Descrição de chapéu Venezuela

Fluxo de venezuelanos na Colômbia alimenta xenofobia e tráfico de drogas

Na cidade de Cúcuta, por onde entram os refugiados, abandono de crianças e sarampo preocupam

Sylvia Colombo
Cúcuta (Colômbia) e Buenos Aires

O agente de fronteira colombiano Willy Ortiz explica com naturalidade por que os vendedores de rua não dizem o nome e cobrem o rosto. “Ninguém aqui é independente, todos pagam taxa a ex-paramilitares ou guerrilhas.”

O Exército faz investidas de vez em quando nas trilhas paralelas à ponte, dificílimas de cruzar por causa do mato fechado e do rio, mas é impossível conter a entrada ilegal de tantos venezuelanos.

É por essas “trochas” (passagens clandestinas) que passam os traficantes de drogas, armas e mulheres para a prostituição, e os que recrutam venezuelanos para as bacrim, as quadrilhas colombianas.

O departamento do Norte de Santander, cuja capital é Cúcuta, é hoje um dos que mais produzem cocaína, escoada principalmente pela Venezuela.

Centenas de venezuelanos passam diariamente pela ponte Simón Bolívar, que liga a Colômbia à Venezuela
Centenas de venezuelanos passam diariamente pela ponte Simón Bolívar, que liga a Colômbia à Venezuela - Juan Pablo Bayona / Folhapress

A população local expressou sua discordância com o que Cúcuta se tornou dando 60% dos votos ao direitista Iván Duque no primeiro turno da eleição presidencial colombiana (o segundo será no próximo dia 17).

Diferentemente do rival Gustavo Petro, que quer a fronteira aberta aos venezuelanos por razões humanitárias, Duque propõe controle. 

Na terça (5), ele esteve em Cúcuta e prometeu que, se eleito, imporá mais restrições, mais controle do Exército nas “trochas” e a distribuição forçada dos refugiados para outros departamentos do país. Duque também quer que outros países da região acolham mais imigrantes (o Brasil recebeu 50 mil venezuelanos).

Enquanto a eleição não vem, há relatos de xenofobia, como tentativas de colocar bombas onde venezuelanos dormiam.

A presença do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e do Acnur, braço da ONU para refugiados, e a abertura de albergues por igrejas e particulares mitigaram a situação.

Mas se multiplicam casos de venezuelanas que chegam com filhos pequenos e os deixam na rua, na porta de entidades ou de casas. No fim do ano passado, um bebê foi deixado com um bilhete que dizia: “Sou venezuelana e não tenho como mantê-la. Tem quatro dias e se chama Ángela. Obrigada, Catalina”.

Autoridades colombianas e a Guarda Nacional Bolivariana buscaram a mãe em vão. Outra preocupação é o sarampo, que ressurgiu na Venezuela.

Sem dar conta do controle sanitário, a prefeitura encheu a cidade de cartazes que ensinam a identificar doenças. Falta, porém, política sistemática. Duque e Petro prometem implementá-la.

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