Dois jovens são mortos em igreja sitiada por governo da Nicarágua

Manifestantes protestam contra governo de Daniel Ortega

Manágua | AFP

Ao menos dois jovens foram mortos em um ataque de forças do governo da Nicarágua contra uma igreja em Manágua, capital do país, onde estão entrincheirados dezenas de estudantes desde a tarde de sexta-feira (13), informou a Igreja Católica do país. Um deles teria levado um tiro na cabeça.

Após mediação do núncio apostólico Stanislaw Waldemar Sommertag, os estudantes puderam deixar o local.

"Fomos informados que temos dois mortos e vários feridos", declarou o cardeal nicaraguense Leopoldo Brenes, ao chegar aos arredores da igreja com o núncio apostólico, Stanislaw Waldemar Sommertag.

Os estudantes morreram baleados na cabeça, um dentro da igreja e o outro atrás de uma barricada. 

Forças de segurança da Nicarágua cercam igreja durante confronto com manifestantes em Manágua, capital do país
Forças de segurança da Nicarágua cercam igreja durante confronto com manifestantes em Manágua, capital do país - Oswaldo Rivas / REUTERS

"Sacerdotes da paróquia da Divina Misericórdia informam que continuam sendo fortemente atacados por policiais e paramilitares. Um jovem foi atingido por uma bala na cabeça e acaba de falecer", afirmou, por sua vez, no Twitter a Conferência Episcopal da Nicarágua (CEN).

O cardeal Brenes, presidente da CEN, "pede ao governo, que é o único responsável por estas ações, que detenha este massacre contra pessoas dentro da paróquia", acrescenta a mensagem.

Após mediação da igreja, os estudantes puderam deixar o local. ​

O cerco à paróquia Divina Misericórdia começou na noite desta sexta, após um ataque de policiais e militares à Unan (Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua), onde também havia estudantes entrincheirados. Ao menos dez deles ficaram feridos. A universidade fica ao lado do templo.

Pouco depois do meio-dia de sexta-feira, hora local, policiais antidistúrbios e paramilitares invadiram a Unan para desalojar os manifestantes que permaneciam entrincheirados desde o início dos protestos.

"Querem nos matar!", "Estamos cercados!", gritavam os estudantes,  entre o barulho das balas, nos momentos de maior tensão, segundo a transmissão ao vivo de três jornalistas que se encontram também presos na igreja.

Um deles reportou que as autoridades cortaram a luz na região, o que aumenta o temor de uma invasão à igreja.

Pouco antes da meia-noite local, um padre saiu da igreja com uma bandeira do Vaticano na mão para evacuar os feridos graves e o jornalista do Washington Post, Joshua Partlow, que puderam sair depois de uma negociação.

Uma caravana de veículos percorreu durante a madrugada as ruas próximas à igreja e depois um grupo de pessoas iniciou uma vigília, a 1,5 km da área de conflito, em solidariedade aos estudantes.

Os estudantes são a ponta de lança de um movimento que protesta desde 18 de abril contra o presidente da  Nicarágua,  Daniel Ortega, que governa o país desde 2007, em seu terceiro mandato consecutivo. Os manifestantes acusam Ortega e sua mulher,  Rosario Murill, de instaurar uma ditadura no país, marcada por corrupção e nepotismo. 

Em três meses de confrontos, o país já registrou mais de 270 mortes e 2.000 feridos, segundo cálculo de grupos humanitários.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores brasileiro disse que a escalada de violência é inaceitável.

O governo brasileiro deplora os ataques perpetrados, no dia 13/7, pelas forças de segurança e paramilitares, contra estudantes e civis alojados na Universidade Nacional Autônoma da Nicarágua. A escalada de violência contra a sociedade civil, com agressões físicas a eclesiásticos, jornalistas e defensores dos direitos humanos, é inaceitável. É imperativo que o governo da Nicarágua volte a permitir o trabalho desimpedido do Grupo Interdisciplinar de Peritos Independentes e da Missão Especial de Acompanhamento da CIDH. O governo brasileiro conclama o governo nicaraguense a restabelecer a convivência pacífica, o funcionamento das instituições democráticas e o Diálogo Nacional."

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.