Neurociência e testes genéticos ajudam no treinamento de atletas

Startups prometem melhorar atenção e decisões do esportista durante competições

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São Paulo

Startups brasileiras apostam na ciência para melhorar a performance de esportistas profissionais e amadores.

Hoje, somente o investimento em preparação física não é suficiente para que um atleta se destaque em uma competição de alto nível, diz Milton Avila, diretor-executivo da Sensorial Sports.

Para além do resultado físico, a startup propõe aliar tecnologia a conceitos da neurociência com o objetivo de aprimoramento da visão periférica e da atenção do atleta, controle de impulsividade, tempo de reação e tomada de decisões em uma competição.

O diretor-executivo da Sensorial Sports, Milton Avila, no Sesc Paulista, em São Paulo 
O diretor-executivo da Sensorial Sports, Milton Avila, no Sesc Paulista, em São Paulo  - Lucas Seixas/Folhapress

A empresa negocia com as confederações de cada esporte ou diretamente com os atletas. Entre os clientes, estão praticantes de 25 modalidades, incluindo membros do time olímpico brasileiro.

Em um primeiro momento, os atletas passam por avaliações cognitivas usando óculos de realidade virtual. Os cenários são criados para explorar a percepção visual e o processamento de informações.

Durante a imersão, algumas figuras abstratas aparecem, e o atleta precisa tomar decisões rápidas de acordo com as características das imagens —apertando ou não o botão de um controle.

“Com base no tempo de resposta e nos erros e acertos, detectamos potencialidades e fragilidades cognitivas, que são a base de treinamentos práticos para melhorar a atenção, a velocidade e a percepção do entorno”, afirma Avila.

Os treinos elaborados a partir das ferramentas da neurociência são trabalhados em conjunto com o clube e a equipe do esportista.

Um atleta de basquete que precisa melhorar a atenção, por exemplo, pode ser orientado a responder comandos preestabelecidos nos treinos de arremesso. Assim, terá de exercitar a capacidade de foco durante toda a atividade.

“Se esse jogador treina arremessos sem qualquer pressão, provavelmente terá um ótimo índice de acerto, executando seus movimentos de maneira mecânica. Mas em uma partida, na maioria das vezes, não é assim”, afirma Avila. Os métodos têm como base dados da neurociência.

De acordo com Avila, uma pessoa toma pelo menos 3.000 decisões por dia. No caso de um esportista, esse número é ainda maior. Em uma partida de futebol de 90 minutos, um jogador precisa decidir cerca de 6.000 vezes.

Ao desenvolver o aspecto cognitivo, o atleta consegue melhorar o seu índice de acerto. Pessoas que fizeram os treinamentos tiveram aumento de 20% em média no rendimento, afirma Avila.

Com sede em Ribeirão Preto (SP), a Sensorial Sports começou a atuar em 2018 e atende também amadores. No ano passado, cresceu 130%.

Esportistas podem fazer os treinos em laboratórios parceiros nas cidades de São Paulo, Curitiba e Campinas, entre outras. Em Ribeirão Preto, uma avaliação de desempenho custa a partir de R$ 350.

Além do diferencial competitivo, o barateamento da tecnologia é outro fator que torna esse nicho promissor, segundo Daniel Dentillo, sócio-fundador da empresa de teste genético DGLab.

A startup faz exames genéticos que identificam necessidades nutricionais, trazendo melhorias no desempenho físico. Se os testes mostram, por exemplo, sensibilidade à cafeína, o atleta deverá mudar o consumo de suplementos com esse estimulante.

Até 2018, as amostras de DNA precisavam ser enviadas ao exterior, o que elevava os custos. Hoje, como esse processo é feito no Brasil, o preço dos exames genéticos caiu quase pela metade: passou de R$ 1.500 para R$ 800.

Criada em 2015, a startup atende atletas profissionais e amadores e tem crescido em média 5% ao mês, de acordo com Dentillo.

Até julho, a DGLab pretende expandir sua atuação e usar os dados genéticos para analisar também a propensão de um atleta a ter lesões musculares e sua capacidade de recuperação pós-exercício.

Nos próximos anos, o investimento em inovação no esporte deve crescer de modo expressivo, de acordo com Raphael Augusto, diretor de inteligência de mercado da Liga Ventures, que conecta startups a grandes empresas.

Relatório da consultoria Markets and Markets mostra que o mercado global de tecnologia voltada para o esporte deve avançar de R$ 45,4 bilhões em 2018 para R$ 159 bilhões em 2024.

O médico especialista em exercício e esporte Ricardo Eid alerta para o fato de que alguns testes prometem a melhora de desempenho no esporte mas, muitas vezes, subestimam aspectos básicos de um treinamento, como alimentação adequada e boa noite de sono.

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