Escalada militar na Líbia preocupa comunidade internacional

Milícia do general Khalifa Haftar tem avançado contra o governo e ameaçado negociações de paz da ONU

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Trípoli e Benghazi

A ofensiva militar do general Khalifa Haftar contra a capital da Líbia, Trípoli, tem provocado manifestações de preocupação da comunidade internacional, que reconhece o governo de união nacional, que controla a cidade, como legítimo.

A milícia de Haftar, o Exército Nacional Líbio, baseada no leste do país, tem avançado desde quinta (4) contra o governo, numa tentativa de tomada de poder. O movimento ameaça as negociações de paz que a ONU tem procurado mediar para resolver as disputas pelo domínio do país.

guterres, tradutora e haftar
António Guterres (esq.), secretário-geral da ONU, se encontra com o general Khalifa Haftar em Benghazi, Líbia, na sexta (5) - Reuters

O confronto entre facções e milícias rivais pelo controle da Líbia vem dilacerando o país desde a derrubada de Muammar Gaddafi em 2011.

Forças do governo investiram contra o avanço do Exército rebelde, que já capturou três cidades nos arredores de Trípoli, com ataques aéreos e enfrentamento por terra ao sul da capital. O chefe do governo líbio, Fayez al-Sarraj, acusou Haftar de traição e prometeu “uma resposta com força e firmeza”, alertando contra “uma guerra sem vencedores”. 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, esteve em Trípoli e Benghazi nesta semana, e a instituição anunciou no sábado (6) que tem intenção de manter a conferência programada para ocorrer na cidade de Ghadames entre 14 e 16 de abril, com vistas a negociar a realização de eleições para tirar o país da instabilidade institucional.

O enviado especial da ONU para a Líbia, Ghassan Salame, afirmou que está fazendo esforços para que a crise não saia de controle. “Trabalhamos por um ano nessa conferência internacional, não vamos desistir tão rápido desse trabalho político”, disse. 

Representantes de Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e União Europeia —reunidos para um encontro do G7— afirmaram que, caso Haftar não interrompa a ameaça contra o governo de Trípoli, pode sofrer uma ação internacional.

Em encontro do grupo na França, o ministro alemão Heiko Maas afirmou que ele e seus colegas concordaram em pressionar os responsáveis pela escalada no conflito líbio, especialmente o general. A Rússia também exortou o militar a se conter e insistiu em uma resolução política para as disputas do país.

Mesmo com os apelos da comunidade internacional, as forças de Haftar não cessaram a ofensiva contra a capital.

O general de 75 anos é um antigo oficial do Exército do ditador Gaddafi e chegou a receber apoio da CIA (a agência americana de inteligência). 

Em 2014, ele anunciou que planejava unificar a Líbia sob seu controle e passou os três anos seguintes lutando para capturar a cidade de Benghazi, que estava sob domínio de milícias islâmicas. Com apoio estrangeiro, conseguiu estabelecer controle sobre boa parte da porção leste do país. 

Quando a Líbia se esfacelou em uma guerra civil, também em 2014, a ONU, com apoio dos EUA, tentou resolver o conflito criando um governo de união sediado em Trípoli, comandado por al-Serraj.

O governo de Haftar criou certa estabilidade no território que dominava, e surgiu algum equilíbrio entre o governo de Trípoli, no oeste, e o do general, no leste, que se desfez dois meses atrás, quando as forças de Haftar avançaram pela primeira vez para o deserto no sul do país e tomaram o controle do campo de petróleo Sharara, um dos maiores da Líbia.

Analistas previram, então, que era só questão de tempo até que o general avançasse contra a capital do país, buscando criar uma aura de inevitabilidade quanto a sua ascensão como próximo homem forte da Líbia. 

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