Não podemos jogar os Acordos de Oslo pela janela, afirma negociador

Tratado assinado em Washington há 25 anos não está vencido, segundo o israelense Joel Singer

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Arafat aparece à direita e Rabin à esquerda, enquanto Clinton está no meio, de braços abertos. Ao fundo está uma das paredes da Casa Branca.
O então presidente dos EUA, Bill Clinton, observa o primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin, e o líder da Organização da Libertação da Palestina, Yasser Arafat, se cumprimentarem logo após a assinatura do acordo de Oslo, em 1993 - Gary Hershorn - 13.set.93/Reuters
Washington

Os Acordos de Oslo completam 25 anos nesta quinta-feira (13) e, como em seus aniversários anteriores, devem ouvir de todo o mundo uma mesma avaliação: "estão tão velhos!".

Afinal, já se passou tanto tempo, e o tratado —assinado em 1993 em Washington— ainda não conseguiu resolver o conflito entre israelenses e palestinos.

Joel Singer, 68, tem outra opinião. Ele diz sobre o tratado aniversariante: "ainda é tão jovem!". Está demorando para que os embates sejam encerrados, sim, e para que exista um Estado palestino. Mas é parte do jogo, diz ele, e isso não quer dizer que os Acordos de Oslo estejam mortos.

A afirmação vem qualificada pela experiência de Singer. O advogado israelense era o assessor jurídico de seu governo quando negociou os tratados de 1993. Ele rascunhou o texto firmado, inclusive, e defendeu sua estratégia-chave de fomentar uma paz gradual, etapa por etapa.

Aquele texto, recebido como um sinal do fim das guerras, criou a Autoridade Palestina como uma espécie de governo em parte dos territórios da Cisjordânia, ocupada por Israel desde 1967. A ideia era de que um Estado palestino fosse criado aos poucos. Não aconteceu.

Com a subsequente interrupção das negociações e o assassinato do premiê israelense Yitzhak Rabin em 1995, Singer se exilou nos Estados Unidos e, dizendo-se traumatizado, não deu entrevistas sobre o assunto.

Mas a chegada do 25° aniversário e o lançamento de um documentário ("Os Diários de Oslo", HBO) o convenceram a abrir a boca. "Eu queria deixar tudo aquilo para trás", diz à Folha. "Mas Rabin está morto, assim como o presidente israelense Shimon Peres e o líder israelense Yasser Arafat, que participaram de Oslo. Estou vivo e tenho tanta informação e tantas opiniões sobre aquilo... Quis dividir com os outros."

A volta de Singer ao debate público coincide com um momento delicado. A maior parte dos analistas parecem dar os acordos de 1993 como vencidos, em especial desde a eleição de Donald Trump à Presidência dos EUA em 2016.

O republicano está soterrando alguns dos pontos entendidos pelos palestinos como fundamentais à sua permanência nas negociações, tendo em vista aquilo que tinha sido decidido em Oslo.

Os EUA transferiram sua embaixada de Tel Aviv a Jerusalém, por exemplo, ignorando a convicção palestina de que aquela é sua capital. Trump também cortou fundos da agência da ONU para refugiados palestinos —é central nos Acordos de Oslo a ideia de que a população deslocada pela criação de Israel em 1948 poderá um dia voltar ao território, ainda que parcialmente.

O americano, ademais, retirou o financiamento da Autoridade Palestina e agora quer fechar a representação diplomática palestina em Washington. Parece um ponto final.

Singer discorda. Durante a administração de Barack Obama (2009-2017), os EUA pressionaram Israel para interromper seus assentamentos, sem sucesso. Agora Trump pressiona os palestinos. Mas a influência americana não terá impacto enquanto persistir um problema de base: israelenses e palestinos não querem negociar, segundo Singer.

"O impasse nas negociações não tem nada a ver com a atitude dos EUA ou com a de qualquer outro país", diz. "Para haver diálogo é necessário que as partes estejam interessadas. Nada substitui as concessões que elas precisam fazer. Toda essa pressão que Trump está exercendo nos palestinos não vai fazer com que eles queiram negociar."

"Sabíamos em 1993 o que precisava ser feito e qual era o cenário final, e todo mundo sabe hoje: a criação de dois Estados. Mas é preciso ter coragem nos dois lados, e isso não existia há 25 anos e tampouco existe hoje."

"Sem vontade política, podemos escrever os melhores acordos no papel e eles nunca vão ser implementados", diz.

Mas ele discorda dos outros negociadores, que têm sugerido em público que os acordos de 1993 sejam descartados de vez e deixem de servir de referência à paz. Há alguma expectativa, nesse sentido, de que Trump possa aproveitar seu discurso na Assembleia-Geral da ONU neste mês para sugerir os contornos de uma nova proposta de paz, que por ora não dá indícios de convencer ninguém.

"Não podemos jogar Oslo pela janela e começar do zero. Mesmo que ainda não tenha levado à paz, ainda é por default o arranjo vigente: um governo palestino autônomo governando parte dos territórios", diz Singer.

"Precisamos preservá-lo e construir em cima dele, por exemplo, fortalecendo as forças de segurança palestinas e retirando colonos israelenses dos territórios que sabemos que serão entregues."

"Oslo ainda não amadureceu. São só 25 anos. Não podemos perder a esperança, nem podemos deixar que entre em colapso."

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