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Fórum Econômico Mundial

Bolsonaro transmite superficialidade em teste fácil na estreia

Nervoso, presidente toca violino para plateia e escamoteia seu lado mais polêmico

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São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro (PSL) tocou o violino como a plateia em Davos quis ouvir em seu primeiro contato com uma audiência no exterior, mas reforçou a impressão generalizada de agentes econômicos de que o mandatário transpira superficialidade.

O presidente Bolsonaro fala na abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos
O presidente Bolsonaro fala na abertura do Fórum Econômico Mundial, em Davos - Fabrice Coffini/AFP

Se não falou a palavra "posto Ipiranga", apelou a similares ao responder às perguntas previsivelmente dóceis de Klaus Schwab, o fundador do fórum em Davos. Deu respostas tão seguras quanto genéricas: Sergio Moro terá todas as condições para combater a corrupção, o Brasil não é um monstro desmatador de florestas, as reformas econômicas são a prioridade (quando e quais enviará, a ver).

 
Mesmo instado a detalhar como ajudaria a promover a recuperação econômica do país, Bolsonaro evitou comprometer-se demais. Em modo agente da Embratur nos anos 1980, conclamou os presentes a visitar as maravilhas do Brasil, o Pantanal, a Amazônia.

Some-se a isso ao uso de menos de 10 dos 45 minutos disponíveis para se apresentar no tão esperado discurso e a imagem ficou cristalizada. Ali, as palavras tinham a densidade de um programa de campanha eleitoral. Não ajudou muito Bolsonaro o fato de estar visivelmente nervoso, mexendo-se de lado a lado durante a fala, lida.

Apenas duas notas dissonantes ao concerto apresentado por violino lembraram a plateia das características potencialmente hunas do novo governo, para ficar na expressão renegada pelo seu vice, general Hamilton Mourão.

A primeira, de resto água com açúcar perto do que o público brasileiro se acostumou a ouvir do presidente, foi a referência a "família", "direito à vida e à propriedade". Davos, por todo o poder e dinheiro que acolhe, é um fórum que gosta de se vender como progressista nos costumes —vide a presença de popstars com discursos bacanas sobre como salvar a África da miséria em edições passadas.

Ainda assim, não surgiu um Bolsonaro criticando movimentos migratórios. Nem a coleção de impropérios ao chamado globalismo que impregna as manifestações do chanceler Ernesto Araújo, ainda que tenha soltado seu empenho em combater a "esquerda bolivariana" na América Latina.

O presidente falou novamente em evitar "viés ideológico" nas suas tratativas comerciais, mas nenhuma palavra sobre o embate entre China e EUA. Zero a zero. Por outro lado, a já decidida manutenção do Brasil nos Acordos de Paris curiosamente não surgiu, sendo trocada por platitudes defensivas acerca da conservação do ambiente no país.

Outra nota fora do tom foi a versão amputada e adaptada do lema de sua campanha, agora "Deus acima de tudo" —a metade tropicalizada do "Deutschland über alles" talvez pegasse mal na Europa. É de se imaginar o que os poderosos presentes acham de tal apelo religioso, tão ao agrado de sua base evangélica em casa.

Tudo somado, Bolsonaro passou num primeiro teste fácil, mas perdeu a oportunidade de causar uma boa impressão. A bola está com Paulo Guedes, Sergio Moro e companhia.

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