O Museu Americano de História Natural em Nova York, no qual seria realizada a premiação de “Pessoa do Ano” para o presidente Jair Bolsonaro, afirmou nesta sexta-feira (12) que aceitou a reserva antes de saber quem era o homenageado e está “avaliando as opções”.
“A reserva do museu para a realização do evento externo, privado, em homenagem ao atual presidente do Brasil foi feita antes que se soubesse quem seria o homenageado. Estamos profundamente preocupados, e estamos avaliando nossas opções", publicou o museu em sua conta oficial em uma rede social.
A cerimônia de premiação de Bolsonaro como “Pessoa do Ano”, organizada pela Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, está marcada para 14 de maio. O local do evento, até o momento, é o Museu Americano de História Natural.
A Folha questionou o museu sobre quais seriam as preocupações em relação a Bolsonaro e que opções estão sendo avaliadas.
Em nota, a assessoria afirmou que o evento em homenagem ao presidente brasileiro não reflete "de nenhuma maneira" as posições do museu em relação à proteção da Floresta Amazônica.
"Estamos profundamente preocupados, e o evento não reflete de nenhuma maneira a posição do museu de que há uma necessidade urgente de conservar a Floresta Amazônica, que tem profundas implicações para a diversidade biológica, comunidades indígenas, mudanças climáticas, e o futuro saudável do nosso planeta."
O prefeito de Nova York, o democrata Bill de Blasio, pediu ao museu que não recebesse Bolsonaro e criticou o que considera ser posições homofóbicas e racistas do presidente, além de seu dicurso sobre a Amazônia.
Em uma entrevista à rádio WNYC nesta sexta, o apresentador, Brian Lehrer, perguntou ao prefeito se o museu deveria aceitar a realização do evento, considerando que a entidade recebe recursos públicos para se manter.
"Isso [homenagear Bolsonaro] vai além de uma mera ironia e chega a ser uma contradição chocante. Esse cara é um ser humano muito perigoso", respondeu de Blasio.
"[Bolsonaro] é perigoso não só por causa de suas posições abertamente homofóbicas e racistas, mas porque ele é, infelizmente, a pessoa com a maior capacidade para definir o acontecerá com a Amazônia no futuro, e se a Amazônia for destruída, uma vez que ela parte do nosso ecossistema global, todos nós estaremos em perigo", disse.
O prefeito afirmou que respeita o direito à liberdade de expressão e que, por isso, era uma questão difícil para ele.
"Mas há um bom argumento quando se trata de uma instituição pública e de alguém que está fazendo algo visivelmente perigoso. Eu fico desconfortável com essa situação, e peço ao museu que não permita que ele seja recebido lá", concluiu ele.
Bolsonaro e seus principais auxiliares têm um discurso considerado controverso sobre aquecimento global e a necessidade de preservação do meio ambiente.
O ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente), por exemplo, disse que a discussão sobre aquecimento global é inócua e secundária, enquanto Ernesto Araújo (Relações Exteriores) já classificou o debate como "trama marxista".
No Twitter, muitos usuários comentaram a publicação do museu pedindo que a instituição “cancele” a realização da cerimônia no local.
“Como pesquisador brasileiro, é revoltante que um indivíduo que despreza a ciência como ele seja homenageado por uma instituição científica. Vocês precisam cancelar pelo bem dos pesquisadores brasileiros, ele está literalmente nos fazendo deixar o país", comentou o usuário identificado como Alexandre Palaoro.
Quando a escolha de pessoa do ano foi anunciada, o presidente comemorou em suas redes sociais e disse que se sentia honrado em receber o prêmio.
Aliados de Bolsonaro nos EUA já preparam um roteiro da viagem do presidente ao país para receber a homenagem em um jantar de gala.
Querem que, além do jantar, ele participe de outros compromissos na cidade, mas nada ainda foi fechado.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também estará em Nova York para uma palestra a empresários e investidores.
Todos os anos, a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos escolhe duas personalidades, uma americana e outra brasileira, e as homenageia diante de cerca de mil convidados, com entradas ao preço individual de US$ 30 mil. O nome do americano homenageado neste ano ainda não foi divulgado.
Em comunicado divulgado em fevereiro, a Câmara diz que a escolha de Bolsonaro como pessoa do ano é um “reconhecimento de sua intenção fortemente declarada de fomentar laços comerciais e diplomáticos mais próximos entre Brasil e EUA e seu firme comprometimento em construir uma parceria forte e duradoura entre as duas nações.”
Em março, Bolsonaro esteve em Washington para diversos encontros com personalidades alinhadas a seu campo ideológico conservador e uma reunião com o presidente americano, Donald Trump.
No ano passado, o eleito foi Sergio Moro, hoje ministro da Justiça.
A personalidade americana escolhida em 2018 foi Michael Bloomberg, ex-prefeito de Nova York e dono de uma das maiores fortunas dos EUA.
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