Descrição de chapéu The New York Times

Incêndios florestais levam parque Yosemite, na Califórnia, a ser esvaziado

Região, conhecida pelas sequoias gigantes, fica vazia no meio da alta temporada turística

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Mulher está em cima de uma pedra, vizinha a outras similares, enquanto posiciona o celular para tirar uma selfie. Ao fundo, é possível ver uma nuvem de fumaça cobrindo o sol.
Turista tira fotos em um mirante do vale de Yosemite, no estado americano da Califórnia, que foi coberto pela fumaça provocada pelos incêndios florestais - Noah Berger/Associated Press
John Branch Jennifer Medina Henry Fountain
Parque Nacional Yosemite (Califórnia) | The New York Times

Desapareceram os enormes monólitos de granito Half Dome e El Capitan, perdidos sob o manto de uma camada fantasmagórica de fumaça ardida. Sumiram também as cachoeiras que despencam até o fundo do vale de Yosemite, sua famosa beleza totalmente fora de vista. O mais assustador é que sumiram as pessoas.

O vale icônico, geralmente lotado de turistas nesta época do ano, estava envolto na fumaça de um incêndio florestal próximo, de 15 mil hectares, que obrigou à sua evacuação e transformou um dos parques nacionais mais populares dos EUA em uma virtual cidade-fantasma. 

O fechamento, que começou na terça (23) e só tem previsão para terminar no domingo (29), é o maior em quase três décadas no parque. Os visitantes receberam aviso para saírem até as 12h desta quarta (25).

Uma hora depois, a lanchonete, geralmente movimentada, estava apagada, com as cadeiras sobre as mesas. Os estacionamentos estavam vazios. Os campings, abandonados. 

A porta de entrada do famoso hotel Majestic Yosemite, mais conhecido como Ahwahnee, estava trancada com uma corrente.

O incêndio de Ferguson, que está se fechando sobre o Vale de Yosemite, é apenas um de 204 grandes incêndios que se estendem de Oklahoma ao Alasca, segundo o Centro Nacional de Incêndios Interagências, e já custa milhões de dólares.

Milhares de bombeiros estão combatendo as chamas nos estados de Arizona, Colorado, Idaho e Oregon, no que deverá ser um dos verões mais quentes já registrados na maior parte da região.

Em todo o país, quase 1,6 milhão de hectares queimaram até agora neste ano, cerca de 11% a mais que a média anual nesta época do ano desde 2008, segundo o Centro de Incêndios.

“Esta é a minha vida e a minha casa. É de partir o coração”, disse Heather Sullivan, 45, que teve de deixar sua casa em El Portal, no sopé do Vale do Yosemite.

“Esses incêndios são reais, especialmente quando você vive em áreas rurais, e a equipe de bombeiros não consegue chegar lá ainda, por isso eu tinha tudo preparado para sair, em casa e na minha caminhonete. É tão avassalador quando você recebe o telefonema.” 

Apesar de toda a atenção que o incêndio em Yosemite atraiu, a situação era potencialmente mais grave em outros locais, especialmente no Oregon, onde 15 fogos ativos queimaram 44 mil hectares. 

Houve seis mortes relacionadas ao calor em dez dias no início deste mês no condado de Riverside, que se estende cerca de 110 quilômetros a leste da costa da fronteira do Arizona.

Um fogo descontrolado perto de Idyllwild que começou na quarta também provocou desocupação de casas na área montanhosa de San Jacinto.

“Não nos lembramos de ver uma extensão como esta”, disse Jose Arballo, porta-voz do Departamento de Saúde do condado, acrescentando que as cidades na extremidade oeste do condado tiveram temperaturas acima de 46°C durante vários dias.

“Estamos vendo um calor inédito por períodos de tempo prolongados —quando refrescar ainda estaremos na casa dos 30 graus. Não me surpreenderia se houver mais mortes causadas por isso.”

Em Yosemite, muitos trabalhadores se queixaram de doenças relacionadas ao calor e pediram que a gerência fechasse o parque durante vários dias.

O clima combinado com o terreno escarpado de Yosemite também torna difícil para os bombeiros repelirem o fogo. 

“As condições são incrivelmente extenuantes, e estamos vendo temperaturas muito elevadas em algumas áreas extremamente distantes”, disse Dan McKeague, porta-voz do Serviço Florestal dos EUA. 

Cada fogo tem origem e perigos próprios. No Oregon, a sargento Julie Denney, porta-voz do departamento do xerife do condado de Jackson, disse que a tempestade de raios que iniciou o incêndio pouco mais de uma semana atrás foi o que mais a marcou —a intensidade dele, e também a estranheza, no início do dia, por volta das 9h. 

Os raios de verão no oeste são um fenômeno comum à tarde, quando o calor se acumula e de repente há descargas elétricas violentas.

Mas naquela manhã densa e opressiva cerca de 115 incêndios ligados a essa tempestade começaram no condado e no vizinho condado de Josephine, e na quarta-feira três grandes incêndios continuavam queimando, incluindo o do Complexo de Garner. Só este queimou quase 8.000 hectares, com mais de 2.400 pessoas a combatê-lo, e só foi contido em 18%.

No sul do Colorado, antigos bombeiros acostumados a apagar incêndios em arbustos iniciados por fagulhas de trens que passam viram surpresos o incêndio em Spring Creek envolver mais de 40 mil hectares e destruir cerca de 150 casas e outros edifícios em junho.

Chamas e colunas de fumaça com centenas de metros de altura percorreram 15 quilômetros em cerca de 45 minutos, disse Jim Littlefield, presidente da Proteção contra Incêndios do Distrito de La Veta. “Este foi totalmente diferente “, disse Littlefield. “Ele redefine a conflagração para mim.” 

Em Yosemite, reservas de hospedagem e camping foram canceladas até domingo. Enquanto partes das bordas do parque continuavam abertas a visitantes, se eles pudessem evitar as estradas fechadas nos sopés da Sierra Nevada próxima, a entrada no vale de Yosemite na Rodovia 120, de pista dupla, estava bloqueada por vários patrulheiros a cerca de 30 quilômetros do vale propriamente dito. 

Na hospedaria Yosemite Valley, abandonada, as luzes do saguão estavam acesas e continuava tocando a música de jazz que costuma receber os hóspedes. O sinal de Wi-Fi funcionava melhor que de costume.

Os únicos hóspedes esperados para o fim de semana eram os bombeiros, patrulheiros do parque e outros empregados que permaneceram lá.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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