Por trás da cúpula Trump-Kim Jong-un está o presidente da Coreia do Sul

Desde eles, Moon Jae-in pedia conciliação enquanto norte-coreano e americano trocavam farpas

O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, cumprimenta Ivanka Trump, filha mais velha e assessora do presidente Donald Trump, em visita a Seul
O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, cumprimenta Ivanka Trump, filha mais velha e assessora do presidente Donald Trump, em visita a Seul - Kim Min-hee/Associated Press
Choe Sang-Hun
Seul | The New York Times

Desde que foi eleito, em maio de 2017, o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, tem destoado da campanha de "pressão máxima" travada por Washington contra a Coreia do Norte.

Ele defendia negociações ao mesmo tempo em que o presidente Donald Trump ameaçava com "fogo e fúria". Trump chegou, em dado momento, a acusá-lo de buscar a "conciliação".

De repente, porém, parece que a persistência de Moon deu resultados.

A decisão de Trump de aceitar o convite para um encontro com Kim Jong-un, o líder norte-coreano, representa uma vitória diplomática notável para Moon, que arquitetou a aproximação em um vendaval diplomático que começou com a Olimpíada de Inverno, no mês passado, e ganhou ímpeto provavelmente mais rapidamente do que ele previu.

Não apenas Moon conseguiu afastar dois adversários obstinados e erráticos de um conflito militar que teria sido devastador para seu país como manobrou para levar o governo Trump a entrar em negociações que ele e seus aliados da esquerda política sul-coreana defendiam havia muito tempo.

E ele vai preparar o cenário para o possível encontro entre Trump e Kim quando sentar-se com o norte-coreano em um encontro na Zona Desmilitarizada, em abril.

Não está claro se Moon tem um acordo específico em mente para desfazer o impasse. Logo ele terá de entregar o controle a Trump e Kim. Quando o fizer, ele enfrentará riscos diversos.

Entre eles estão o de negociações fracassadas que deixariam a região ainda mais próxima de um conflito militar; concessões por Trump que prejudiquem a segurança da Coreia do Sul; ou, ainda, uma inversão repentina de posição da Coreia do Norte, que tem histórico de recuar de acordos já fechados.

Para Moon, advogado de direitos humanos cujos pais fugiram da Coreia do Norte durante a Guerra da Coreia, a reconciliação na península coreana é uma meta que o acompanha desde sempre.

Moon foi eleito num momento em que Kim estava acelerando seu programa de armas e construindo mísseis capazes de alcançar os EUA.

Trump intensificou a pressão sobre a Coreia do Norte e escalou as tensões com seu discurso beligerante, deixando Moon em descompasso com Washington.

No Ano-Novo, quando Kim aceitou o convite de Moon para enviar atletas à Olimpíada de Inverno em Pyeongchang, Moon agiu logo para favorecer e ampliar a abertura, desencadeando um trabalho diplomático febril.

Oponentes conservadores o chamaram de ingênuo. Mas Moon tem evitado ser visto como demasiado próximo do Norte, dizendo que melhorará a relação com o vizinho contanto que isso ocorra "em paralelo com" avanços na eliminação do arsenal nuclear norte-coreano.

Ao mesmo tempo em que festejou o avanço, Moon disse que o trabalho mal começou. "Vamos tratar esta oportunidade que surgiu como um milagre. Vamos avançar com sinceridade e cautela, mas também sem demora."

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