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Geopolítica e armas nucleares marcam crise entre Índia e Paquistão

Conflitos pela Caxemira já renderam três das quatro guerras travadas entre os países desde 1947

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Soldado indiano fotografa destroços de uma aeronave da Índia
Soldado indiano fotografa destroços de uma aeronave da Índia que caiu no vilarejo de Garend Kalan de Budgam, a 34 km de Srinagar, uma das maiores cidades da Caxemira indiana - Javed Dar/Xinhua
São Paulo

Desde a Guerra Fria, permeia a doutrina de emprego de armas nucleares a sigla inglesa MAD, Destruição Mutuamente Assegurada, de quebra significando também “louco” naquela língua.

Era a garantia de que tanto EUA quanto a então União Soviética não se enfrentariam diretamente, pois o conflito poderia escalar de forma imprevisível para o uso de armas nucleares e, bom, o mundo como conhecido acabaria.

Essa ideia de dissuasão sofreu vários golpes ao longo dos quase 75 anos da era atômica. Um dos principais ocorreu em 1999, na mesma Caxemira em que Índia e Paquistão se estranham agora.

Escaramuças fronteiriças sobre a disputada região já renderam três das quatro guerras travadas entre os países desde que os dois Estados emergiram da Índia britânica, em 1947. Em 1999, por dois meses, pela primeira vez governos armados com a bomba atômica se enfrentaram.

Ainda é incerto o rumo dos acontecimentos, disparados provavelmente pelo premiê indiano, o nacionalista hindu Narendra Modi, precisando de apoio popular antes de enfrentar eleições em abril. Mas o risco está no ar.

Vinte anos atrás, os EUA pressionaram ambos os países a acabar com a guerra. É senso comum no Paquistão que os protocolos para uso de armas atômicas foram ativados ao menos uma vez durante a crise —isto é, as ogivas foram deslocadas para perto dos mísseis de médio alcance que as transportam.

A Índia é um gigante militar, embora sofra com diversos problemas de suprimento e manutenção.

Usa equipamento soviético antigo e russo moderno, mas também material ocidental diverso —eram franceses Mirage os 12 aviões que o país disse ter usado para atacar grupo extremista do lado paquistanês na terça (26).

O vizinho e rival é menos equipado, mas nem por isso um Davi na disputa. Seus 654 mil soldados (quase dobro do que o Brasil) podem ser metade do efetivo indiano, mas são mais bem treinados. Boa parte de seu material bélico mais moderno é chinesa, refletindo a mudança geopolítica de 20 anos para cá.

Com o início da chamada guerra ao terror, em 2001, os EUA se aproximaram ainda mais de Islamabad. A relação sempre foi de desconfiança, e desmoronou recentemente.

Hoje, de US$ 1,5 bilhão que recebia em média de assistência militar de Washington nos anos 2000, o Paquistão só ganha US$ 100 milhões.

A Índia virou parceira prioritária dos americanos. A China, rival global dos EUA e regional dos indianos, viu a oportunidade e investiu em infraestrutura civil e militar no Paquistão. Até um caça conjunto foi desenvolvido, o JF-17.

Nas simulações de uma guerra convencional, o Paquistão sozinho tende a perder. Mas aí é que entra o MAD.

O país detonou sua primeira bomba atômica em 1998. Vinte e quatro anos antes, o premiê Zulfikar Ali Bhutto (pai da primeira-ministra assassinada Benazir Bhutto) havia prometido que os paquistaneses comeriam grama, mas repetiriam o feito nuclear indiano.

O país acelerou a corrida. Tem 150 ogivas, além de diversos modelos de mísseis.

Nova Déli tem 140, o que gera um equilíbrio que analistas temem ser precário: a perspectiva de uma derrota poderia levar o Paquistão a empregar a arma em um dos locais mais densamente povoados do mundo.

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