Campanha nas redes sociais dá gás a empresários em meio à crise do coronavírus

Consumidores e entidades se mobilizam para ajudar comerciantes a diminuir prejuízo

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Andrea Vialli
São Paulo

Com o fechamento do comércio na tentativa de barrar o avanço do coronavírus, o apelo pela valorização dos pequenos negócios virou tema de uma campanha do Sebrae e ganhou as redes sociais, com slogans como "Compre do pequeno" e "Apoie o comércio local".

Empenhados em ajudar, muitos clientes passaram a dilvugar os produtos e serviços dessas empresas e comprar vouchers que só serão consumidos quando tudo voltar ao normal.

Com pouca ou nenhuma gordura para manter as atividades sem faturar, micro e pequenas empresas correm risco de fechar as portas. Muitas estão adaptando os modelos de negócios para sobreviver ao período, mas a crise já se instalou. ​

Mulher sentada à mesa com bolos decorados, arranjo de flores e livro
Empresária Tammy Montagna, dona da patisserie e café de mesmo nome, localizados em Pinheiros, zona oeste de São Paulo - Divulgação

Dona de uma pâtisserie e de um café em Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, a empresária Tammy Montagna vive um dia de cada vez. Dispensou metade de seus 48 funcionários, devolveu um dos três imóves que aluga e renegociou o contrato dos outros dois.

Saiu da parte administrativa do negócio e voltou a colocar a mão na massa, produzindo bolos, quiches e outros produtos para vender no delivery, com um cardápio simplificado, já que o café está de portas fechadas.

Americana, Tammy está no Brasil há 15 anos e tem experiência em grandes tragédias. Em 2001, comandava um negócio de arte e moda em Nova York a poucas quadras do World Trade Center, quando as Torres Gêmeas ruíram no atentado terrorista de 11 de setembro. Recebeu ajuda do governo americano por seis meses.

“Agora, o que temos são incertezas. Meu fluxo de caixa está limitado e não temo como pagar os compromissos se não faturar”, diz.

Os clientes da pâtisserie, conquistados nos últimos 11 anos, têm se mostrado solidários, ajudando a divulgar os produtos nas redes e antecipando encomendas para a Páscoa —um dos períodos do ano em que Tammy mais faturava.

As empresárias Paula Baracat (à esq.) e Marcela Ascar Martins, donas do Estudio Matre
As empresárias Paula Baracat (à esq.) e Marcela Ascar Martins, donas do Estudio Matre - Divulgação

O apoio da clientela também foi fundamental para a Estudio Matre, que atua no ramo de assessoria para maternidade e eventos. A atividade principal da microempresa é a realização de chás de bebês e recepções nas maternidades, organizando a parte de decoração, doces e lembrancinhas.

Com o isolamento social, todos os eventos foram cancelados, e restou às sócias Marcela Ascar Martins e Paula Baracat adaptarem o negócio. Desde a semana passada, as sócias e a equipe, com quatro funcionários, passaram a produzir e enviar caixas de lembranças personalizadas para amigos e familiares das mães que acabarem de ter bebês.

Postaram o novo serviço no Instagram, de onde provém 99% das vendas. Clientes, algumas delas influenciadoras digitais como Lalá Noleto e Fabiana Justus, divulgaram espontaneamente o Estudio Matre em suas redes e a repercussão foi imediata, com 38 pedidos de orçamento em cinco dias.

“As clientes, a maioria mães, formaram uma rede de apoio importante nesse momento. O propósito é ajudar os negócios de outras mulheres”, diz Marcela.

A ajuda mútua entre donas de pequenos negócios é a base do trabalho da Rede Mulher Empreendedora, plataforma de apoio ao empreendedorismo feminino no país que reúne 750 mil mulheres. Com a escalada do coronavírus, a rede lançou a campanha “Compre de uma empreendedora” em seus canais e mídias sociais.

Também tem promovido palestras virtuais sobre temas como gestão, finanças e marketing digital para ajudar membros a reduzir os impactos da crise.

“As mulheres empreendedoras estão dentro de casa, com a carga emocional de cuidar de si e dos familiares, ao mesmo tempo em que seus negócios estão fechados ou faturando muito menos”, diz Ana Fontes, idealizadora da rede.

Segundo ela, 40% das associadas à plataforma sustentam a família com seus negócios e estão fragilizadas com o cenário atual, o que levou a rede a fazer uma parceria com uma plataforma de psicologia online para oferecer atendimento a essas mulheres, com consultas a R$20.

Ainda é cedo para avaliar se as iniciativas de apoio aos pequenos comerciantes estão surgindo efeito, afirma Guilherme Campos, diretor de administração e finanças do Sebrae, que lançou na última semana a campanha “Compre do pequeno” para estimular o brasileiro a dar prioridade para o comércio de bairro, soluções via aplicativos e compras pela internet.

“A sociedade está sensibilizada quanto à importância de comprar dos pequenos negócios. O que falta são as políticas de apoio dos governos que estão sendo anunciadas chegarem na ponta”, diz Campos.

Levantamento feito pelo Sebrae mostra que os segmentos de alimentação fora do lar, varejo tradicional, construção civil e moda são os mais afetados pela pandemia do Covid-19 no Brasil. Além desses, outros dez segmentos estão entre os mais afetados e respondem por mais de 21,5 milhões de empregos.

O apoio dos clientes do bairro tem sido fundamental para a sobrevivência da Mar de Café, cafeteria especializada em grãos especiais localizada no bairro da Aclimação. Desde que foi obrigado a fechar as portas, o empreendedor Marcos Martins acionou sua base de clientes via Whatsapp e passou a entregar pacotes de café em domicílio como forma de manter o negócio ativo, ainda que com um faturamento muito menor.

“Os clientes fizeram encomendas, muitos divulgaram o novo serviço para suas redes. Não sei se vai salvar o negócio se a quarentena se prolongar, mas é uma tentativa de reinvenção”, diz.

Ele mesmo faz as entregas nas casas dos consumidores, em duas saídas semanais, para evitar os custos das plataformas de delivery, e vai começar a produzir pães em casa para complementar a renda.

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