Ditador do Sudão é deposto pelo Exército após três décadas no poder

Forças Armadas instituem conselho militar de transição e suspendem a Constituição; Omar al-Bashir foi preso

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Cartum (Sudão) | AFP e Reuters

As Forças Armadas do Sudão destituíram nesta quinta (11) o ditador Omar al-Bashir, que estava no poder há três décadas, anunciou o ministro da Defesa, Awad Mohamed Ahmed Ibn Auf.

"Anuncio, como ministro da Defesa, a queda do regime e a prisão de seu chefe em um lugar seguro", disse ele em um canal público de televisão. Segundo a agência Reuters, o ditador foi mantido na residência presidencial, sob forte esquema de segurança.

Bashir, 75, que enfrentava manifestações ininterruptas nos últimos quatro meses, liderava o país com mão de ferro desde que chegou ao poder com um golpe em 1989. "Nós o substituímos [o ditador] por um conselho militar de transição por dois anos e suspendemos a Constituição do Sudão de 2005", prosseguiu o ministro Ibn Auf. Esta junta de transição será liderada por ele.

O general decretou também estado de emergência pelos próximos três meses e ordenou o fechamento do espaço aéreo do país por 24 horas e das fronteiras terrestres por tempo indeterminado. Ele disse que o conselho militar declarou um cessar-fogo nacional, que inclui a zona de guerra de Darfur, o estado do Nilo Azul e o estado de Korforán do Sul, onde o regime luta contra minorias étnicas rebeldes.

Dezenas de milhares de pessoas comemoraram, dançando e cantando slogans anti-Bashir nas ruas da capital Cartum. Mas alguns líderes de protestos rejeitaram as medidas anunciadas pelos militares, argumentando que a atitude foi um "golpe de Estado liderado pelo regime".

"O regime organizou um golpe militar apresentando as mesmas caras contra as quais o nosso povo se rebelou", disse a Aliança pela Liberdade e Mudança em um comunicado, que pedia que as manifestações continuassem em frente à sede das Forças Armadas em Cartum.

Milhares de pessoas participaram dos protestos no local, que prosseguiram durante todo o dia, apesar do toque de recolher imposto pelos militares na capital.  

Uma parte dos manifestantes demandou que o poder fosse passado para os civis, e escreveram em suas roupas mensagens contra o ministro da Defesa. 

País africano de língua árabe localizado ao sul do Egito, o Sudão vivia desde 19 de dezembro uma onda de protestos pela queda do ditador, que chegou ao poder em 1989 por meio de um golpe militar que derrubou Sadiq al-Mahd, eleito democraticamente.

Um dos motivos que deram início aos protestos foi a crise econômica —a inflação subiu para 70% nos últimos anos. O país perdeu importantes receitas com petróleo após a independência do Sudão do Sul, conquistada em plebiscito em 2011. O estopim das manifestações foi o aumento do preço do pão, cujos subsídios haviam sido cortados pelo governo.​ 

Mas, apesar dos protestos, o regime de Bashir era apoiado por países da região. Seu partido, o Movimento Islâmico, é alinhado ideologicamente com a Turquia e o Qatar. 

Em 1996, o Sudão teve eleições presidenciais e parlamentares contestadas. Havia 40 candidatos concorrendo para tirar Bashir do poder, mas grupos de oposição consideravam as eleições injustas. Devido à guerra civil no sul do país, não houve votação em 11 regiões. 

De acordo com o resultado final da apuração dos votos do restante do Sudão, Bashir saiu vencedor naquela ocasião e declarou que o governo continuaria seguindo preceitos islâmicos e que não haveria retorno a uma política de partidos durante seus próximos anos no poder.

​O regime de Bashir é também acusado de alienar as comunidades não muçulmanas do Sudão, cuja população é de 40 milhões de habitantes. Além disso, recaem contra ele acusações de massacres e estupros coletivos cometidos pelo Exército em Darfur, na região sudoeste, em um conflito que já deixou mais de 300 mil mortos (a maioria não-árabe) desde 2003.

Bashir é considerado foragido pelo Tribunal Penal Internacional, em Haia (Holanda), responsável por julgar crimes contra a humanidade.

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