Cinco dias antes do previsto, o Partido Social-Democrata alemão (SPD) anunciou nesta terça-feira (24) o nome do seu candidato a chanceler nas eleições marcadas para setembro.
O ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz, 61, foi o escolhido para representar o SPD, de centro-esquerda e a segunda maior força política da Alemanha. Ele liderava desde 2012 o Legislativo da União Europeia.
O atual vice-chanceler alemão, Sigmar Gabriel, líder do SPD, renunciou à candidatura e à liderança do partido neste ano eleitoral. "Se eu me colocasse agora, eu iria falhar e, comigo, o SPD", afirmou. "Como presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz tem feito campanha contra o populismo de direita por décadas", disse Gabriel.
Pesquisa do instituto Infratest-Dimap divulgada em dezembro mostra que Schulz tem maiores chances de derrotar os conservadores cristãos da chanceler Angela Merkel, da União Cristã-Democrata (CDU).
Com Gabriel candidato social-democrata, Merkel venceria com folga a eleição (57% a 19%). Já com Schulz, a diferença cai para 43% a 36% a favor dela.
"A vantagem de Schulz é que ele é um candidato 'fresco' e um político carismático", diz Tom Mannewitz, da Universidade Técnica de Chemnitz. Ele lembra que, por integrar a atual coalizão de governo com os conservadores, Gabriel já é uma figura desgastada.
Pouco popular mesmo dentro do SPD, Gabriel foi o fiador da grande coalizão entre os sociais-democratas e o bloco conservador cristão de Merkel, que venceu as eleições de 2013 mas não obteve maioria. Nesta terça-feira, ele criticou a política de austeridade fiscal de Merkel. "Uma consequência dela foi o fortalecimento dos partidos populistas anti-Europa."
A escolha de Schulz indica ainda que uma nova grande coalizão com a direita não será o caminho dos sociais-democratas, que têm acenado para partidos menores e à esquerda, como o Verde e o A Esquerda.
Para Simon Franzmann, cientista político da Universidade Heinrich-Heine de Düsseldorf, não se tratava de escolher alguém para vencer Merkel. "Para o SPD se trata de a eleição não ser um desastre."
"Gabriel cometeu o erro de assumir o cargo de ministro da Economia e Energia. Nessa posição, ele não conseguiu fazer valer as posições caras ao eleitor social-democrata. Melhor teria sido se ele tivesse assumido a pasta do Trabalho", avalia Franzmann.
Ele deve agora buscar o posto de ministro das Relações Exteriores, que ficará vago em fevereiro, quando o atual ministro, o social-democrata Frank-Walter Steinmeier, se candidatar à presidência alemã —chefe de Estado, já que Merkel é a chefe de governo.
Na Alemanha, república parlamentarista, os eleitores não votam em candidatos à Chancelaria, mas sim em deputados para compor o Parlamento Federal. O candidato de cada partido a chanceler, geralmente o líder da sigla, irá governar o país caso o seu partido seja o mais votado —se obtiver maioria, poderá governar sozinho; se não, precisará formar uma coalizão.
As eleições na Alemanha estão marcadas para 24 de setembro. A chanceler Merkel tenta um quarto mandato e ainda é favorita a reeleição. Mas, pressionada pela crise dos refugiados, deve encontrar mais dificuldades desta vez, especialmente depois da ascensão do partido populista AfD (Alternativa para a Alemanha).
A sigla, que é anti-imigração, cresceu nos últimos dois anos e aparece em terceiro lugar nas pesquisas nacionais sobre a eleição de setembro, atrás apenas dos conservadores cristãos e dos sociais-democratas.
A AfD também adota discurso hostil à União Europeia, campo que une Merkel e Schulz —ambos têm uma posição fortemente pró-União Europeia.
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