Os dois se juntaram para colocar de pé a startup de biometria e reconhecimento facial.

A tecnologia da FullFace funciona em qualquer hardware e não armazena fotos, para proteger melhor dados pessoais. É rápida e garante até 99% de acurácia, segundo os sócios. Está sendo usada no segmento financeiro, na educação à distância e no setor aéreo —eles criaram o primeiro sistema mundial de check-in por selfie, para a Gol. 

Em 2018, a empresa recebeu aporte de R$ 5 milhões de um grupo de investimento. Por causa do contrato com investidores, os sócios não podem abrir o faturamento, mas afirmam que o número quintuplicou no último ano.

O início foi bancado com capital próprio, sem lucros estratosféricos, mas pagando todas as contas, eles afirmam. “Nossa ideia é ter perenidade, não criar uma bolha para crescer rápido e vender a empresa”, diz Kabilijo. 

Neste ano, a companhia chegou a 16 funcionários. A equipe é uma mistura de faixas etárias, dos 20 até os 50 anos.

Combinar a audácia da geração mais nova com a experiência da anterior é um grande caminho para o sucesso, segundo Pinho, da Abstartups. Mas esse convívio é mais raro nas empresas fundadas por empreendedores jovens, afirma.

“Em geral, eles só contratam alguém mais velho quando conseguem captar muito dinheiro. Os próprios investidores demandam profissionais com experiência em operações financeiras, vendas etc.”

Para o presidente da entidade, o jovem empreendedor é hoje uma espécie de popstar. “O cara tem uma startup e quer aparecer como celebridade. Os mais velhos são mais discretos.”

Esse seria um dos motivos para associação recorrente (não comprovada pela pesquisa) entre juventude e sucesso no mundo das startups. 

Há, claro, os grandes mitos que contribuem para disseminar a ideia, como Steve Jobs, Bill Gates e Jeff Bezos, mas Kim, do MIT, diz que até isso precisa ser relativizado. 

“No estudo, constatamos que a Apple (Jobs), a Amazon (Bezos) e a Microsoft (Gates) atingiram seu ápice quando seus fundadores tinham respectivamente 48, 45 e 39 anos”, afirma o pesquisador.

Isso não significa ter de esperar a maturidade para começar a empreender. “Mark Zuckerberg fundou sua empresa aos 19 anos, e era exatamente a hora certa para seu negócio ser criado”, diz Kim.

“Não é preciso esperar ter mais de 40 anos para ser um empreendedor, mas há uma conexão forte entre o sucesso da startup e a experiência de seus fundadores. Esse fato estava escondido sob a imagem romântica do garotão de tênis na garagem de casa criando o software que vai revolucionar o mercado”, completa.

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