Morte de indígena em ação policial gera protestos e renúncia de governador no Chile

Mais de cem ataques foram registrados após morte de mapuche de 24 anos com tiro na nuca

Santiago | AFP

A morte de um indígena no sul do Chile durante uma operação policial desencadeou uma série de protestos pelo país e levou à demissão de chefes da polícia e à renúncia de um governador.

O mapuche Camilo Catrillanca, de 24 anos, foi morto com um tiro na nuca no dia 14 de novembro, quando dirigia um trator ao lado de um adolescente de 15 anos na região da Araucanía.

 
Mulher segura foto de Camilo Catrillanca durante protesto em Santiago, Chile
Mulher segura foto de Camilo Catrillanca durante protesto em Santiago, Chile - Esteban Felix-19.nov.2018/AP

Inicialmente, a polícia e o governador local, Luís Mayol, afirmaram que ele morreu durante um enfrentamento após uma perseguição a suspeitos de roubo de veículos. Eles também disseram que não havia registros da operação, algo obrigatório no Chile. A versão das autoridades foi mudando, até que reconheceram que um oficial destruiu o registro de vídeo.

O episódio reacendeu a tensão na região, epicentro do conflito entre as comunidades mapuches —povos originários que ocupam o sul da Argentina e do Chile— e o governo.

Mais de uma centena de ataques foram registrados na Araucanía e na região vizinha de Biobío desde então. Na capital, Santiago, manifestações em apoio aos mapuches terminaram com intervenções policiais e pessoas detidas.

Após receber fortes questionamentos pela morte de Catrillanca, o governador renunciou na noite de terça-feira (20). Horas antes, uma bancada de deputados havia decidido fazer uma acusação constitucional contra ele, pela forma como ele agiu no caso.

Polícia prende manifestante em ato contra morte de Catrillanca
Polícia prende manifestante em ato contra morte de Catrillanca - Martin Bernetti/AFP

Ao apresentar sua demissão, Mayol disse que a acusação era “produto de interesses mesquinhos de alguns parlamentares que usaram o caso para obter dividendos pessoais”.

Antes disso, dois chefes da polícia e quatro agentes que participaram da patrulha haviam sido destituídos.

Nesta quinta-feira (22), o Instituto Nacional de Direitos Humanos do país, que acompanhou a autópsia do corpo, disse que a bala corresponde àquela usada pela polícia e entrou com uma ação pedindo a investigação do caso inclusive por obstrução da Justiça e pedindo que Mayol seja interrogado.

A ação da polícia na região é questionada há muito tempo. Os mapuches defendem o direito ancestral sobre terras ocupadas por particulares, em sua maioria empresas florestais.

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