Brasileiro quer se candidatar a prefeito de Tel Aviv

Carioca estuda concorrer, em outubro, para a prefeitura da segunda maior cidade de Israel

Daniela Kresch
Tel Aviv

Ele é o mais proeminente brasileiro na política de Israel. Roberto “Reuven” Ladijanski, 47, nascido no Méier, zona norte do Rio, estuda concorrer, em outubro, para a prefeitura da segunda maior cidade do país, Tel Aviv, símbolo do liberalismo, do secularismo e do empreendedorismo no país. 

Ativista político desde os 22 anos e fundador do partido Seculares Verdes, ele é vereador da cidade há dez anos. Agora, pretende alcançar novos patamares. 

“Quando penso no meu futuro político, vejo a Prefeitura de Tel Aviv”, diz Ladijanski, atual secretário de Meio Ambiente, Urbanismo e Direitos dos Animais da metrópole.

O brasileiro Roberto Reuven Ladijanski, vereador pela cidade de Tel Aviv, posa ao lado do memorial a Ytzhak Rabin
O brasileiro Roberto Ladijanski, vereador em Tel Aviv, deve concorrer à prefeitura da 2ª maior cidade israelense - Daniela Kresch/Folhapress

Ele ainda não bateu o martelo quanto a concorrer no pleito, mas pode decidir em breve diante da incerteza quanto aos candidatos. 

O único que confirmou presença nas urnas é o atual prefeito, Ron Huldai, 74, no cargo há 20 anos. Há boatos de que nomes importantes, como o ministro da Segurança Pública, Guilad Erdan, e o da Ciência e Tecnologia, Ofir Akunis, pretendem tentar.

“Huldai é popular e fez uma reforma muito grande na cidade. Muitos habitantes em Tel Aviv gostam dele e sentem as melhorias. Mas ninguém é perfeito. A cidade precisa de sangue novo”, diz Ladijanski.

Casado e pai de duas crianças, o brasileiro tem uma plataforma básica: a defesa do caráter liberal de Tel Aviv. 

Segundo ele, o balneário, repleto de restaurantes e casas noturnas e conhecido por suas mil startups e como um dos melhores destinos gays do mundo, desempenha um papel importante no país: o de porto seguro para israelenses que desejam se expressar livremente.

“Trata-se de uma cidade plural e aberta. Um jovem decide que quer sair do armário. Ou um artista, de uma cidade da periferia. Eles podem vir a Tel Aviv e realizar sonhos”, diz. “Israel tem a imagem de um lugar só de conflito e conservador. Mas Israel também é Tel Aviv.”

O Conselho Municipal de Tel Aviv —cidade com 450 mil habitantes— conta com 31 membros. Pode ser comparado à Câmara de Vereadores de uma cidade brasileira. Alguns dos conselheiros são vice-prefeitos —espécies de secretários municipais.

Segundo Ladijanski, muitos moradores sentem que os religiosos estão tentando tomar conta dos espaços públicos. Mesmo sendo uma pequena minoria, votam em bloco e conseguem uma grande representação no conselho. 

Assim como o resto do país, Tel Aviv segue regras religiosas como a suspensão do transporte público no sábado judaico e o fechamento obrigatório da maioria do comércio.

“Acredito nos direitos aos seculares, como transporte público aos sábados ou abertura de prédios públicos para eventos, sem contar mercearias em bairros seculares. A maioria da população de Israel é secular. Mas, se não agirmos contra a tentativa dos religiosos de controlar a vida privada de todos, isso poderá mudar”, diz Ladijanski.

Se eleito, ele também pensa em criar um departamento na prefeitura que registre casamentos civis —não reconhecidos pelo rabinato local ou previstos por lei, no país.

Ladijanski começou cedo na política. Aos 15 anos, era o presidente do grêmio de sua escola. Dois anos depois, virou presidente da juventude do Partido Trabalhista. Em 1992, passou a trabalhar como assessor de nomes importantes da política israelense.

Em 2008, fundou um partido próprio, o Deixar viver, com uma agenda pró-direito dos animais e do ambiente. No mesmo ano, concorreu e foi eleito vereador. “Recebi 6.300 votos. É muito, porque ninguém me financiou e eu não fazia parte de um grande partido”, diz Ladijanski, reeleito em 2013 pelo partido Seculares Verdes.

Filho de pai brasileiro de origem polonesa e de mãe israelense de origem romena, ele chegou a Israel aos dez anos. A família se acomodou no sul de Tel Aviv, cidade pela qual ele se apaixonou —não sem antes sofrer com o choque cultural natural.

“O que me ajudou muito a ser recebido aqui pelas crianças foi que eu era do Brasil e sabia jogar futebol.”
O futebol, aliás, é outra paixão. Ele jogou em times israelenses na adolescência. Mas herdou o amor pelo esporte do pai, o jogador Moisés Ladijanski, que, na década de 1950, jogou pelo América (RJ), pelo Vasco e pela seleção de Israel.

“Minha avó dizia que futebol não era para judeu. Então meu pai foi morar em Israel para realizar o sonho de ser jogador profissional. Voltou ao Brasil em 1967, já casado com minha mãe. Três anos depois, eu nasci, e voltamos para Israel em 1980.”

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