Escolha da Time para Pessoa do Ano cita repórter da Folha

Revista lista Patrícia Campos Mello entre exemplos de jornalistas perseguidos em 2018

São Paulo

A revista americana Time, no texto em que apresenta os jornalistas guardiões na busca pela verdade como Pessoa do Ano de 2018, cita a perseguição sofrida pela repórter da Folha Patrícia Campos Mello.

"No Brasil, a repórter Patrícia Campos Mello foi alvo de ameaças após relatar que apoiadores do presidente eleito, Jair Bolsonaro, financiaram uma campanha para disseminar notícias falsas no WhatsApp", afirma o texto da Time.

Reportagem da Folha publicada em outubro mostrou que empresários impulsionaram disparos por WhatsApp contra o PT.

Nos cinco dias seguintes à publicação da reportagem, um dos números de WhatsApp mantidos pela Folha recebeu mais de 220 mil mensagens de cerca de 50 mil contas do aplicativo. Campos Mello recebeu ligações telefônicas com ameaça, e o diretor-executivo do Datafolha, mensagens com o mesmo teor.

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, determinou à Polícia Federal a abertura de um inquérito para apurar os relatos. A investigação está em andamento.

Os advogados da candidatura de Bolsonaro protocolaram em 27 de outubro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) uma ação contra o candidato do PT, Fernando Haddad, sua vice, Manuela D'Ávila (PC do B), o presidente do Grupo Folha, Luiz Frias, a diretora Editorial e de Redação da Folha, Maria Cristina Frias, e a repórter Patrícia Campos Mello.

A ação (chamada de Aije, Ação de Investigação Judicial Eleitoral) pede liminar para que sejam apresentados documentos formais relacionados à reportagem "Empresários bancam campanha contra o PT pelo WhatsApp".

Um dia após ser eleito, Bolsonaro voltou a atacar a Folha e afirmou que "por si só, esse jornal se acabou".

"Esses são novos tempos, realmente novos tempos", afirmou à Time Cristina Zahar, secretária-executiva da Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo). "E os jornalistas precisam encontrar maneiras de lidar com isso." Para ela, "com a polarização, a crença na sua própria verdade se fortaleceu, e não importa se o que outros dizem é uma mentira".​

A Time cita outros casos de jornalistas ameaçados em 2018, como Victor Mallet, editor para Ásia do jornal Financial Times expulso de Hong Kong após convidar um ativista contrário a Pequim para falar em um evento, e a jornalista do Sudão Amal Habani, presa após cobrir protestos contra o governo. Ela ficou detida por 34 dias e foi torturada.

De acordo com o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), 262 foram presos em 2017, número recorde que a organização estima que será ainda maior neste ano.

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