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Barganha de Trump-Bolsonaro traz ganhos econômicos, mas é sinal político complicado

Entrada do Brasil em clube de países ricos traria respeito dos mercados globais

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São Paulo

Em termos econômicos, a barganha acertada entre o presidente Jair Bolsonaro e seu colega Donald Trump, dos Estados Unidos, é um bom negócio para o Brasil.

O país troca algo com poucos ganhos concretos —o tratamento especial e diferenciado na Organização Mundial de Comércio (OMC)— por vantagens mais palpáveis —o apoio americano à entrada na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

O tratamento especial e diferenciado na OMC garante ao Brasil condições mais favoráveis em acordos comerciais: prazo maior de implementação, patamares maiores de subsídios, entre outras.

Isso fez diferença lá atrás, logo na criação da OMC, quando as principais regras do jogo comercial foram criadas. Daqui para frente, tende a ter pouquíssimo impacto prático. E isso é jogo jogado.

Não adianta imaginar, por exemplo, que os demais países vão aceitar que nações como China, Índia ou Brasil tenham tratamento especial em acordos, por exemplo, de comércio eletrônico.

Já a entrada na OCDE significa um selo respeitável para os mercados globais. Tem potencial de atrair investimentos para cá e, com a economia em passos lentos após a maior recessão da história, estamos precisando muito.

Fazer parte da OCDE também forçará o Brasil a adotar padrões globais de governança que melhorem as práticas do setor público. E o mais importante: garantirá ao país um lugar na mesa.

É da organização com sede em Paris que saem boa parte dos parâmetros depois adotados globalmente para uma série de áreas, como, por exemplo, o setor financeiro. Melhor participar da negociação do que aceitar as regras depois.

Logo, qual é o problema dessa troca? Estamos falando da questão política. Ao aceitar o fim do tratamento especial e diferenciado na OMC, o Brasil ajudará os EUA a colocarem enorme pressão para que países como China, Índia, México, Argentina e outros de renda média façam o mesmo –ou seja, ficará em lados opostos aos seus “pares”. E Pequim é o verdadeiro alvo dos americanos aqui.

Sem um selo oficial de que essas são nações ainda em desenvolvimento, fica mais fácil para os EUA cobrarem compromissos duros em diferentes fóruns e questões tão distintas quanto câmbio, ambiente, energia nuclear etc. 

Brasil, China ou Índia não estão entre os países mais pobres do mundo, como o Kiribati, o Haiti ou Burkina Faso, mas tampouco são a Noruega. Esses três gigantes ainda têm milhões de miseráveis e não podem se esquecer disso.

Resumindo: a barganha de Trump pode valer a pena, desde que feita com atenção e cautela para minimizar o impacto político e evitar ganhar, mas não levar. Afinal, o pior dos mundos seria mudar o status na OMC e não entrar na OCDE. Nas negociações internacionais, um lado só deve avançar quando o outro também caminhar. 

 
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