Descrição de chapéu Diplomacia Brasileira

É inaceitável que embaixador da China endosse ofensa a chefe de Estado do Brasil, diz Ernesto

Eduardo Bolsonaro comparou pandemia do coronavírus ao acidente nuclear de Tchernóbil

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Brasília

O ministro Ernesto Araújo (Relações Exteriores) respondeu as críticas feitas pelo embaixador da China no Brasil, Yang Wanming,​ a declarações do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e disse ser "inaceitável" que o chinês endosse postagens ofensivas ao presidente Jair Bolsonaro, mas acrescentou que a fala do parlamentar não reflete a opinião do governo.

"É inaceitável que o embaixador da China endosse ou compartilhe postagem ofensiva ao chefe de Estado do Brasil e aos seus eleitores, como infelizmente ocorreram ontem à noite. As críticas do deputado Eduardo Bolsonaro à China, feitas em postagens ontem à noite, não refletem a posição do governo brasileiro", escreveu Ernesto em nota publicada em suas redes sociais nesta quinta-feira (19).

Yang fez duras críticas na noite de quarta (18) a Eduardo, filho do presidente Jair Bolsonaro, por causa de declarações sobre a pandemia do coronavírus, e exigiu que o parlamentar se desculpasse.

No dia anterior, Eduardo comparou a pandemia do coronavírus ao acidente nuclear de Tchernóbil, na Ucrânia, em 1986. As autoridades, à época submetidas a Moscou, ocultaram a dimensão dos danos e adotaram medidas de emergência que custaram milhares de vidas.

"As suas palavras são um insulto maléfico contra a China e o povo chinês. Tal atitude flagrante anti-China não condiz com o seu estatuto como deputado federal, nem a sua qualidade como uma figura pública especial", escreveu o embaixador em resposta.

Ernesto disse ter comunicado ao embaixador "a insatisfação do governo brasileiro com seu comportamento" e afirmou que o governo tem expectativa de uma retratação às postagens.

Além de postagens de Yang, o perfil no Twitter da Embaixada da China no Brasil republicou uma mensagem em que um usuário dizia que a família Bolsonaro é "o grande veneno deste país", mas apagou o post depois.

​Embora as publicações de Yang não tenham qualquer menção direta a Bolsonaro, o chanceler brasileiro criticou a ofensa ao presidente.

"Cabe lembrar, entretanto, que em nenhum momento ele [Eduardo] ofendeu o chefe de Estado chinês. A reação do embaixador foi, assim, desproporcional e feriu a boa prática diplomática."

O ministro afirmou ainda que o Brasil quer manter "as melhores relações com o governo e o povo chinês, promover negócios e cooperação em benefício recíproco, sem jamais deixar de lado o respeito mútuo" e acrescentou que conversará tanto com o deputado quanto com o embaixador para "promover um reentendimento recíproco".

O chanceler brasileiro em evento na Guatemala - Luis Echeverria/Reuters

Nas postagens feitas na noite de quarta, o embaixador chinês indicou como destinatário, além de Eduardo, os perfis de Ernesto, do presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, e o perfil institucional da própria Câmara.

Na manhã desta quinta, Yang postou em sua conta no Twitter que havia recebido um “telefonema de ameaça” sobre a sua segurança pessoal e que esta não era a primeira a vez. “Vamos ver o que vai acontecer hoje, bem preparados para tudo”, acrescentou.

O post, que não citava o nome de Eduardo nem fazia referências diretas a nenhum oficial, foi apagado logo em seguida.

Numa outra mensagem na quarta, Yang afirmou que "a parte chinesa repudia veementemente as suas palavras, e exige que as retire imediatamente e peça uma desculpa ao povo chinês. Vou protestar e manifestar a nossa indignação junto ao Itamaraty e [à Câmara dos Deputados e ao seu presidente, Rodrigo Maia, e ao ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo]".

A conta oficial da embaixada chinesa reproduziu as mensagens e publicou uma outra, afirmando que o deputado, "ao voltar de Miami, contraiu, infelizmente, vírus mental, que está infectando a amizade entre os nossos povos".

Numa terceira mensagem, o embaixador tocou no mesmo tema e afirmou que as palavras do deputado "vão ferir a relação amistosa" dos dois países.

A China é o maior parceiro comercial do Brasil. Em 2018, 26,7% das exportações brasileiras tiveram a China como destino —Pequim lidera o ranking dos países compradores dos produtos brasileiros, segundo o Ministério da Economia. Entre 2003 e 2019, Pequim investiu US$ 79 bilhões no Brasil.

Quando ainda era candidato, Bolsonaro fazia críticas ao país asiático, mas foi mudando de postura ao longo do governo. Coube ao seu vice, general Hamilton Mourão, fazer uma aproximação entre os dois países.

Também nesta quinta, Mourão disse à Folha que a fala de Eduardo não reflete a postura do governo brasileiro. O presidente Jair Bolsonaro não se manifestou sobre o assunto.

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