Cidade de maioria indígena obtém aval para não votar no México

Município de Cherán foi o primeiro a se rebelar contra a democracia tradicional e se declarar autônoma

Sylvia Colombo
Cidade do México

Não é todo o México que vai às urnas neste domingo (1º). O município de Cherán foi o primeiro a se rebelar contra a democracia tradicional do país e, desde 2011, se declarou uma entidade autônoma, escolhendo seus próprios líderes, de forma independente do calendário oficial mexicano.

Agora, o querem seguir outros municípios do sul do país.A Constituição mexicana permite que isso ocorra, mas apenas em comunidades predominantemente indígenas que queiram se organizar de forma autônoma, e para isso há que se seguir algumas regras.

A população de Cherán, no Estado de Michoacán, tem 20 mil habitantes, a maioria da etnia purepecha. Há sete anos, cansados de sofrer, por um lado, as extorsões dos cartéis, e por outro, o avanço do Exército e das “autodefensas” (milícias civis) em suas terras, transformando-as em campo de batalha contra o crime organizado, expulsou a todas essas forças, a princípio com um levante armado encabeçado por mulheres, com as caras cobertas por lenços brancos.

A população local levou, então, à Suprema Corte do México o pedido de autonomia baseada na origem indígena da maioria da população e conseguiu passar a ser uma entidade autônoma.

Além do cansaço com relação ao avanço da violência, os indígenas reclamavam de que a guerra entre cartéis, Exército e as “autodefensas” (milícias civis) estava diminuindo as áreas de bosques e terras já demarcadas como pertencentes à comunidade.

De posse da autorização judicial, em 15 de abril de 2011, os habitantes de Cherán conseguiram a ordem para expulsar de seu território quem não fosse de ascendência indígena.

Em troca, tiveram que cumprir alguns requisitos, por exemplo, eleger, por meio do voto, um Conselho Maior, formado por doze integrantes da tribo, que controlam a administração local, a segurança e a Justiça e tem um mandato definido.

Cherán vive da agricultura de subsistência e da criação de gado, além de possuir um imenso bosque, que chegou a ter 17 mil hectares (agora tem apenas 8 mil). Sua reclamação principal, antes do pedido de autonomia, era de que os cartéis locais, além de trazer violência, tentar o recrutamento forçado dos indígenas e cobrar extorsão por suas atividades, também avançavam contra os bosques para vender madeira, destruindo o ecossistema local.

Hoje, isso já não acontece, embora o município tenha um sistema de vigilância local bastante reforçado --é muito difícil entrar sem as devidas autorizações, que passam pelo Conselho Maior.

Membros do conselho indígena purepecha em Cherán em maio de 2018 - Alfredo Estrella/AFP

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