À Justiça, Cristina nega acusações de corrupção e se diz perseguida por Macri

Senadora argentina não respondeu a perguntas e levou depoimento por escrito ao tribunal

Sylvia Colombo
Buenos Aires

Mesmo depois de pedir que a militância kirchnerista desistisse de ir aos tribunais de Comodoro Py, em Buenos Aires, para que sua entrada e saída fossem discretas, a ex-presidente e atual senadora Cristina Kirchner teve de atravessar uma pequena multidão de repórteres, apoiadores e opositores na manhã desta segunda-feira (13), quando compareceu a uma convocação da Justiça.

Cristina Kirchner acena ao sair de tribunal
A ex-presidente e atual senadora argentina Cristina Fernández ao sair do tribunal de Comodoro Py, em Buenos Aires - Alberto Raggio/Xinhua

Cristina foi chamada para defender-se da acusação de fazer parte de um esquema de benefícios a empreiteiros de que teria participado seu governo (2007-2015) e no de seu marido, Néstor Kirchner (2003-2007), já morto.

A ex-presidente apresentou sua declaração por escrito ao promotor Carlos Stornelli e ao juiz Claudio Bonadio. No texto, negou “de maneira definitiva” os casos de que é acusada e disse que, desde que o atual presidente, Mauricio Macri, chegou ao poder, em 2015, ela sofre uma “perseguição judicial”.

Contra Cristina estão abertos também processos sobre a especulação com o dólar-futuro, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e envolvimento em supostos desvios de verba destinada a obras públicas. Nesta última, já está preso o empresário e amigo pessoal do casal, Lázaro Báez, acusado de ser o operador do esquema de desvios e de ter ficado com as principais concessões de obra pública no sul do país.

Cristina também é mencionada nos chamados “cadernos da corrupção”, um conjunto de documentos fotocopiados entregues à Justiça pelo jornal La Nación e que trazem anotações feitas à mão pelo ex-motorista de um funcionário do ex-ministro do Planejamento, Julio De Vido (também preso). Nestas anotações, o chofer Óscar Centeno teria registrado os valores de bolsas de dinheiro entregues a funcionários kirchneristas e a empresários beneficiados.

Cristina Kirchner olha para baixo enquanto é rodeada por jornalistas com microfones
A ex-presidente argentina Cristina Kirchner rodeada por repórteres ao sair de sua casa em direção ao tribunal - Eitan Abramovich/AFP

A senadora pediu ao juiz Bonadio que Macri também fosse chamado a declarar por conta de sua suposta participação no mesmo esquema. Na semana passada, o primo de Macri e também empresário citado no processo, Ángelo Calcaterra, declarou ter dado contribuições em caixa 2 às campanhas dos Kirchner.

Calcaterra é também acusado de ter sido favorecido, durante o kirchnerismo, por meio de sua ex-empresa, IECSA, que era sócia da Odebrecht na obra de soterramento de uma linha de trem da capital.

Cristina afirma que Macri teve “algum tipo de participação nas negociações irregulares que fazia Calcaterra”. Acrescentou, ainda, que está havendo uma “judicialização da política" na Argentina e que Bonadio foi escolhido pelo governo para armar o que ela chamou de “fórum shopping”.

A ex-presidente ficou por volta de uma hora e meia no tribunal e saiu sem responder perguntas. A partir das 18.40, a Polícia Federal começou a realizar uma operação de busca e apreensão no apartamento em que a ex-presidente mora, no bairro da Recoleta, e em outros imóveis do edifício. Cristina não estava, pois logo depois da audiência, havia ido ao Instituto Patria, fundação que dirige, em Buenos Aires.

A busca foi pedida pelo juiz Claudio Bonadio, que ainda encaminhou pedido para que se realizem buscas em suas propriedades em Santa Cruz, no Sul do país, e em seu escritório no Senado. O apartamento de Cristina em Buenos Aires está no nome do irmão de um empresário amigo dos Kirchner, Fabián de Souza, também investigado por corrupção. Ele possui mais de um apartamento no mesmo edifício, na rua Juncal.

A Justiça agora avalia pedir ao Congresso que autorize uma busca e apreensão nas residências de Cristina em Buenos Aires e em Santa Cruz (na Patagônia), assim como em suas outras propriedades e em seu escritório no Senado. Como a ex-presidente é hoje senadora, tem foro privilegiado e esse tipo de decisão tem de ser autorizada pelo parlamento.

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