Ao menos dois jovens foram mortos em um ataque de forças do governo da Nicarágua contra uma igreja em Manágua, capital do país, onde estão entrincheirados dezenas de estudantes desde a tarde de sexta-feira (13), informou a Igreja Católica do país. Um deles teria levado um tiro na cabeça.
Após mediação do núncio apostólico Stanislaw Waldemar Sommertag, os estudantes puderam deixar o local.
"Fomos informados que temos dois mortos e vários feridos", declarou o cardeal nicaraguense Leopoldo Brenes, ao chegar aos arredores da igreja com o núncio apostólico, Stanislaw Waldemar Sommertag.
Os estudantes morreram baleados na cabeça, um dentro da igreja e o outro atrás de uma barricada.
"Sacerdotes da paróquia da Divina Misericórdia informam que continuam sendo fortemente atacados por policiais e paramilitares. Um jovem foi atingido por uma bala na cabeça e acaba de falecer", afirmou, por sua vez, no Twitter a Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN).
O cardeal Brenes, presidente da CEN, "pede ao governo, que é o único responsável por estas ações, que detenha este massacre contra pessoas dentro da paróquia", acrescenta a mensagem.
Após mediação da igreja, os estudantes puderam deixar o local.
O cerco à paróquia Divina Misericórdia começou na noite desta sexta, após um ataque de policiais e militares à Unan (Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua), onde também havia estudantes entrincheirados. Ao menos dez deles ficaram feridos. A universidade fica ao lado do templo.
Pouco depois do meio-dia de sexta-feira, hora local, policiais antidistúrbios e paramilitares invadiram a Unan para desalojar os manifestantes que permaneciam entrincheirados desde o início dos protestos.
"Querem nos matar!", "Estamos cercados!", gritavam os estudantes, entre o barulho das balas, nos momentos de maior tensão, segundo a transmissão ao vivo de três jornalistas que se encontram também presos na igreja.
Um deles reportou que as autoridades cortaram a luz na região, o que aumenta o temor de uma invasão à igreja.
Pouco antes da meia-noite local, um padre saiu da igreja com uma bandeira do Vaticano na mão para evacuar os feridos graves e o jornalista do Washington Post, Joshua Partlow, que puderam sair depois de uma negociação.
Uma caravana de veículos percorreu durante a madrugada as ruas próximas à igreja e depois um grupo de pessoas iniciou uma vigília, a 1,5 km da área de conflito, em solidariedade aos estudantes.
Os estudantes são a ponta de lança de um movimento que protesta desde 18 de abril contra o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, que governa o país desde 2007, em seu terceiro mandato consecutivo. Os manifestantes acusam Ortega e sua mulher, Rosario Murill, de instaurar uma ditadura no país, marcada por corrupção e nepotismo.
Em três meses de confrontos, o país já registrou mais de 270 mortes e 2.000 feridos, segundo cálculo de grupos humanitários.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro disse que a escalada de violência é inaceitável.
O governo brasileiro deplora os ataques perpetrados, no dia 13/7, pelas forças de segurança e paramilitares, contra estudantes e civis alojados na Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua. A escalada de violência contra a sociedade civil, com agressões físicas a eclesiásticos, jornalistas e defensores dos direitos humanos, é inaceitável. É imperativo que o governo da Nicarágua volte a permitir o trabalho desimpedido do Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes e da Missão Especial de Acompanhamento da CIDH. O governo brasileiro conclama o governo nicaraguense a restabelecer a convivência pacífica, o funcionamento das instituições democráticas e o Diálogo Nacional."
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