Conheça empreendedores estrangeiros no Brasil; lista tem humorista

Imigrantes citam chances de negócio e amor pela natureza como incentivos à mudança

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De acordo com o Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), estrangeiros investiram mais de R$ 1,6 bilhão no Brasil entre 2011 e 2021. Como motivos para escolher morar no Brasil, eles citam o clima, as oportunidades de negócio e a vontade de desbravar novos mercados. Veja abaixo o depoimento de seis deles, de uma humorista alemã a um fundador de uma startup do mercado imobiliário húngaro.

‘Sinto que mudei um pouco e já brinco mais. O alemão é todo certinho’
Lea Maria Jahn, 26, alemã. É humorista e tem 1,6 milhão de seguidores no TikTok

Conheci meu marido, Juliano, que é brasileiro, na Nova Zelândia. Moramos um tempo na Alemanha e já estou há cinco anos no Brasil. No início eu não falava nada de português, aprendi conversando com as pessoas. Sinto que mudei um pouco no Brasil e já sou mais aberta, brinco mais. O alemão é todo certinho e misturar piada e trabalho não é nada profissional.
Em 2017 abrimos nosso primeiro espaço de comédia em São Paulo, o Salamaleico. Minha rotina durante três anos foi ir até lá para assistir aos outros. Era divertido. Mas eu achava que, por ser alemã, mais séria, não ia conseguir fazer a plateia rir.
Em 2019 nós abrimos o Paulista Comedy Club, por onde passaram muitos comediantes, e eu pensei em tentar também. Os primeiros oito minutos do meu [espetáculo de] stand up "O que os alemães pensam sobre o Brasil" viralizaram, e a galera quis ver o show. Mas a pandemia chegou, nós fechamos, e eu comecei a fazer vídeos online. No início a gente ganhava dinheiro só com ingressos dos espetáculos. Depois do meu vídeo, fizemos parcerias com várias marcas e hoje 70% da nossa renda vem da publicidade. Também criamos o Bad Trip, show de stand up que rodou o Brasil em 2021. Queremos nos apresentar na Europa e a ideia é gravar tudo e oferecer o material a plataformas de streaming. (Thaís Magalhães Manhães)


‘Fui convencido de que o Brasil seria um bom lugar para empreender’
Mate Pencz, 35. Húngaro, é cofundador da Loft, plataforma digital de compra e venda de imóveis

Venho de uma família de imigrantes. Nasci em Budapeste e aos três anos me mudei com meus pais para a Alemanha, onde cresci.
Sempre me senti confortável no desconforto de morar em um país diferente, que traz oportunidades e desafios. Ganhei uma bolsa para estudar fora, em Harvard (EUA) e conheci meu sócio, Florian [Hagenbuch, alemão], em um estágio em Nova York, em 2008.
Eu sempre me senti um cidadão do mundo. Depois passei um ano e meio em Londres, no mercado financeiro, e juntei dinheiro. Eu queria empreender, criar a minha própria empresa. O Florian também tinha esse desejo de começar algo do zero. Ele já conhecia o Brasil, tinha morado aqui por um tempo, e me convenceu de que o Brasil seria um bom lugar para empreender.
Entre 2010 e 2011, o Brasil parecia estar decolando, e a gente notou uma escassez de empresas de tecnologia no país. Foi quando criamos a Print [ecommerce de produtos gráficos].
Em 2018, nos desligamos da empresa, começamos a investir em outras startups e fundamos a Loft. E começamos a nos dedicar à Loft como potência, como empresa brasileira que poderia ter sucesso internacional e transformar o mercado imobiliário. No ano passado expandimos para o México e temos outros projetos de expansão. (Paulo Ricardo Martins)


‘Nos dois primeiros anos eu não recebia nada. Não sabia quando ganharia os primeiros R$ 20'
Olga Kovalenko. Russa, é youtuber no canal Olga do Brasil, que tem mais de 600 mil seguidores

Eu me mudei para o Brasil em 2019, quando recebi uma proposta de uma empresa americana, para trabalhar como tradutora. Não era bem remunerada, mas vim pela oportunidade de conhecer uma nova cultura. Trabalhava durante o dia e, à noite, produzia conteúdo para o meu canal no YouTube, que tem como objetivo a troca cultural.
Nos dois primeiros anos eu não recebia nada, tinha poucas visualizações, entre 100 e 500. Eu fazia o roteiro, traduzia, editava e não tinha previsão de quando receberia os meus primeiros R$ 20.
O importante do processo é a constância. Quando o canal começou a crescer, muitas marcas e agentes passaram a entrar em contato. Fiz parcerias e vendi alguns anúncios —já trabalhei com a Claro, por exemplo. Conquistei uma credibilidade e cuido disso dia após dia. Não vou recomendar para os meus seguidores algo que eu não tenha gostado de usar.
Com a guerra na Ucrânia, surgem muitas fake news sobre os russos, e eu tenho compartilhado no canal informações que a minha família, que está na Rússia, tem me enviado, sobre o cotidiano deles [na última segunda-feira, Olga relatou em um vídeo que seus tios receberam a visita de um funcionário do governo russo pedindo informações sobre ela e que não estava claro se era uma ameaça ou apenas uma coincidência]. (Thaís Magalhães Manhães)


‘Tem que ser idealista. Você não vai fazer algo que pensa que pode dar errado, não é?’
Dimitri Mussard, 38. Francês, é CEO da Abacashi, plataforma de vaquinhas online

Há 14 anos saí do meu emprego, em uma instituição financeira na França, para explorar outros continentes e mercados. E coloquei o Brasil na minha rota.
Uma vez aqui, tive a ideia de criar um projeto para conectar marcas de moda ao público consumidor nacional.
O câmbio estava favorável, então a gente conseguiu fazer isso muito bem. Criamos em 2008 a Acaju do Brasil, importamos mais de 200 marcas, e essa foi a minha primeira experiência de no país. O site ainda existe, mas a loja física foi fechada em 2020.
Em 2013, abri com o meu sócio, Nicolas De Virieu, também francês, uma rede de gelateria italiana, que acabamos vendendo depois.
Em 2017 começamos a trabalhar em outro projeto, a Abacashi, empresa 100% brasileira. Hoje, é minha prioridade.
Nós estamos aqui para ajudar as pessoas, para somar em projetos sociais, e isso ficou muito forte com a pandemia. E para nós é isso que interessa, o impacto social.
Nesses 14 anos no Brasil tive a oportunidade de trabalhar com importação, distribuição, varejo, investimento de capital nacional e câmbio. Eu brinco e digo para o meu sócio que isso vale como um mestrado. Para ser empreendedor, tem que ser bem louco e idealista. Você não vai fazer algo que você pensa que pode dar errado, não é? (Paulo Ricardo Martins)


‘Busco a combinação perfeita entre o que é gringo e o que é brasileiro’
Nattanaella Verduga, 26. Americana-equatoriana, é criadora da Sh’T Happens, marca de streetwear

Numa viagem a Paris, conheci brasileiros que me convenceram a visitar o Brasil. Cheguei em 2015, achando que passaria 20 dias, mas foi só conhecer o Rio para perceber que queria morar aqui. Não tinha muito dinheiro, meu meio de transporte era o skate.
Gosto de conversar, e aprender português foi fácil.
A marca Sh’T Happens surgiu quando recebi uma herança do meu avô e queria fazer algo útil com o dinheiro. Eu estava me conhecendo melhor, entendendo meu estilo. Na época, quando contei para a minha família que sou bissexual, senti pela primeira vez que podia ser eu mesma e me vestir como quisesse.
Passei um ano estudando moda, marketing e administração para abrir a loja, já que não sabia nada sobre isso. Sabia só que eu queria vender roupas do estilo que eu gosto, o streetwear, a moda da rua. Foi um processo pessoal. Percebi que nas minhas criações havia influência da moda do Bronx, em Nova York, onde vivi na infância.
A loja tem cada vez mais sucesso online, mas ainda é pequena e sou eu que faço tudo. Também trabalho com audiovisual. No começo da quarentena, fiz um TikTok de brincadeira com um amigo e me identifiquei como Gringa Carioca. Hoje tenho mais de 100 mil seguidores e faço vídeos falando sobre a cultura brasileira do meu ponto de vista. (Isabela Lobato)


‘Minha paixão é viajar pelo país e mostrar seus lugares incríveis [para os gringos]’
Regan Zanes, 32. Americano, é criador de conteúdo digital sobre turismo

Em 2014 eu trabalhava em uma companhia nos EUA que tinha um programa de rotação de funcionários da área de finanças. Tínhamos que passar um tempo em outras cidades, e Belo Horizonte estava na lista. Nenhum dos meus amigos queria vir para o Brasil, a gente nem sabia onde BH ficava, mas eu vi uma oportunidade de conhecer um novo lugar. O povo brasileiro é o mais doce que eu já vi, é fácil fazer amigos. Viajei muito por Minas Gerais, encontrei lugares lindos e percebi que o mundo não conhece o Brasil. Comecei a compartilhar fotos e vídeos documentando a natureza, falando sobre como eu me sinto aqui. Após seis meses, tive que voltar para Chicago, mas já havia decidido viver no Brasil. Procurei outra empresa que tivesse filial aqui e em 2018 consegui uma transferência. Um ano depois eu entendi que não queria mais trabalhar em escritório. Minha paixão é viajar pelo Brasil e mostrar seus lugares incríveis. Quando o gringo procura informações sobre a Serra do Cipó (MG) ou Ilhabela (SP), ele não encontra, é difícil para a gente. Então comecei a me dedicar 100% à minha conta @thegringoinbrazil, no Instagram. Com o tempo, fui fazendo parcerias, mas eu recebo em reais, infelizmente [risos]. No futuro, penso em ter uma agência de turismo e talvez uma marca de roupas. (Thaís Magalhães Manhães)

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