Brasileiro superestima em 75 vezes o número de imigrantes no país, diz pesquisa

Entrevistados acreditam que 30% da população é formada por imigrantes; dado real é 0,4%

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São Paulo

Os brasileiros acreditam que o país tem muito mais imigrantes do que realmente tem. É o que mostra pesquisa global divulgada nesta sexta (21), que mediu a percepção da população de 37 países sobre esse e outros temas e comparou as respostas com os dados oficiais.

Segundo os resultados, o Brasil é o quarto país com a percepção mais equivocada em relação à porcentagem de imigrantes, atrás apenas de Colômbia, África do Sul e Peru. O palpite médio dos entrevistados é de que 30% da população é formada por imigrantes, quando o índice verdadeiro é de aproximadamente 0,4%.

Os brasileiros também acham que o país tem muito mais muçulmanos do que tem na realidade. O palpite médio foi de 16 a cada 100 pessoas, quando o dado oficial é de menos de 1%. 

O estudo, chamado “Perigos da Percepção”, é realizado anualmente pelo instituto Ipsos. Em 2018, foram ouvidas 28,1 mil pessoas —no Brasil, foram cerca de mil entrevistados, com margem de erro de 3,1 pontos percentuais. 

Foi avaliado o nível de conhecimento da população em assuntos como crimes, assédio sexual, ambiente, sexo, saúde, economia e população. 

Em termos gerais, o Brasil foi o quinto país com menos noção da própria realidade —os mais alienados são Tailândia, México, Turquia e Malásia. Já foi pior: no ano passado, os brasileiros ficaram na segunda posição. 

Os resultados deste ano mostram que não são só os brasileiros que subestimam os níveis de imigração em seu país. O palpite médio global foi de 28% de estrangeiros na população, quando o número real é menos da metade: 12%.

Os únicos que erraram para menos foram os entrevistados da Arábia Saudita, Singapura e Hong Kong.

Para Elissa Fortunato, pesquisadora na área de migrações na USP e vice-presidente de uma ONG que acolhe imigrantes em São Paulo, o aumento dos fluxos migratórios recentemente no Brasil, principalmente de haitianos, sírios e venezuelanos, pode ter contribuído para a percepção superestimada.

“As pessoas passam a acreditar que aquilo é um problema muito maior do que é. Se as fronteiras onde chegam venezuelanos estivessem mais preparadas para recebê-los, por exemplo, o impacto sobre os serviços públicos seria menor e a percepção das pessoas poderia mudar.” 

Os brasileiros deram palpites mais próximos da realidade na pergunta sobre causadores de mortes violentas. Segundo os palpites, 75% ocorreriam por armas de fogo, 10% por facas e 14% por outros tipos de violência. Os números reais, de 2015, são de 68%, 19% e 13%, respectivamente.

Outra pergunta foi relacionada ao assédio sexual. Entre 13 países que possuem dados disponíveis, os entrevistados acham que 39% das mulheres maiores de 15 anos foram assediadas, quando 60% relatam ter passado por essa situação.

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