Ponte desaba no norte da Itália e deixa dezenas de mortos e feridos

Ao menos 26 morrem em queda de viaduto em Gênova, diz o governo; busca por desaparecidos persiste

Roma e Milão | Reuters, AFP e Associated Press

​Um trecho de uma ponte desabou nesta terça-feira (14) durante uma tempestade na cidade de Gênova, no norte da Itália, quando mais de 30 veículos passavam sobre a construção. Segundo o governo em Roma, ao menos 26 pessoas morreram, e há 15 feridos, dos quais 9 correm risco de morte.

A contabilidade, porém, inclui apenas os corpos já recuperados ou os mortos após o resgate, e o trabalho de buscas prosseguia durante a noite para localizar mais desaparecidos. Bombeiros locais, que ao longo do dia anunciaram ao menos 35 mortos, falavam em 29. Dois dos mortos são crianças —um deles, um menino de dez anos.

As autoridades locais investigam as causas do incidente. Durante a escavação dos escombros, quatro pessoas foram retiradas com vida. 

A hipótese aventada para o colapso é que a estrutura do viaduto, que agora será demolido, fosse frágil demais para o tráfego pesado entre bairros industriais da cidade e carecesse de maior manutenção.

O chefe da Defesa Civil italiana, Angelo Borrelli, afirmou que entre 30 e 35 carros e três caminhões estavam no trecho que desabou, que tinha aproximadamente 80 metros de extensão e estava a 45 metros de altura. Segundo ele, a ponte caiu sobre duas casas, que estavam vazias.

Segundo a agência de notícias Associated Press, o desenho da ponte sempre foi alvo de críticas —o professor de engenharia Antonio Brencich,um especialista em concreto armado na Universidade de Gênova, chamava a obra de "fracasso da engenharia" e, já em 2016, defendia sua substituição. Outros especialistas ouvidos pela agência também apontaram a erosão e o clima como complicadores.

O jornal italiano Corriere  della Sera informava que pelo menos 440 genoveses foram retirados de suas casas até 23h locais (18h em Brasília), mas a operação continuaria noite adentro. A defesa civil monitorava 11 prédios na região.

O ministro dos Transportes da Itália, Danilo Toninelli, disse no início da manhã que acompanhava "com grande apreensão o que parece uma grande tragédia". No fim da tarde, o premiê Giuseppe Conte chegou ao local para visitar as vítimas. "É uma tragédia imensa, inconcebível nos dias de hoje", declarou Conte.

Em nota, o governo brasileiro prestou condolência aos familiares das vítimas, à população e ao governo italiano. O Itamaraty informa que não há registro de brasileiros entre as vítimas até o momento.

Para assistência aos brasileiros, a Chancelaria disponibilizou os telefones (61) 2030-8803/8804 no Brasil e, no consulado em Milão, os números +39 02 777 107 1 (seg. a sex, de 8h às 12h30) e + 39 335 727 8117 (emergência).

O incidente é o primeiro teste para o governo populista de Conte, que assumiu em junho com um discurso anti-União Europeia e ministros de pouca experiência ligados à direita radical.

Cerca de 200 bombeiros participam das tentativas de resgate. A queda aconteceu por volta das 11h30 locais (6h30 de Brasília).

A ponte Morandi foi construída em 1967 e passou por uma reforma há dois anos. Em Gênova ela é conhecida como "ponte do Brooklyn", em referência à tradicional construção de Nova York.

As primeiras imagens divulgadas pelos meios de comunicação mostravam a ponte, sem dezenas de metros, em meio a neblina. Bombeiros temem que o desabamento afete as linhas de gás que passam pela região.

Pelo terreno da região de Gênova, um polo industrial e marítimo da Itália que fica entre o mar e a montanha e onde nasceu o navegador Cristóvão Colombo (1451-1506), a rodovia possui longos túneis e viadutos. O trecho que desabou passa por uma zona industrial e também sobre a água.

A Defesa Civil italiana disse que ainda não é possível estabelecer as causas do desabamento. A estrada A10 vai de Gênova até a fronteira com a França e é usada também por moradores das regiões de Piemonte e Lombardia que vão até as praias da Ligúria.

A concessionária responsável pela rodovia, a Autostrade per l'Italia, disse que vai trabalhar com as autoridades para esclarecer o acidente e que não havia nenhuma manutenção programada para o local. A companhia é controlada pela Atlantia, empresa que tem como principal acionista o braço de investimento da família Benetton, dona da marca de roupas homônima. 

Mas segundo Toninelli, o ministro dos Transportes, o governo iria lançar em breve um projeto de 20 milhões de euros (R$ 88,5 milhões) para melhorar a segurança na ponte. Ele classificou o caso como inaceitável e reclamou do estado de conservação do local. 

"Não há manutenção, fiscalização ou trabalho de segurança nas pontes e viadutos da Itália, sendo que a maioria foi construída na década de 1960", afirmou ele, que está no cargo desde o início de junho, quando o novo governo tomou posse.

O ministro do Interior e vice-premiê, Matteo Salvini, aproveitou o episódio para criticar a União Europeia. Segundo ele, as restrições orçamentárias do bloco impedem que a Itália tenha verbas para fazer a manutenção das pontes.

"Devemos nos perguntar se esses limites [orçamentários] são mais importantes que a segurança dos cidadãos italianos. Para mim evidentemente não são", disse Salvini, que é líder do partido de extrema direita Liga e foi eleito com um discurso contrário à UE.​

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