Após desarmamento, Farc enfrentarão batalha para conquistar eleitores

Crédito: Luis Acosta - 28.fev.2017/AFP Guerrilheiros das Farc descansam em zona de desarmamento em San José del Oriente, na Colômbia
Guerrilheiros das Farc descansam em zona de desarmamento em San José del Oriente, na Colômbia

ANASTASIA MOLONEY
DA REUTERS, EM SAN JOSÉ DE ORIENTE (COLÔMBIA)

Depois de passar a maior parte de sua vida lutando ao lado da guerrilha marxista colombiana, fugindo de ataques aéreos e tratando de rebeldes feridos, Kelly Martinez, 42, enfermeira das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), não tem intenção de abandonar a luta. Mas agora ela combaterá nas urnas e não nos campos de batalha.

As Farc estão dando seu último passo para encerrar a mais longa insurgência da América Latina, e começarão a entregar suas armas às Nações Unidas este mês nos termos do acordo de paz assinado com o governo no ano passado.

Mas sua busca pelo poder continua.

Os rebeldes agora dizem que terão de conquistar corações e mentes e convencer milhões de colombianos de que representam alternativa confiável aos políticos tradicionais, mesmo depois de 50 anos de guerra que matou 200 mil pessoas e deixou milhões de desabrigados.

"Continuaremos a lutar com palavras e não armas", disse Martinez, em um assentamento nas montanhas do norte da Colômbia onde cerca de 160 combatentes das Farc se reuniram para se desarmar.

"Não queremos que mais sangue seja derramado", disse Martinez, que se uniu à organização aos 17 anos de idade, em entrevista à Fundação Thomson Reuters.

A efetividade da reintegração das Farc à vida civil será crucial para uma paz sustentável e para o futuro político da organização, dizem analistas.

Muitos dos homicídios são atribuídos a grupos paramilitares de direita furiosos por as Farc terem escapado a sentenças de prisão e por terem recebido licença para funcionar como partido político.

"O principal medo é que o governo não se livre das organizações paramilitares", disse Aldemar Altamiranda, um dos comandantes das Farc. "Há organizações que já estão se aproveitando do vácuo de poder".

As Farc estão treinando 2.000 rebeldes para protegê-la depois da desmobilização, e o governo deslocou cerca de 70 mil soldados para as áreas antes ocupadas pela organização, a fim de combater gangues de criminosos.

Mas a organização rebelde tem bem enraizado na memória o que aconteceu da última vez que ela tentou entrar na política. Nos anos 80, cerca de cinco mil membros e simpatizantes do Partido de União Patriótica, apoiado pelos rebeldes, foram mortos por organizações paramilitares.

"No passado, os movimentos de esquerda eram encerrados a tiros. Essa história não pode se repetir", disse Altamiranda.

Tradução de PAULO MIGLIACCI.

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